Escândalo na Champagne: condições análogas à escravidão e mortes mancham a safra 2023

Após os lamentáveis eventos envolvendo vinícolas na Serra Gaúcha no início deste ano, mais um escândalo relacionado às condições dos trabalhadores mancha o mundo do vinho. Desta vez, a acusação de condições análogas à escravidão afeta a Champagne, região que produz os espumantes mais disputados do mundo.

O Ministério Público francês abriu duas investigações sobre possível tráfico humano. Isso ocorreu após encontrar 52 catadores de uva na Champagne vivendo em condições completamente inadequadas e sem documentos. Além de condições sanitárias precárias, as autoridades francesas também observaram instalações elétricas abaixo dos padrões mínimos. Isso representava um risco adicional para os 52 trabalhadores, originários do Senegal, Mali, Mauritânia, Guiné e Gâmbia.

Condições desumanas

Alguns trabalhadores filmaram as condições e deram declarações à imprensa. Eles teriam sido recrutados em Paris, com a promessa de receber € 80 (cerca de R$ 425) por dia para colher uvas em Champanhe, mas não teriam sido pagos. Eles teriam recebido apenas um saco de arroz e alguns cachos de uvas para comer.

Em entrevista ao jornal l’Humanité, um dos trabalhadores descreveu as condições enfrentadas. “Passávamos calor durante o dia e frio à noite”, afirmou Mahamadou, que veio do Mali para a França colher uvas. “Não comíamos muito, como cachorros, dormimos como ovelhas, nos lavávamos com água fria. Éramos tratados como escravos. Os banheiros estavam entupidos, cheirava muito mal. Sofremos muito”. Após as denúncias, o Exército de Salvação reabrigou os trabalhadores em hotéis em Châlons-en-Champagne e Reims.

Histórico de abusos

Esta não foi a primeira ocorrência de abusos na região. No início de setembro, as autoridades francesas encontraram 18 catadores de uva búlgaros alojados em condições potencialmente perigosas em Cuis, perto de Epernay. Durante a safra de 2018, mais de 200 trabalhadores estavam sujeitos a condições análogas à escravidão. No julgamento do caso, em 2020, seis pessoas e três empresas foram condenadas.

Em 2023, porém, o caso de abuso de trabalhadores não foi o único incidente lamentável em Champagne. Cinco trabalhadores, em episódios não relacionados ao caso descrito acima, faleceram durante o período da colheita. O último, ocorrido em meados de setembro, ocorreu em uma tenda em Verzy. Revelado pelo sindicato CGT, o caso está em análise pelas autoridades, que seguem “a hipótese de uma morte de origem médica, em sentido lato” e vai “verificar as condições de trabalho e alojamento da vítima”.

Reações

Não há informações precisas sobre em quais vinhedos os abusos teriam ocorrido. Desta forma, não se sabe ainda quais produtores da Champagne estariam envolvidos. A posição do sindicato de trabalhadores diante dos eventos, porém, foi clara. “Os responsáveis pelas Maisons de Champanhe, ávidos por cada vez mais lucros, apelam aos prestadores de serviços que empregam empregados estrangeiros, muitos deles sem documentos, para realizar o trabalho de colheita”. Em entrevista para a agência AFP, José Blanco, secretário geral da CGT, resume a reação em uma frase. “Todo mundo fecha os olhos porque é a uva mais cara do mundo”

O Syndicat Général Des Vignerons de la Champagne (SGV), sindicato que reúne os produtores da região, divulgou nota sobre o assunto em suas mídias sociais. Para Maxime Toubart, presidente da SGV, “ninguém deve perder a vida durante a colheita. Nossos pensamentos para os familiares dos catadores falecidos…. além disso, é essencial que os excessos e comportamentos inaceitáveis parem. É nossa responsabilidade coletiva”.

Fontes: Vitisphere; Decanter; Vitisphere; Syndicat Général des Vignerons de la Champagne; Euronews

Imagem: SplitShire via Pixabay

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