Quatro Pinot Noir 2021 de vinhedos distintos, Arte da Vinha

A Pinot Noir, sendo delicada e “sentimental”, é uma das variedades que talvez melhor reflita as variações de terroir. Além disso, considerada como uma das uvas ancestrais europeias, conta com diversos clones distintos, escolhidos por enólogos para elaborar vinhos desta uva com características diferentes. Com isso em mente, foi muito educativo provar a série de quatro Pinot Noir da safra 2021 da Arte da Vinha.

Eduardo Zenker adotou as mesmas técnicas de vinificação para quatro vinhos (todos de minúscula produção, apenas 260 garrafas cada), elaborados a partir de terroirs e clones distintos. Com uvas de cultivo convencional de vinhedos de terceiros, o roteiro foi o mesmo. Uvas 100% desengaçadas, 24 horas de maceração a frio com gelo seco (média de 4 a 10 graus), 20 dias de maceração com uma remontage por dia em tanque aberto. Descuba e prensagem direta para barrica de carvalho francês de quarto uso. Atestos semanais e envase por gravidade, com um ano de barrica.

A seguir as peculiaridades (informações fornecidas pela Arte da Vinha) e percepções de cada vinho:

Coxilhas de Piratini 2021, 11%

Solos de granito, xisto e guaises, a 380 metros de altitude com intrusões mineralizantes de estanho. Clone obscuro que veio através da Salton. Provavelmente um clone alemão com cacho alado solto e bagos grandes levemente ovoides.

Um vinho fresco e bem leve, em um estilo que lembrou os europeus de clima frio. Abriu com discreta redução, que se dissipou e abriu espaço para aromas de frutas vermelhas, especiarias, ervas verdes e raiz. Com alta acidez, taninos leves e notas de frutas vermelhas azedinhas, repetiu no palato o toque mais verde. Um digno vin de soif.

Campos de Cima de Vacaria 2021, 11%

Solos de basalto, a 970 metros de altitude, com clone francês 777 e uvas das matrizes do viveiro da Rasip. Um Pinot Noir equilibrado e com muita tipicidade desta variedade, foi um dos destaques do painel (total de oito vinhos degustados às cegas, com mais dois vinhos brasileiros e outros dois sul-americanos, somente Pinot Noir da safra 2021). Olfativo rico, com aromas de couro, fruta vermelha fresca e especiarias – pinosidade na essência. Boca com boa acidez, corpo médio, taninos discretos e fruta um pouco mais madura. Delicioso.

Encostas de Monte Belo,11%

Solos de basalto, a 600 metros de altitude. Clones de Pinot italianos e franceses para espumante, com uvas provenientes de viticultor que vende para a Chandon. Deste grupo de quatro, o vinho com pegada mais “selvagem”. Talvez valesse a pena entender se foi questão desta garrafa em particular. Olfativo com redução e acidez volátil mais intensa, escondendo notas de frutas vermelhas e erva seca. Na boca, se comportou melhor, com alta acidez, taninos e fruta picante, corpo baixo a médio e boa estrutura e discretas notas verdes.

Coxilhas de Encruzilhada, 11%

Solos de granito, a 430 metros de altitude, clone de espumante do viveiro Rauscedo (Itália). Assim como o primeiro, começou com discreta redução, que abriu espaço para notas de frutas vermelhas picante e ervas verdes. No palato, trouxe alta acidez, taninos e fruta picantes, corpo médio e menos estrutura, um Pinot Noir leve e fácil de beber.

Conclusões

Na comparação com os outros vinhos do painel, mesmo às cegas foi relativamente simples detectar o estilo do vinhateiro. Entre os quatro vinhos, porém, se notou diversas variações. Elas pareceram, à primeira vista, decorrentes mais dos clones usados do que das condições de terroir, como solo e altitude. Um exercício muito interessante, evidenciando como o sul do Brasil tem condições para dar origem a monovarietais de Pinot Noir elegantes e mais austeros, que fogem bastante das características de “vinhos de deserto” de alguns de nosso vizinhos sul-americanos.  

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