A injustificada invasão da Ucrânia por parte da Russia mudou o mundo nas últimas semanas. E mesmo algumas áreas, a princípio pouco relacionadas com um conflito bélico, acabaram sendo afetadas. Talvez o caso mais emblemático seja o time de futebol inglês Chelsea, atual campeão mundial de clubes. Por conta das sanções impostas a seu dono, o bilionário russo Roman Abramovitch, o clube está à venda.
E o impacto das sanções a oligarcas e bilionários russos não ficou restrito ao futebol. A guerra na Ucrânia teve consequências também para o mundo do vinho. A Domaine Ganevat, famosa vinícola da região do Jura e vendida no final de agosto de 2021 ao russo Alexander Pumpyansky, agora voltará à família de Jean-François Ganevat. O enólogo se uniu a Benoit Pontenier, diretor do Prieuré Saint-Jean de Bébian, vinícola do Languedoc, para comprar essas duas vinícolas que pertenciam ao russo até pouco depois da invasão da Ucrânia.
Vinícolas em mãos russas
O bilionário Alexander Pumpyansky, baseado na Suiça, tem uma longa relação com o mundo do vinho. Em 2008, adquiriu a Prieuré Saint Jean de Bébian, confiando a Benoit Pontenier a administração da vinícola. Mas seu movimento de maior repercussão foi a aquisição em 2021 da Domaine Ganevat, um dos mais respeitados nomes do vinho de baixa intervenção da França.
Na época, Jean-François Ganevat deixou bem claras suas intenções, em uma entrevista para a Revue des Vins de France. “As videiras, os edifícios, o estoque de vinhos ao longo de várias safras, o negóce, estou vendendo quase todas as minhas atividades, inclusive meu nome. Minha filha Florine, que tem 32 anos, não está interessada na videira e meu filho Antide tem apenas 8 anos. Difícil manter a vinícola na família. É um momento decisivo na minha vida, faz meu coração doer, mas é uma grande oportunidade”.
Um novo cenário
O conflito na Rússia mudou completamente este cenário. Antes do anúncio do bloqueio de suas atividades na Europa, Pumpyansky decidiu rapidamente vender seus negócios no vinho. As duas vinícolas poderiam ter sofrido perdas comerciais significativas com a decisão de congelar os ativos europeus de personalidades russas. “Alexander Pumpyansky liberou o controle sobre todos os seus bens para não bloquear as atividades”, especificou Pontenier. A operação ocorreu em 4 de março, apenas alguns dias antes das sanções.
Alexander Pumpyansky vive com sua família na Suíça, em Genebra, há cerca de vinte anos. O empresário é filho de Dmitry Alexandrovich Pumpyansky, presidente da PJSC Pipe Metalurgical Company, um fabricante russo de tubos de aço para a indústria de petróleo e gás. E suas ligações com Vladimir Putin são conhecidas. Em 24 de fevereiro de 2022, dia em que a ofensiva russa na Ucrânia começou, Putin recebeu representantes do mundo dos negócios no Kremlin. Entre eles estava Dmitry Pumpyansky.
Compra definitiva ou mudança temporária de dono?
Muita gente, sobretudo na França, mostrou certo ceticismo com a forma na qual a transação foi realizada. Benoit Pontenier e Jean-François Ganevat foram diretamente avisados (ambos gerem o dia-a-dia das vinícolas) por Pumpyansky e decidiram, então, rapidamente criar uma empresa para poder comprar as duas propriedades.
Pontenier explicou a situação, em entrevista para a rede France.tv “Vamos assumir o controle de ambas as propriedades porque Alexander Pumpyansky queria entregá-las a pessoas de sua confiança.” Foi assim que a Domaine Ganevat retornou à família de Jean-François Ganevat e sua irmã Anne, “pela força da circunstância” como admitiu Pontenier. O futuro? Pontenier deixou algo claro: “Vamos ficar endividados por décadas…”. Mas talvez o futuro definitivo seja decidido mais à frente, dependendo do que acontecer nos campos de batalha da Ucrânia ou nos bastidores da diplomacia europeia.
Imagem: albacajado via Pixabay
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