A Côte Chalonnaise, uma das quatro regiões da Borgonha, certamente não tem a reputação e glamour da Côte d’Or. Porém, possui uma longa história da vinicultura e diversas áreas de vinhedos de alta qualidade, o que a coloca entre as áreas mais promissoras desta região francesa. Embora vista como umas das “áreas esquecidas” da Borgonha, por conta da menor divulgação de seus vinhos por críticos e importadores, é uma região em ebulição. Há uma nova geração de produtores produzindo alguns dos vinhos de melhor custo-benefício da Borgonha.
Os principais vinhos da Côte Chalonnaise são aqueles de suas cinco denominações de origem: Bouzeron, Givry, Rully, Mercurey e Montagny. Porém, a região também produz uma grande quantidade de vinhos com denominações regionais. Vinhos classificados como Bourgogne Côte Chalonnaise, Bourgogne Côtes du Couchois, Bourgogne AOC e Coteaux Bourguignon tem presença significativa. Além disso, a Côte Chalonnaise é um dos principais centros de produção de Crémant de Bourgogne.
Longa história
A Côte Chalonnaise tem um longo histórico na viticultura, desde a época galo-romana. Há evidências de ânforas contendo vinhos datadas do primeiro século depois de Cristo, encontradas nas margens do rio Saône. Isso traz pistas que o consumo de vinhos na região já era significativo, sobretudo em uma região que sediava uma das principais cidades romanas da Gália.
Autun era um importante centro urbano e diversas áreas próximas, sobretudo aquelas em torno da Via Agrippa, estrada que ligava a cidade a Chalon-sur-Saône, rapidamente cresceram. Há menções de videiras na região desde o ano 312, e sua importância cresceu a partir do início da Idade Média, com a influência das ordens religiosas. A criação da Abadia de Cluny, localizada a oeste da atual área de vinhedos, foi um marco importante para a elaboração de vinhos de qualidade. No século VI havia uma clara rivalidade entre Chalon-sur-Saône e Dijon na elaboração dos melhores vinhos.
A viticultura cresceu rapidamente, contando tanto com a influência dos monastérios como da nobreza. Muitos de seus vinhos caíram nas graças de soberanos franceses, entre eles Henry IV e Louis XIII. A Côte Chalonnaise, em especial Rully, desempenhou um importante papel na produção de espumantes. A partir de 1822 figura como o ponto de partida dos Crémant de Bourgogne. Assim como em toda a Borgonha, porém, a região foi duramente afetada pela filoxera, mas recuperou seus vinhedos a partir do início do século XX.
Localização e geologia
A Côte Chalonnaise fica diretamente ao sul da Côte d’Or, a partir do vilarejo de Chagny. Assim, forma uma área de transição entre esta parte da Borgonha e a região do Mâconnais. É uma região que engloba cerca de 4.500 hectares de vinhedos, espalhados em uma faixa com cerca de 35 quilômetros de extensão na direção norte-sul, com largura máxima de sete quilômetros. Os vinhedos ficam em diferentes vales a oeste da cidade de Chalon-sur-Saône, que dá nome a região, apesar de não contar com vinhedos, por estar na parte mais central do vale do Saône.
Os solos da área mostram diferentes proporções de margas e calcário. Boa parte dos vinhedos tem orientação leste, como na Côte d’Or, mas na área mais ao sul da Côte Chalonnaise, sobretudo em Montagny, a inclinação é em direção ao oeste, já representando uma transição para o relevo mais complexo do Mâconnais. Ao contrário dos vinhedos da Côte d’Or, que ficam no vale do Saône, há diferentes vales de menor porte.
Diversidade regional
É uma região que produz tanto vinhos tintos como brancos, em uma proporção praticamente equivalente, quando se leva em conta as denominações Villages. Porém, existem diferenças significativas entre suas cinco principais denominações de origem. Duas se dedicam exclusivamente a vinhos brancos: Bouzeron (a única denominação da Borgonha com foco total na Aligoté) e Montagny (Chardonnay).
Já em Rully os vinhos brancos também predominam, com uma proporção de cerca de 66%, plantados com Chardonnay. Por outro lado, em Mercurey e Givry, a Pinot Noir é o principal destaque. Por conta de seus solos com maior proporção de argila, esta uva tinta domina, com cerca de 85% da produção.
Em termos de volume, o maior destaque fica com Mercurey, que responde por cerca de 35% da produção total de vinhos das denominações Village da Côte Chalonnaise. A seguir vêm Montagny (23%) e Rully (21%), em patamares próximos, com Givry (18%) um pouco abaixo e Bouzeron fechando a lista, com 4%.
Vinhedos e produção
A Côte Chalonnaise, considerando somente suas cinco denominações Village, tem uma área delimitada de cerca de 2.220 hectares. Destes, 68% são classificados como Village e 32% como Premier Cru. A área efetivamente plantada, porém, atingia em 2018 apenas 1.730 hectares, dos quais 36% classificados como Premier Cru. Esta proporção é encarada como exagerada, sobretudo em denominações como Montagny e Givry
Ao contrário da Côte d’Or, ainda há espaço para uma expansão significativa da área de vinhedos. A Pinot Noir, única uva tinta permitida nas denominações Village, tem uma presença de cerca de 53% nos vinhedos, com uma área plantada de 913 hectares. Já as uvas brancas respondem pelos demais 47%, com destaque para a Chardonnay (44% do total) e Aligoté (3%)
A produção destas cinco denominações atingiu 80,6 mil hectolitros. Isso corresponde a cerca de 10,7 milhões de garrafas ao ano, ou aproximadamente 5% da produção total de vinhos da Borgonha. Por conta da diferença de rendimento entre uvas brancas e tintas, existe praticamente um equilíbrio entre elas em termos de produção. Em 2018 foram produzidos 40,6 mil hectolitros de vinhos brancos e 40 mil hectolitros de tintos.
Perspectivas e produtores de destaque
Não há dúvida que a Côte Chalonnaise ocupará um espaço de maior destaque quando se fala de vinhos da Borgonha, até por conta dos claros excessos nos preços de muitos vinhos da Côte d’Or. Após anos relativamente “esquecida”, o trabalho de diversos produtores tem colocado a região em maior evidência. Jasper Morris, um dos maiores especialistas em vinhos da Borgonha, chama estes produtores de “locomotivas”. São nomes que podem trazer um significativo ganho de reputação para a região.
Para o crítico britânico, estes produtores seriam: Domaine A&P de Villaine (em Bouzeron), Domaine de la Folie e P&M Jacqueson (Rully), Domaine de Suremain e Château de Chemirey (Mercurey), Domaine Ragot, Domaine Laurent Mouton e Domaine de la Ferté (Givry), além de Domaine Stéphane Aladame e Domaine Laurent Cognard (Montagny). Outros produtores de destaque na área são Dureuil-Janthial, Cellier aux Moines e Bruno Lorenzon.
Fontes: Vins de Bourgogne; Wine Scholar Guild; Inside Burgundy, Jasper Morris; La Côte Chalonnaise – Atlas et Histoire des Noms de Climats et de Lieux, Marie-Hélene Landrieu-Lussigny e Sylvain Pitiot; Idealwine
Mapas: Vins de Bourgogne
Imagem: Creative Commons – Oliver Schöpgens
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