Considerada uma das uvas ancestrais da Europa Ocidental, a Pinot Noir deu origem a uma família de outras uvas na França, entre elas Chardonnay, Aligoté, Gamay e Melon de Bourgogne. No entanto, ela deixou também sua marca na Europa Central. A análise de DNA mostrou que existe uma relação genética direta com o Sankt Laurent, uva mais conhecida na Áustria, mas também presente em países vizinhos.
A Sankt Laurent é atualmente a segunda uva tinta mais plantada na República Checa e terceira na Áustria, onde após um cruzamento com a Blaufränkisch realizado em 1922, deu origem a Zweigelt, tinta mais plantada no país alpino. Por conta de suas características e qualidade de seus vinhos, porém, começa a ganhar presença nas taças de enófilos não somente em sua região de origem. Vale a pena conhecer mais sobre ela.
Origem e nome
A genética mostrou que existe uma relação direta entre Pinot Noir e Sankt Laurent, porém sem comprovação da direção. Embora exista chance de a Sankt Laurent ser “mãe” da Pinot Noir, a probabilidade maior é que seja o inverso, por conta da ancestralidade da uva francesa. Sendo esta a hipótese mais aceita, porém, não há qualquer evidência de qual seria a outra uva com a qual a Pinot Noir teria feito o cruzamento natural que teria resultado na Sankt Laurent.
A Áustria surge como origem mais provável da Sankt Laurent por dois motivos principais. Há quem aponte a abadia de Klosterneuburg, fundada em 1114, como potencial origem, porém sem qualquer comprovação científica. Por outro lado, a primeira referência a esta variedade é definitivamente austríaca, mais especificamente em obra publicada em 1863 pela Bundeslehranstalt für Wein und Obstbau, em Klosterneuburg.
O nome da uva também teria ligação com a religião. A hipótese mais provável é que a Sankt Laurent recebeu esse nome em homenagem ao Dia de São Lourenço, comemorado em 10 de agosto. Este seria o dia no qual as uvas começam a mudar de cor, fenômeno conhecido como pintor ou veraison.
Características e vinhos
As principais características dos cachos e grãos lembram aqueles da Pinot Noir. Os cachos são compactos, cilíndricos e de tamanho médio, com grãos pequenos e ovais, de coloração azulada. É uma uva de difícil cultivo, particularmente frágil na época da floração, que é prematura. Isso aumenta o risco de perdas por conta de geadas. Ela, porém, amadurece mais tarde, com colheita na Áustria em meados de outubro, cerca de duas semanas após a Pinot Noir.
Por conta de seus rendimentos baixos e irregulares, por muito tempo perdeu área de vinhedos, embora esteja vivenciando um renascimento nas últimas décadas. O principal motivo desta reviravolta é a qualidade de seus vinhos, considerados elegantes e de média estrutura. No olfativo, mostram aromas intensos de cereja, com coloração mais escura que aqueles elaborados com a Pinot Noir. Na comparação com a uva francesa, também dá origem a vinhos mais intensos, aromáticos e com notas de especiarias.
Área plantada e nomes alternativos
Segundo dados da OIV, a área plantada de Sankt Laurent ao redor do mundo, em 2015, era de 3.729 hectares. Apesar de estar muita associada à Áustria, sobretudo as regiões de Niederösterreich e Burgenland, tem uma distribuição bastante ampla nos países vizinhos. Os principais destaques ficam com diversos países da Europa Central. A República Checa tem a maior área de vinhedos, com 1.176 hectares, ou cerca de 32% do total mundial. A seguir vem Eslováquia, com 1.176 ha (31%), seguida por Áustria (734 ha, ou 20%) e Alemanha (643 ha, 17%).
Por conta da diversidade de idiomas nas regiões produtoras, a variedade recebe uma grande quantidade de outras designações e grafias. Os principais nomes, segundo o catálogo da Universidade da California – Davis, são: Blauer Saint Laurent, Chvartser, Laourentstraoube, Laurenzitraube, Laurenztraube, Lorentstraube, Lorenztraube, Lovrenac Crni, Lovrijenac, Lovrijenac Crni, Pinot Saint Laurent, Pinot Sent Laourent, Pinot St. Laurent, Saint Laurent Noir, Saint Lorentz, Sankt Lorenztraube, Sant Lorentz, Schwarzer, Schwarzer Lorenztraube, Sent Laourent, Sent Lovrenka, Sentlovrenka, Shentlovrenka, Shvartser, St. Laurent, Svati Vavrinetz, Svatovavrinecke, Svatovavrinetske, Svatovavrinetzke, Svaty Vavrinec, Szent Loerinc, Szent Loerinczi, Szent Loerine, Szentloerinc e Vavrinak.
Fontes: Foundation Plants Services Grapes, UC Davis; Distribution of the World´s Grapevine Varieties, OIV; Austrian Wine; Austria and the Missing Link: Blaufränkisch, Zweigelt, St-Laurent. Grüner Veltliner, José Vouillamoz; Thermen DAC
Imagem: Austrian Wine
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