Pinot Noir: as regiões de destaque fora da Borgonha

Quando se trata de vinhos produzidos com a uva Pinot Noir poucos discordarão que a Borgonha está num patamar acima das demais regiões produtoras. Da minha parte, eu acrescentaria ainda que ela se encontra a frente com uma boa distância. Mas e fora da Borgonha, quais seriam as principais regiões produtoras?

Para responder essa difícil pergunta, a prestigiada revista inglesa Decanter Magazine realizou um painel muito interessante, publicado, em duas partes, nas edições de novembro e dezembro de 2023. Um trabalho sério e criterioso, fato raro no mundo do vinho. Diferente do ranking que foi objeto da coluna de janeiro, a avaliação da Decanter se caracteriza pela seriedade e respeito a princípios metodológicos básicos, valendo destacar:

A avaliação contou com três “juízes” altamente qualificados, Anne Krebiehl MW, Justin Knock MW e Dirceu Vianna Junior MW.

A nota para cada vinho de cada jurado foi divulgada, o que é bastante interessante para observarmos eventuais consensos e dispersões.

Os vinhos avaliados comercializam por um preço mínimo de 30 libras no mercado inglês, garantindo uma amostra minimamente comparável

A avaliação se deu em duas partes: Pinot Noir das Américas e Pinot Noir do “resto do mundo”.

Os vinhos foram classificados em três grupos: Excepcionais (95 a 97 pontos), Altamente Recomendados (90 a 94 pontos) e Recomendados (86 a 89 pontos)

Como interpretar o resultado dos 2 painéis

A avaliação incluiu 414 vinhos, 273 oriundos das Américas e 141 de outras regiões do mundo, excluindo a Borgonha. Todos esses vinhos receberam não apenas uma pontuação individualizada, como uma breve nota, o que é muito útil para quem busca entender as características e poder identificar rótulos mais aderentes ao gosto pessoal. Afinal, a avaliação de vinho está muito longe de ser uma ciência exata, apesar de alguns acreditarem no oposto.

No curto espaço dessa coluna iremos nos deter em quais regiões produtoras receberam avaliação e como se comportou a distribuição nos três grupos. Destacaremos apenas os vinhos classificados como excepcionais em cada um dos dois painéis.

Painel das Américas

Receberam avaliação 273 vinhos dos Estados Unidos, Argentina, Canada, Chile e Uruguai. Dois vinhos dessa amostra receberam classificação Excepcional. O primeiro era relativamente esperado, o Tatomer PN de Santa Barbara County na California 2021, comercializado pelo preço médio de 36 libras na Inglaterra. O produtor Graham Tatomer é mais conhecido por seus Rieslings e Grüner Veltiliners, mas o seu Pinot Noir é também bastante badalado. A surpresa, pelo menos para mim, é um vinho oriundo da Patagonia, na Argentina, o Otronia, Chubut 2020.

Os PN das Américas considerados Excepcionais pelos jurados. Foto: Decanter Magazine novembro 2023

No grupo dos Altamente Recomendados (90-94 pontos) foram 114 vinhos. Desses, 51 eram norte-americanos, com grande destaque para a Califórnia e Oregon vindo em seguida. O Canadá me surpreendeu com 27 indicações, a grande maioria oriunda região de Ontário. A Argentina veio em seguida com 17 avalições, com as regiões da Patagonia e Mendoza dividindo o protagonismo e um surpreendente representante de Salta (Colomé Altura Máxima Payogasta 2021)

Sete vinhos do Chile entraram nesse grupo, oriundo de regiões como Malleco, Limari, San Antonio e Casablanca. Por fim, o Uruguai emplacou dois rótulos (o Pisano RPF Progresso Canelones 2020 e o Bouza Viñedo Pan de Azúcar 2021).

Painel das outras regiões do mundo

Chama a atenção o tamanho da amostra selecionada pela Decanter para o painel de outras regiões do mundo excluindo a Borgonha e as Américas: apenas 141 vinhos, significativamente inferior aos 273 das Américas. Além disso, apenas vinhos da Nova Zelândia, Austrália e África do Sul compuseram o painel. Não apenas a extensão da área plantada de Pinot Noir, mas principalmente o tamanho do mercado talvez expliquem isso.  Porém, um outro aspecto se destaca: a pontuação média da amostra é bastante superior ao das Américas, sugerindo uma maior qualidade, na média.

Enquanto nas Américas foram identificados apenas dois vinhos excepcionais, nas outras regiões do mundo foram 12. A Austr´slia liderou o ranking com cinco escolhidos, seguidas da África do Sul com quatro e a Nova Zelândia. Coube a Austrália ainda o vinho melhor pontudo entre os 384 avaliados, o Tolpuddle Vineyard, Coal River Valley 2022, produzido na Tasmania.

Os 12 PN das outras regiões do mundo considerados excepcionais pelos jurados. Foto: Decanter Magazine dezembro 2023

Na categoria dos Altamente Recomendados apareceram 99 vinhos 46 da Nova Zelândia, 34 da Austrália e 19 da África do Sul) e apenas 20 na parte superior da tabela, com pontuação entre 86-89 pontos.

Algumas surpresas… outras nem tanto

Do lado do que poderíamos esperar do resultado, a boa presença de Pinot Noir produzido na Nova Zelândia, California e Oregon eram bastante previsíveis. Do lado das surpresas podemos citar os rótulos produzidos no Canadá (majoritariamente na Província de Ontário), Patagônia e Austrália (Tasmânia basicamente).

Fica então a dica para as confrarias e enófilos interessados em fugir do lugar comum. O duro será encontrar esses vinhos no Brasil. Mas isso é uma outra conversa.

Renato Nahas é um grande apreciador de vinhos que adora se aprofundar no tema. Concluiu as certificações de Bourgogne Master Level da WSG, e também de Bordeaux ML.  É formador homologado pelo Consejo Regulador de Jerez e Italian Wine Specialist – IWS e Spanish Wine Specialist – SWS.. Sommelier formado pela ABS-SP, possui também as seguintes certificações: WSET3, FWS e CWS, este último pela Society Wine Educators.

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Foto da capa: Renato Nahas, arquivo pessoal

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