Os vinhos do Jura são mais conhecidos por qualidade que por quantidade. Em 2019 a produção total da região foi de 117 mil hectolitros, o que corresponde a cerca de 15,5 milhões de garrafas. Para colocar em perspectiva, este volume é cerca de dois terços da produção de vinho de apenas uma das sub-regiões da Borgonha, a Côte Chalonnaise. Mas, como diria o velho ditado, tamanho não é documento.
Apesar da pequena produção, o Jura mostra uma enorme diversidade em estilos de vinhos. Além dos tradicionais brancos, rosés e tintos, a região é conhecida também por seus destilados de uvas e vinhos especiais, como Macvin, Vin Jaune e Vin de Paille. Em termos geográficos, são quatro denominações de origem distintas, com destaque para Arbois, a mais conhecida e que normalmente lidera também em termos de volume.
Longa história e ascensão
Arbois é a cidade de origem de Louis Pasteur, considerado por muitos como o pai da enologia. Porém, o histórico do vinho nesta parte do Jura é muito mais antigo. A tradição de vinhedos teria começado na época galo-romana, mas as primeiras referências documentadas datam do século XXI. Há evidências de que o senhor de Salins, Othon IV, e seus sucessores, e Filipe, o Audaz, Duque da Borgonha, possuíam grande parte dos vinhedos de Arbois no século XIII.
Após um período de instabilidade política, no qual a região mudou de mãos entre dinastias europeias, a década de 1750 marcou o início de um período de expansão. A Savagnin era a uva branca mais valorizada, embora a Chardonnay tenha mostrado expansão por conta de sua produtividade. Na década de 1850, o Jura chegou a cerca de 20 mil hectares de vinhedos, com três uvas em destaque: Pinot Noir (mais de 4 mil hectares), seguida por Chardonnay e Poulsard. A título de comparação, o Jura tem pouco menos de 2 mil hectares plantados atualmente.
Queda e reorganização
A chegada da filoxera à região em 1879 e uma subsequente infestação por míldio deram fim ao período de expansão. A área plantada de vinhedos caiu de forma significativa. Entre 1873, pico de produção, e 1900, a área plantada no Jura caiu 62%, contra 27% na França como um todo. E isso levou a um êxodo dos viticultores: a população de Arbois caiu de 7.000 pessoas em 1850 para 4.200 em 1900.
Este forte declínio levou à maior mobilização dos produtores. O ano de 1906 marcou a fundação da primeira cooperativa vinícola francesa, em Arbois, seguida pelo Syndicat de Défense Viticole de l’Appellati, on d’Origine du Canton d’Arbois. Esta instituição organizou a emissão de um certificado de origem para proteger os vinhedos de Arbois, confirmada pela criação da denominação de origem em 1936.
Localização e produção
A denominação de origem Arbois foi criada em 15 de maio de 1936, dentro do grupo de seis denominações pioneiras da França. Ela cobre uma área ao norte do Jura, em torno da cidade de Arbois, incluindo também os vinhedos de 12 vilarejos próximos, com destaque para Montigny-les-Arsures e Pupillin. No caso do último, os produtores locais têm a opção, desde 1970, de rotular seus vinhos como Arbois ou como Arbois-Pupillin, incluindo o não a denominação geográfica complementar. Embora produza todos os estilos de vinhos, Arbois é mais conhecida por seus tintos, respondendo por cerca de 70% dos tintos elaborados no Jura.
Sua área geográfica ocupa a borda oeste do maciço do Jura. A região é delimitada, a leste, pelo primeiro planalto calcário do maciço do Jura, com uma altitude média de 550 metros. Já a oeste, o limite fica na borda oriental da planície de Bressan. Vale lembrar que este vale, onde bem mais a oeste passa o rio Saône, é o mesmo que representa o limite a leste dos vinhedos da Côte d’Or.
A área de vinhedos, em 2019, ficava na faixa de 660 hectares, a maior entre as quatro denominações de origem geográficas do Jura, com cerca de 34% da área plantada. Excluindo os Vin de Paille, em 2019 a produção da denominação de origem Arbois atingiu 40,5 mil hectolitros. Isso equivalente a 5,4 milhões de garrafas.
Terroir
Boa parte dos vinhedos está localizada nas encostas da borda do planalto, geralmente com exposição oeste. Os solos são compostos por margas ou argila dos períodos Jurássico Inferior e Triássico, dominados por uma borda de calcário amarelo do Jurássico Médio. Em uma comparação com os solos da Côte d’Or, 80% da rocha base na área de Arbois é composta por margas, com 20% de calcário. No caso da sub-região da Borgonha, ocorre o inverso, com o calcário dominante na mesma proporção.
Embora muita gente associe Arbois com vinhedos de altitude, isso está longe de ser verdade. A maioria dos vinhedos da região situa-se entre os 250 e 450 metros. Mesmo o vilarejo de Pupillin, que fica logo acima de Arbois, está situado a 450 metros, com seus vinhedos organizados em uma espécie de anfiteatro com altitudes entre 270 e 450 metros.
A área conta com um clima oceânico, marcado por influências continentais. Há uma significativa amplitude de temperaturas anuais, com verões quentes e úmidos. A região natural de Revermont é muito mais úmida do que a planície vizinha, com precipitação anual acima de 1.000 milímetros, porém bem distribuída ao longo do ano. O abrigo proporcionado pelas falésias protege as vinhas dos ventos de norte e leste.
Uvas e regras de produção
Além de uma denominação geográfica complementar (Pupillin), Arbois tem também duas menções complementares, dependendo do estilo produzido: Vin Jaune e Vin de Paille. Cinco uvas são permitidas para elaboração dos vinhos: as autóctones Savagnin, Poulsard (ou Ploussard como é conhecida na área) e Trousseau, além das borgonhesas Pinot Noir e Chardonnay.
No caso dos vinhos brancos, as uvas principais são Savagnin e Chardonnay, com as três tintas aparecendo como complementares. No caso dos tintos e rosés ocorre o inverso. Vale lembrar que todos os vinhos devem sempre contar ao menos 80% das variedades principais. A exceção fica para os vinhos Vin Jaune, que devem conter 100% de Savagnin. Não é permitida a elaboração de vinhos espumantes, que são engarrafados como Crémant du Jura.
Vinhos e principais produtores
Por conta da composição de solos e do relevo mais protegido, a região de Arbois tem uma alta proporção de uvas tintas. Duas áreas em particular chamam a atenção. Em Pupillin, os frescos e elegantes vinhos elaborados a partir da Poulsard predominam: este vilarejo se autointitula a “capital mundial da Ploussard”. Já em Montigny-les-Arsures é a Trousseau que domina, dando origem a vinhos picantes de corpo médio e muita presença de fruta.
Atualmente, mais de 40 produtores diferentes atuam na denominação de origem Arbois. O vilarejo de Pupillin concentra uma grande quantidade produtores de alto prestígio, com forte inclinação para o vinho de baixa intervenção. Nomes como Maison Overnoy-Houillon, Renaud Bruyére, Philippe Bornard e Domaine de la Borde, entre outros, elaboram vinhos imperdíveis para quem conhecer o Jura de perto.
Já em Montigny-les-Arsures, vale a pena conhecer, entre outros, os vinhos de Andre et Mireille Tissot e da Domaine du Pelican (que adquiriu os vinhedos de Jacques Puffeney). Já na cidade de Arbois, entre os principais produtores, podemos citar Domaine de la Pinte, Domaine de l’Octavin, Domaine Henry Maire e Domaine de la Touraize.
Fontes: Cahier des Charges de l’Appellation d’Origine Contrôlée Arbois; Jura Wine, Wink Lorch; Jura Vins
Imagens: Arquivo pessoal
Mapa: Comité Interprofessionnel des Vins du Jura
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