Passopisciaro: vinhos do Etna com diferentes variedades e propostas

Uma região única e com longa tradição na viticultura, mas sem elaborar vinhos de grande expressão por muito tempo. Este era o quadro do Etna até o início da década de 2000, quando um grupo de visionários decidiu mudar para sempre a história do vinho na região. Entre eles, estava Andrea Franchetti, um romano que, antes de produzir vinhos na Toscana e no Etna, trabalhou como importador de vinhos italianos nos Estados Unidos.

Nascia a Passopisciaro, atualmente um dos produtores mais tradicionais do Etna e um dos poucos que combina duas propostas aparentemente conflitantes. De um lado, elabora boa parte de seus vinhos tintos a partir de uvas autóctones, como a Nerello Mascalese. De outro, porém, vinifica também uvas francesas, com destaque para Chardonnay e Petit Verdot.

Criando um conceito

Após o sucesso obtido, no final da década de 1990, pelos seus vinhos da Tenuta del Trinoro, em Val d’Orcia, na Toscana, Franchetti quis reproduzir sua experiência no sul da Itália. Curiosamente, a sugestão pela região do Etna veio de forma quase descompromissada de um amigo. Porém, Franchetti rapidamente se apaixonou, após sua primeira visita em 2000.  Identificou uma antiga propriedade a quase 1.000 metros de altitude, logo acima do vilarejo de Passopisciaro, daí o nome escolhido para a vinícola.

Totalmente abandonada, esta propriedade (construída em 1860) foi restaurada e até hoje sedia a vinícola. Os vinhedos foram replantados a partir de 2002 e suas escolhas refletiram sua experiência com uvas francesas: plantou 1,5 hectare de Petit Verdot e 4 hectares de Chardonnay (era uma grande fã dos vinhos de Chablis). Em paralelo, porém, adquiriu também vinhedos de Nerello Mascalese.

Foi a partir da uva tinta tradicional do Etna que elaborou seu primeiro vinho em 2001: o Passopisciaro (que teve seu nome alterado para Passorosso a partir de 2013, por conta de disputas quando ao uso do nome do vilarejo no rótulo). As uvas provinham de vinhas velhas (50 a 100 anos) localizadas na Contrada Rampante, situada a quase 1.000 metros de altitude.

Vinhedos

A Passopisciaro conta atualmente com cerca de 28 hectares, levando em conta vinhedos próprios e arrendados (que respondem por cerca de 25% da produção). Além da área de cerca de 1,4 hectare na Contrada Rampante, a Passopisciaro também tem presença em outras importantes Contrade do Etna, como Guardiola (mais de 7 hectares próprios, localizados a 800 a 1.000 metros de altitude), Sciara Nuova (850 m), Porcaria (650 m) e Chiappemacine (580 m). Estas uvas são usadas para elaboração de seus vinhos de Contrade, além do seu tinto de entrada. Em todos eles, a uva principal é a Nerello Mascalese.

A localização das Contrade

Os vinhedos plantados por Franchetti em 2002 seguem ativos, com as variedades Petit Verdot e Chardonnay. Deste modo, a Nerello Mascalese responde por aproximadamente 80% da área plantada. Em termos de agricultura, a Passopisciaro cultiva seus vinhedos de forma orgânica , porém sem certificação. Ela dá ênfase à maior concentração das uvas, buscando reduzir rendimentos (que varia de acordo com a linha de vinhos), através do uso de uma poda verde diferenciada.

Vinhos

Atualmente a Passopisciaro conta com 10 cuvées diferentes, com produção de cerca de 110 mil garrafas ao ano. Duas delas são produzidas a partir de uvas brancas e oito a partir de variedades tintas. Seu vinho de entrada branco é o Passobianco, um monovarietal de Chardonnay. Produzido desde 2007 e anteriormente chamado Guardiola, tem produção anual na faixa de 30 a 40 mil garrafas. Já o PC Contrada Bianco, cuja primeira safra foi em 2018, tem mais contato com as cascas e seleção mais criteriosa de uvas. Sua produção gira em torno de 6.000 garrafas.

Os vinhos da Passopisciaro

O Passorosso é o tinto de entrada, também com produção em torno de 40 mil garrafas/ano. Ainda com a Nerello Mascalese, são cinco vinhos de Contrada, conceito introduzido a partir da safra 2008 e com produção total de aproximadamente 24 mil garrafas. São eles: Contrada R (Rampante), Contrada G (Guardiola), Contrada S (Sciara Nuova), Contrada P (Porcaria) e Contrada C (Chiappemacine). Cada um deles apresenta características e estilos distintos, reflexo das diferenças de terroir.

Por fim, dois vinhos fecham sua linha. O primeiro deles e atualmente o mais exclusivo de todos seus vinhos é o Franchetti, um corte de Petit Verdot e Cesanese d’Affile (variedade originária do Lazio, usada para “amansar” a uva francesa). Em 2019 foi lançado o 20 Anni Franchetti, um blend de Nerello Mascalese com uvas das principais Contrade. De todos estes vinhos, somente o Passorosso é engarrafado como Etna DOC, os demais saem como Terre Siciliane IGT.

Vinificação

Contando com colheita manual e uvas de cultivo orgânico, o trabalho em adega acaba sendo minimizado. Os brancos têm suas uvas refrigeradas (a 10 graus) por uma noite, a maioria com cachos inteiros. A fermentação (8 a 10 dias) ocorre em tanques de inox, com uso de leveduras selecionadas. Os vinhos passam para botti e cimento com suas lias, onde ocorre a fermentação maloláctica e estabilização, sendo engarrafados sem filtração. No caso do PC Contrada Bianco, a fermentação ocorre em botti de carvalho, onde o vinho fica por 10 meses.

Vincenzo Lo Mauro na sala de botti

Para os tintos, há um controle de rendimentos diferente entre as várias cuvées. No caso dos vinhos de Contrade, são cinco a seis cachos por plantas, com oito a nove para o Passorosso. A colheita ocorre cerca de 30 a 45 dias depois das brancas, com uvas plenamente maduras. Na adega, 100% de desengace, com fermentação em tanques de inox, seguida por maloláctica e estágio de 18 meses em botti. As exceções são o Passorosso (18 meses em cimento e botti) e o Franchetti, que passa de seis meses em barricas francesas e 12 meses em cimento.

Nome da VinícolaPassopisciaroEstabelecida2001Website https://www.vinifranchetti.com/passopisciaro/EnólogoVincenzo Lo MauroUvasNerello Mascalese, Chardonnay, Petit Verdot, Cesanese d’AffileÁrea de Vinhedos28 haSede da VinícolaPassopisciaro (Sicília)Denominações de OrigemTerre Siciliane, Etna RossoPaísItáliaAgriculturaOrgânica não certificadaVinificaçãoConvencional

Fontes: Entrevista com o produtor, website da vinícola

Imagens: Arquivo pessoal e Passopiciaro

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