Novo estudo evidencia ligação entre vida bacteriana no solo e qualidade da uva e do vinho

Está cada dia mais clara a relação entre a atividade orgânica dos solos dos vinhedos e a qualidade das uvas. De forma geral, nos vinhedos onde há maior uso de herbicidas e pesticidas sintéticos, cai a atividade de fungos e bactérias no solo. Por conta disso, mudam os parâmetros de qualidade das uvas, o que exige maior necessidade de intervenção na vinificação. A lógica é simples: uvas piores geralmente resultam em vinhos de menor qualidade.

Este é o principal racional por trás do rápido crescimento das agriculturas orgânica e biodinâmica, que garantem, ao evitar o uso de produtos sintéticos no vinhedo, uvas de melhor qualidade. E um novo estudo, publicado por um importante laboratório francês, o Dubernet Laboratories, deixa isso evidente. Esta pesquisa ajuda na melhor compreensão de como os parâmetros do solo influenciam o comportamento da videira e as características do vinho.

Solos mais vivos

Matthieu Chazalon, chefe da zona sudeste da Terra Mea, uma das empresas do grupo Dubernet, revelou, neste mês de novembro, alguns dos resultados dos estudos. Segundo ele, “quanto mais matéria orgânica o solo contém, mais microrganismos abriga e mais ativos esses microrganismos são”. Em um gráfico com os resultados de mil análises desenvolvidas, o engenheiro-enólogo mostrou um dado interessante. O número de bactérias vivas dobra em solos com pelo menos 2% de matéria orgânica, em relação a solos com apenas 1%.

Também a composição de solo importa. Para melhorar a vida do solo, ele explica que também é necessário verificar a relação entre o teor de matéria orgânica e o de argila. “A mediana das nossas análises é de 7%, enquanto teria que ser próxima de 17% para que os fungos se desenvolvam bem”.

Uso e cobre, irrigação e cobertura vegetal

Um outro aspecto importante, relacionado sobretudo à agricultura orgânica, foi objeto de análise. Na ausência de produtos sintéticos para combater pragas nos vinhedos, o cobre ganha um papel fundamental nos cultivos orgânicos e biodinâmicos. E a concentração de cobre no solo é algo que preocupa. Porém, Chazalon trouxe boas notícias. De acordo com as 1.200 análises realizadas, ficou claro que uma concentração de cobre entre 0 e 200 partes por milhão (ppm), não há impacto sobre os vários microrganismos.

Em seguida, o engenheiro-enólogo explicou que o aspersor é mais eficaz do que a irrigação por gotejamento. Ele também deixou clara a importância da cobertura vegetal nos vinhedos. “Precisamos limitar o plantio direto, mesmo que ainda seja necessário na área do Mediterrâneo”. “Há quatro vezes menos bactérias e fungos nos solos arados e/ou diretamente expostos.”

Impacto nos vinhos

Guillaume Desperrières, diretor técnico da Terra Mea, descreveu como a vida no solo afeta a fisiologia da videira e a qualidade dos vinhos. “As nossas análises permitiram estabelecer uma ligação entre o número de bactérias vivas no solo e o teor de nitrogênio assimilável dos mostos”. “Há uma grande influência do número de bactérias vivas no solo”.

Ao comparar diferentes tipos de cobertura vegetal, os laboratórios Dubernet também mostraram que a videira precisa de fungos micorrízicos para assimilar mais fósforo. Para evitar o uso de ácido tartárico na vinificação para baixar o pH, não é necessário considerar fertilizantes de  potássio como o único elemento. É mais inteligente escolher melhor os porta-enxertos e manter os solos vivos para aumentar os rendimentos.

Além disso, Desperrières notou durante os testes com as uvas Roussanne e Cabernet Sauvignon que os insumos de ferro podem aumentar a produtividade da videira em até 30% em parcelas contendo menos de 20 mg por kg. “Mas, assim como o fósforo, a videira precisa de fungos micorrízicos para assimilar o ferro”. O mesmo vale para o manganês. Com base em 30.000 análises, os laboratórios Dubernet finalmente fizeram a ligação entre problemas de coulure (falta de desenvolvimento dos cachos de uva) com os níveis de zinco no solo, que são influenciados pelo conteúdo bacteriano.

Fonte: Vitisphere

Imagem: Ida via Pixabay

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