Conhecer o complexo universo da vitivinicultura italiana dá um certo trabalho. Além de mais de 500 denominações de origem (incluindo as DOC, DOCG e IGT), a Itália é o país do mundo com maior quantidade de uvas autóctones, com quase 400 variedades distintas usadas na elaboração de vinhos. Mas a coisa fica ainda mais complicada quando alguns termos têm múltiplos usos.
Um deles é Montepulciano, que certamente você já deve ter ouvido falar. Estamos falando de um tipo de uva plantada na Itália? Ou seria uma denominação de origem específica? Ou mesmo o nome de um vilarejo italiano? Qual será a resposta correta?
A uva Montepulciano
Quem apostou que Montepulciano é uma uva, acertou. Com cerca de 35.000 hectares plantados em 2010, a Montepulciano é a segunda uva tinta mais plantada da Itália, somente atrás da Sangiovese. Seus vinhedos estão distribuídos sobretudo nas áreas centrais do Belpaese, como destaque para as regiões de Abruzzo, Puglia, Basilicata, Emilia-Romagna, Marche, Molise, Umbria e, em menor escala, Toscana.
É uma variedade tinta, que pode ser usada tanto na elaboração de monovarietais, como também em cortes, frequentemente com a Sangiovese. Seus vinhos costumam apresentar sabores macios e frutados, coloração intensa e taninos delicados. Na Itália, dois estilos de tintos são mais comuns: um mais frutado e outro com uso mais intenso de carvalho. Há também exemplos de vinificação em rosé. É, portanto, uma uva polivalente.
Na região de Abruzzo, esta variedade, com quase 18 mil hectares plantados representava mais de 50% da área total de vinhedos, é a uva principal de várias DOCs e DOGCs. Além disso, tem presença também no regulamento de denominações de origem em regiões vizinhas, como Marche, por exemplo.
O vilarejo Montepulciano
Também acertou quem apostou que Montepulciano é um vilarejo. Situado na província de Siena, no sul da Toscana e muito próximo da fronteira com a Umbria, Montepulciano tem uma longa história. Foi fundado pelos etruscos no quarto século antes de Cristo e ocupa uma área de colina, o que, ao lado das inúmeras construções históricas, traz um charme especial. Com cerca de 15 mil habitantes, porém, é mais conhecido pelos amantes do vinho por outro motivo.
Seu nome dá origem a uma das denominações de origem mais procuradas da Toscana, a Vino Nobile di Montepulciano. Embora a denominação tenha sido regulamentada somente em 1966, seus vinhos têm uma longa trajetória. Isso inclui a preferência do presidente norte-americano Thomas Jefferson, que em 1803 encomendou mais de 100 garrafas de vinhos do vilarejo.
O Vino Nobile de Montepulciano, porém, tem uma peculiaridade. Em sua composição é obrigatório o uso de pelo menos 70% da uva Sangiovese. Caso o produtor opte por elaborar um corte, ele pode incluir até 30% de outras 85 variedades. Embora uma delas seja a Montepulciano, é muito provável que você, ao degustar um Vino Nobile de Montepulciano, não prove sequer uma gota da uva Montepulciano.
A denominação de origem Montepulciano
Por fim, também acertou quem apostou que Montepulciano se refere a uma denominação de origem. Montepulciano d’Abruzzo, como nome indica, é uma denominação situada na região de Abruzzo, no centro da Itália. Ao contrário do Vino Nobile di Montepulciano, aqui a uva Montepulciano tem papel central, com pelo menos 85% da composição dos vinhos produzidos. E isso ocorre com várias denominações do Abruzzo, onde a Montepulciano tem presença de destaque.
Porém, recentemente esta “confusão de nomes” ganhou mais um capítulo. Um pedido do Consorzio Tutela Vini d’Abruzzo, órgão que reúne produtores desta região italiana, tem como objetivo banir o uso do nome Montepulciano fora da região. O pedido, que foi aceito pelo Ministério da Agricultura italiano, é que vinhos produzidos a partir da Montepulciano fora da região devem usar o nome Cordisco para a uva.
Por exemplo, na denominação de origem Rosso Conero DOC, em Marche, a uva Montepulciano deve responder por pelo menos 85% da composição de seus vinhos. Caso a requisição dos produtores do Abruzzo seja mantida (obviamente os produtores de vinhos de Marche entraram na Justiça), daqui em diante eles devem se referir à uva como Cordisco. Mais um capítulo para a confusa trajetória da expressão Montepulciano na Itália.
Fontes: Quatrocalici; Registro Nazionale Varietà di Viti; Wein Plus; Consorzio Vino Nobile di Montepulciano; Wine Searcher; Regione Abruzzo
Imagem: Łukasz Czechowicz via Unsplash
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