Safra 2023 em risco: míldio devasta vinhedos em Bordeaux e na Itália

Recordes de temperaturas e um verão escaldante. Esta é a descrição que as manchetes recentes trazem sobre o clima na Europa. Porém, a primavera em boa parte do Velho Continente, incluindo algumas regiões vinícolas importantes, foi mais fria que o normal e particularmente chuvosa e úmida. Estas condições terão profundas implicações sobre as características da safra 2023.

A umidade excessiva certamente foi o maior problema até agora, pois ela é a maior causadora de doenças fúngicas nos vinhedos. As principais delas, como míldio e oídio, afetam tanto a qualidade como a quantidade de uvas. Dependendo da gravidade da infestação, ela pode resultar em queda significativa da produção e/ou prejudicar a integridade das uvas, resultando em vinhos de pior qualidade. E, ao menos em duas regiões, o impacto sobre as videiras é praticamente sem precedentes.

Bordeaux

Um verdadeiro desastre, com medidas paliativas que vão desde financiamento extra para combate ao míldio até uma helpline para atender produtores desesperados. Um comunicado da Câmara de Agricultura da Gironda (CA33) descreve a gravidade da situação, com palavras amargas. “Na memória dos viticultores, nunca tínhamos visto isto: o míldio não poupou ninguém este ano e assumiu proporções inigualáveis”, completando com “alguns viticultores já perderam tudo”.

Na rede de 86 parcelas de vinhedos monitorados pelo CA33, “90% das vinhas foram afetadas, em maior ou menor escala”, acrescenta o instituto técnico, apontando no clima “a combinação de calor e umidade durante várias semanas”. O diretor da divisão de vinha e vinho da CA 33, Laurent Bernos, estima que 92% a 95% das parcelas apresentam sintomas significativos nas uvas, com frequência de ataque na casa de 55% nos cachos.

São várias causas, com destaque para o efeito predominante do clima, após dois meses muito chuvosos. Mas há agravantes, incluindo a menor eficácia de certos princípios ativos. Inicialmente com maior incidência sobre as parcelas de Merlot, o míldio afeta agora as vinhas de Cabernet Sauvignon. “Quando o mofo toma conta, é difícil de lidar. A impotência é difícil de aceitar”, completa Bernos. Ainda não há estimativas para as perdas, mas certamente farão de 2023 uma das menores da história recente na região.

Itália

Após sofrer as consequências de uma seca histórica em 2022, os viticultores italianos passam por um novo drama este ano: o excesso de chuvas e a explosão dos casos de contaminação por míldio.  Esta doença fúngica encontrou as condições climáticas perfeitas para atacar as videiras, especialmente nas regiões do Adriático (Puglia, Abruzzo e Molise), mas a presença também é significativa na Basilicata, Úmbria, Lazio e Toscana.

Já nas regiões do norte da Itália, mais acostumadas a lidar com este problema, o impacto parece ter sido menor. Por outro lado, a incidência do míldio na Sicília foi a surpresa negativa, resultado de condições que, nas palavras de viticultores da região, não eram vistas há décadas. Eduardo Torres Acosta, vinicultor no Etna, acredita que cerca de 70% de suas videiras tenham sido duramente afetadas. Nesta região meridional da Itália, o mês de maio é normalmente quente e seco, algo não visto em 2023.  

Parece difícil, neste momento, fazer estimativas precisas. Porém, o Observatório da União Vitivinícola Italiana (UIV) indica perdas na produção de até 40%, sobretudo para viticultores que adotam a agricultura orgânica. Vale lembrar que os tratamentos orgânicos contra o míldio consistem basicamente em aplicações de cobre e enxofre, que devem ser refeitas caso haja um clima chuvoso, que traz mais vulnerabilidade às videiras.

Fontes: Vitisphere; The Drinks Business; WineNews

Imagem: MustangJoe via Pixabay

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