Eslavônia e Hungria: carvalhos com história e qualidade

Carvalho francês ou carvalho americano? Esta é uma pergunta cuja resposta desperta polêmica. Mas sem entrar na infindável disputa entre os dois estilos, é importante saber que existe uma terceira via. O mundo dos barris e do envelhecimento dos vinhos cada dia mais reconhece a importância do carvalho de alguns países da Europa do Leste.

Novidade? Não, nem de longe. Pouca gente sabe que até a década de 1930 o carvalho que era mais utilizado nos châteaux de Bordeaux vinha da Rússia ou da Hungria, e não da França. Além disso, quem gosta de um bom Barolo e outros vinhos do Piemonte deve saber que boa parte destes vinhos são envelhecidos em botti de carvalho da Eslavônia, que é uma região no nordeste da Croácia.

Espécie ou origem?

Vamos novamente tomar cuidado com a distinção entre, de um lado, espécies de carvalho e, de outro, a região onde estão as florestas. O carvalho que é normalmente usado no envelhecimento de vinhos e que vem de florestas na Croácia, Hungria e outros países do Leste Europeu quase sempre pertence às mesmas espécies presentes na França: Quercus Robur e Quercus Petrae. Assim, em linhas gerais, o carvalho da Europa do Leste é muito mais próximo do francês do que do americano. Mas certamente tem suas peculiaridades.

Da mesma forma que fizemos quando analisamos as regiões onde é plantado o carvalho francês, vale a pena fazer uma distinção entre as regiões da Europa do Leste que atualmente fornecem carvalho para o mercado de vinhos finos. E aí o foco será em duas regiões: a Eslavônia e a Hungria.

Eslavônia

Como já mencionado, a Eslavônia é uma região no nordeste da Croácia. Para quem gosta de história, era conhecida como Panônia pelos antigos romanos, e mostra uma longa tradição com madeira. Boa parte da madeira para a construção da frota naval da República de Veneza, uma das maiores de sua época, vinha de florestas nas regiões hoje entre Croácia e Sérvia.

Os barris de carvalho da Eslavônia vem sendo procurados ao longo do tempo por vinícolas de toda a Europa, mas sobretudo da Itália. Mas por que? As florestas da Eslavônia tem alta concentração da espécie Quercus Robur. Ela tem granulação menos fina e é mais neutra, em termos de compostos aromáticos, do que o Quercus Petraea. Além disso, é mais comum a presença de barris maiores (enquanto a barrique bordalesa comporta 225 litros, o tradicionais botti italianos vão de 1.000 a 10.000 litros).

E estes são elementos chave para a qualidade dos Barolos e outros tintos tradicionais italianos: este tipo de carvalho e o tamanho dos barris retardam a micro-oxigenação, trazem uma aeração suave e, como consequência, exigem mais tempo e paciência. A combinação destas técnicas e barris com uvas tânicas, como a Nebbiolo, traz maior estrutura e permite um longo potencial de envelhecimento de garrafas.

É sempre importante lembrar que quanto maior o barril, menor é o contato da madeira com o vinho, reduzindo a absorção de taninos da própria madeira pelo vinho. O resultado, mesmo para uvas de tanino mais alto, é um vinho com sabores mais sutis e taninos mais macios. Esta parece ser uma combinação de sucesso.

Hungria

Partindo para olhar mais de perto os carvalhos da Hungria, existem duas regiões principais: Mecsek, no sudoeste do país, próximo à Eslavônia e à região vinícola de Villány; e a parte nordeste, mais especificamente Zemplén, que fica perto da famosa região de Tokaji, berço de um dos vinhos de sobremesa mais cobiçados do mundo.

A floresta Mecsek tem um solo fértil e um clima mais quente que Zemplén. Tem presença das duas espécies de carvalho, Quercus Robur e Quercus Petraea, com maior proporção da primeira. Os barris feitos com carvalho desta floresta, geralmente, dão notas mais doces e uma influência de sabor mais leve do que os da floresta de Zemplén. Em um paralelo com as regiões da França, lembra a região de Limousin. A Quercus Robur requer condições mais favoráveis, como solos mais ricos, mais chuva, mais influência marítima e menor altitude.

Zemplén, por sua vez, apresenta condições muito diferentes. Para muitos, é uma verdadeira jóia escondida na hora de falar dos melhores carvalhos do mundo. A altamente conceituada floresta de Tronçais, na França, tem uma proporção de Quercus Petraea com mais de 80% das árvores. Já nas Colinas de Zemplén, as florestas são cerca de 95% a 100%, possivelmente a maior proporção de uma floresta de grande porte no mundo.

Portanto, se você for ler a informação de que um vinho foi envelhecido em barris de carvalho húngaro, não torça o nariz. Apesar de serem mais baratas que o carvalho francês, existem excelentes opções de carvalho na Europa do Leste. Quem gosta e entende de vinhos deve sempre manter a cabeça aberta para coisas novas ou pouco divulgadas.

Fontes: The Buyer.net; Food and wine.com; GuildSomm.com; Langhe.net; KadarHungary.com

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