O mundo do vinho tem vivido profundas mudanças nos últimos anos. De um lado, produtores de muitas regiões se encontram em posição fragilizada, por conta da queda do consumo de vinho em boa parte do mundo. De outro, há regiões onde a demanda não é o problema principal, mas sim a falta de capacidade para produzir mais vinhos.
Um exemplo é a região do Barolo. Entrevistando uma produtora da região recentemente, ela ressaltou a enorme mudança vivida pelos vinicultores do Piemonte nas últimas décadas. “Quando meu pai tocava o negócio, sua maior preocupação era achar compradores para toda a produção, mesmos sendo uma das vinícolas de destaque na região”. Ela completa: “Hoje a realidade é diferente: eu preciso atender parcialmente aos pedidos e alocar meus vinhos, já que venderia mais se tivesse como produzir mais”.
Quais as limitações?
Esta declaração não me surpreendeu, já que a demanda por vinhos do Barolo explodiu nas últimas décadas. Porém, foi com grande surpresa que recebi o motivo pelo qual ela não consegue produzir mais. Não é o elevado custo dos vinhedos o maior problema. “embora não tenhamos capital para comprar os supervalorizados vinhedos de Barolo, não faltam terras para arrendar. Nosso maior problema é a falta de mão de obra”.
Como pode faltar mão de obra em um país onde a taxa de desemprego supera 7% e que é usado de porta da entrada para milhares de trabalhadores vindos de países fora da União Europeia? Com isso em mente, repeti a mesma pergunta para outros produtores e a resposta foi praticamente unânime: não há trabalhadores suficientes para atender as necessidades, sobretudo nos períodos de pico, como a colheita.
Estudo confirma tendência
A limitação de mão de obra não é um problema somente dos produtores italianos. Conversando com produtores de outras regiões, inclusive do Brasil, a percepção é similar. E um relatório divulgado pela Prowein, maior feira de vinhos no mundo, confirma este cenário desafiador. A falta de mão de obra é um enorme desafio, tanto atual como futuro, para os produtores europeus de vinho.
Baseado em questionários respondidos por produtores envolvidos nas diversas edições da feira ao redor do mundo, o estudo mostra um quadro complicado. Os Baby Boomers, que representam alta parcela da população em muitos países europeus, estão saindo do mercado de trabalho. E, muitas vezes, não podem ser substituídos na mesma medida por uma mão-de-obra mais jovem.
Mas que tipo de mão de obra falta nas vinícolas? A pesquisa mostra que os produtores europeus de vinho precisam de mais trabalhadores sazonais. Os dados mostram que quase dois terços das vinícolas (63%) afirmam que faltam trabalhadores temporários durante a colheita ou no verão, que trazem a maior fluxo de turistas.
Um mundo desbalanceado
O problema parece mais grave no caso dos grandes produtores. As vinícolas têm compensado a falta de pessoal instituindo horas extras e/ou jornadas de trabalho mais longas. Além disso, no caso das pequenas vinícolas, as famílias de proprietários relatam um aumento claro da carga de trabalho: Entre as frases mencionadas no estudo estão: “Não tenho mais um dia de folga.” “A família absorve isso por meio de horas extras, inclusive aos domingos.” “Como família, trabalhamos o tempo todo.” “Temos que trabalhar muito mais, não deixando tempo para a família ou férias”.
Enquanto isso, em países com cenário econômico e social complicado, como o Brasil, o que mais se vê é gente pensado em abandonar tudo e tentar a sorte em outros países, muitos deles na Europa. Fica a dica para quem tem afinidade e disposição para trabalhar no campo, sobretudo quem tem passaporte europeu. Conseguir emprego na Europa não deverá ser um grande desafio.
Como eu me descrevo? Sou um amante exigente (pode chamar de chato mesmo) de vinhos, um autodidata que segue na eterna busca de vinhos que consigam exprimir, com qualidade, artesanalidade, criatividade e autenticidade, e que fujam dos modismos e das definições vazias. A recompensa é que eles existem, basta procurar!
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Foto: Arquivo pessoal
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