A Pineau d’Aunis é um dos pequenos tesouros escondidos da viticultura francesa. Apesar de ter sido popular no passado, hoje é uma variedade praticamente restrita ao vale do Loire, sobretudo nas sub-regiões centrais, como Anjou e Touraine. Chamada por muito tempo de Chenin Noir, ela, porém, não tem qualquer parentesco com a uva branca símbolo destas sub-regiões, a Chenin Blanc.
Apesar de ser permitida em cortes em diversas denominações de origem em Touraine, Saumur e Anjou, é no vale do rio Loir (não é erro de grafia, é um outro rio que fica ao norte do Loire) que ela assume papel preponderante. Em denominações de origem como Coteaux du Loir e Coteaux Vendomois ela é a principal uva tinta. Seu cultivo é maior em áreas onde a Cabernet Franc não atinge as condições de maturação ideal.
Deste modo, quem quiser provar monovarietais de Pineau d’Aunis tem duas opções. A primeira é comprar vinhos destas denominações de origem, algumas inclusive disponíveis no mercado brasileiro. Alternativamente pode escolher exemplares de Vins de France originário de outras áreas do Loire. Nestes casos, diversos produtores (como Thierry Puzelat e Philippe Tessier, por exemplo) notaram a qualidade de potencial e optaram por vinificá-la como monovarietal, fora das normas das denominações de origem onde atuam.
Nome e origem
Esta variedade recebeu seu nome em função do formato de seus cachos, que lembram uma pinha (pin, em francês) e da província de Aunis, que fica na costa Atlântica francesa, entre o Loire e Bordeaux. Por conta disso, existem diversas teorias sobre sua origem, embora acredite-se que seja autóctone do oeste da França. Uma teoria por muito tempo discutida colocava sua origem no vale do Loire, mas especificamente em torno da Abadia de Aunis, que, todavia, não tem referências históricas.
Já o autor Michel Freyssinet acredita que Pineau d’Aunis pode ter se originado na região de Vendée, situada logo ao norte da província de Aunis. Ela teria sido levada para região norte do Loire (cercanias de Anjou) por mercadores de sal navegando pela costa Atlântica. De acordo com Freyssinet, a videira teria sido plantada em Chahaignes, próximo ao rio Loir (onde até hoje é bastante popular). Estudos do arqueólogo Henri Galinié também parecem indicar a origem desta variedade na costa Atlântica da França.
Características e vinhos
É uma variedade com cachos compactos e de tamanho médio, com grãos pequenos e vigor mediano. Por conta da compactação de seus cachos, tende a ser sensível à podridão cinza. Além disso, se mostra também suscetível à clorose, que pode ocorrer em solos com alta proporção de calcário. É uma uva de difícil cultivo, por conta da falta de homogeneidade na maturação de seus cachos (amadurece cedo se houver muito calcário e tarde se houver muita argila). Estas condições levaram à sua substituição no passado, sobretudo após a filoxera, por muitos viticultores.
Seus vinhos são geralmente leves e de coloração mais clara, o que a faz ser bastante usada para a produção de vinhos rosé ou mesmo espumantes. É uma variedade que necessita de controle estrito de rendimento para gerar vinhos de qualidade. Normalmente os vinhos mostram boa presença de fruta, alta acidez, taninos presentes, picância e notas de especiarias, sobretudo pimenta branca. Para alguns degustadores, muitos de seus vinhos mostram textura que lembra uvas como Gamay ou Poulsard.
Área plantada e nomes alternativos
A Pinot d’Aunis tinha cerca de 450 hectares plantados na França em 2018, concentrados no norte do Loire (sobretudo em torno de Anjou e na Touraine). Assim como outras uvas francesas menos internacionalizadas, é uma variedade que vem perdendo espaço nos vinhedos franceses. Em 1958, eram 1.741 hectares de videiras, caindo para 645 hectares em 1988.
Apesar de ter sua área de vinhedos praticamente restrita à França (há pequenos lotes na Austrália e Califórnia), ela recebe vários outros nomes. São eles: Aunis (em Loir-et-Cher), Brune Noir, Chenin Noir (partes do Vale do Loire e California), Côt á Bourgeon Blanc, Côt á Queue Rouge, Gros Pineau, Gros Véronais, Kek Chenin, La Brune Noire, Mançais Noir, Pineau, Pinot d´Aunis, Plant d´Aunis, Plant de Mayet e Shenen.
Fontes: Plant Grape – Pineu d’Aunis; Le Pineau d’Aunis, Recherches sur l’histoire des c´epages de Loire, Henri Galinié; Loire Master Level Study Manual, Wine Scholar Guild;Loire Valley Wine Economic Report, Vins de Loire
Imagem: InterLoire Patrick Touchais
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