Central Otago não é somente a região vinícola mais meridional do planeta, com vinhedos ao sul do paralelo 45. É também uma das mais bonitas, refletindo o espetacular visual da ilha sul da Nova Zelândia. Apesar do relativamente curto histórico da vinicultura neste país da Oceania, os vinhos de Central Otago já recebiam avaliações positivas há mais de 120 anos.
É uma região que foca mais em qualidade que quantidade. Responde por menos de 3% da produção da Nova Zelândia, em volumes muito abaixo de regiões como Marlborough ou Hawke´s Bay. Porém, alguns de seus vinhos, sobretudo aqueles elaborados a partir da Pinot Noir, figuram entre os destaques destas variedades em uma comparação global.
Identificando o potencial
A ocupação europeia na Nova Zelândia ganhou impulso em meados do século XIX e, já na década de 1860, Central Otago atraiu muitos colonos. Atraídos inicialmente pela corrida do ouro de Dunstan, muitos europeus se estabeleceram na área, incluindo um francês que hoje é considerado o pai da vinicultura local. Jean Desire Feraud, além de suas atividades como mineiro, comprou terras perto da cidade de Clyde e ergueu um pequeno edifício de pedra em Monte Christo. Foi aqui que foram elaborados os primeiros vinhos da Central Otago.
Além do pioneirismo, Feraud apostou também na qualidade. Um de seus vinhos ganhou em 1881 a primeira medalha de ouro da região, para o seu “Burgundy“, em concurso realizado em Sydney. O potencial da região para a vinicultura foi também confirmado pelo italiano Romeo Bragato, consultor contratado pelo governo neozelandês para avaliar as áreas com o potencial vinícola no país.
Bragato teria ficado impressionado quando chegou a Central Otago, em 1895, afirmando que “não me parece haver qualquer limite para a produtividade daquele magnífico território”. Ele identificou que variedades de clima frio prosperariam na área, incluindo Pinot Noir e Riesling. Ele não poderia estar mais correto: atualmente estas duas variedades respondem por mais de 80% dos vinhedos de Central Otago.
Uma nova era
Porém, foi somente a partir da terceira parte do século XX que a Nova Zelândia começou a investir de forma mais consistente na elaboração de vinhos. E isso não foi diferente em Central Otago, onde a produção de outras frutas dominou os plantios até a década de 1970. Por suas condições naturais, consideradas extremas demais por muitos viticultores, Central Otago acabou ficando um pouco para trás.
Foi somente na década de 1980 que alguns visionários ignoraram os conselhos que insistiam que Central Otago era “muito fria, muito alta e muito ao sul” para cultivar videiras. Rolfe e Lois Mills se estabeleceram na propriedade Rippon em Wānaka, enquanto outros faziam o mesmo, como Alan Brady em Gibbston Valley, Anne Pinkney em Whakatipu e Sue Edwards e Verdun Burgess em Black Ridge, perto de Alexandra.
O primeiro Pinot Noir lançado comercialmente foi aquele da Gibbston Valley Winery, em 1987, atraindo novos produtores. O mundo estava acordando para os Pinot Noirs de Central Otago, com Gibbston Valley Winery e a Rippon ganhando medalhas no início dos anos 1990. Enquanto isso, mais vinícolas estavam entrando em operação em Bannockburn, Cromwell, Bendigo, Wānaka e Alexandra. À medida que a produção e a qualidade aumentaram, crescia também o enoturismo, aliando vinhos de alta gama com um cenário de enorme beleza natural.
Seis sub-regiões
Central Otago, porém, não é uma área homogênea. Ela pode ser dividida em seis sub-regiões. Gibbston se situa a leste de Queenstown, ao longo da Kawarau Gorge, origem do bungee jumping. É a sub-região mais alta, com clima mais frio e amadurecimento mais tardio que as sub-regiões vizinhas, dando origem a vinhos mais leves. Já Bannockburn fica às margens do rio Kawarau, no extremo sul do vale de Cromwell. Seus vinhedos ocupam locais mais quentes e secos da região (a colheita pode ser até um mês antes de Gibbston), produzindo vinhos mais intensos.
A sub-região de Cromwell, Lowburn e Pisa fica a oeste do Lago Dunstan, com vinhedos plantados em terraços mais baixos e no fundo do vale paralelo à cordilheira de Pisa. Já Bendigo, a nordeste de Cromwell, é possivelmente a mais quente de todas as sub-regiões, com vinhas plantadas em encostas voltadas para o norte e maior volume de produção.
Wānaka, situada em montanhas a cerca de 80 quilômetros ao norte de Queenstown, possui um dos vinhedos mais pitorescos do mundo. Mais fria e ligeiramente mais úmida que as áreas de Queenstown e Cromwell, conta com a influência do Lago Wānaka para produzir vinhos finos e elegantes. Por fim, Alexandra ainda conta com os vinhedos de Feraud e fica mais ao sul, com clima mais seco e extremo.
Terroir e uvas
Região vinícola de maior altitude da Nova Zelândia, Central Otago conta com um clima semicontinental, onde as geadas são um risco constante. Porém, boa incidência solar (cerca de 2.000 horas anuais), elevada amplitude térmica e verões curtos e quentes fornecem condições ideias para algumas variedades. Outonos secos e baixa umidade também são vantagens significativas para a viticultura local.
Moldada no passado por geleiras e agora definida por lagos e rios, Central Otago mostra uma ampla gama de solos nas várias sub-regiões. Destaque para os solos com presença de xisto, argila, silte, cascalhos, areias sopradas pelo vento e loess. O ponto em comum é a boa drenagem, pois a maioria dos vinhedos tem subsolos pedregosos, com leito rochoso de xisto ou cinza.
Com uma área total de vinhedos de 2.055 hectares (a terceira maior da Nova Zelândia), é uma região onde a Pinot Noir se destaca, com 1.656 hectares, ou 80% do total. Também merecem destaque Pinot Gris (172 ha), Chardonnay (92 ha), Riesling (62 ha) e Sauvignon Blanc (40 ha). Há cultivo em menor escala de uvas como Sankt Laurent, Gewürztraminer, Gruner Veltliner, Gamay, Merlot e Chenin Blanc.
Vinhos e produtores
Em 2023 a produção total de Central Otago ficou em torno de 12 mil hectolitros, o que corresponde a cerca de 1,6 milhão de garrafas. Para colocar este número em perspectiva, isso equivale a cerca de 10% acima do elaborado na denominação de origem Pommard, na Borgonha. Mesmo respondendo por apenas 2,5% da produção da Nova Zelândia, coloca a região em linha com outras em termos de volume, como Gisborne, Nelson e North Canterbury.
Como definir seus vinhos? Ao falar dos Pinot Noir da região, o Master of Wine Bob Campbell os descreve detalhadamente. “As características que fazem muitos Pinot Noir de Central Otago se destacarem de outros estilos regionais são a impressionante densidade de frutas e uma textura sedosa. Alguns também ostentam uma assinatura de tomilho selvagem – a erva foi plantada na década de 1850 por garimpeiros e agora cobre as colinas. Quem prefere vinhos mais frutados pode partir para aqueles de Bannockburn, Bendigo e Cromwell, enquanto quem prefere vinhos mais vibrantes e de alta energia, experimente o Pinot Noir das sub-regiões mais frias de Wanaka, Gibbston ou Alexandra”.
Central Otago é a casa de alguns dos mais icônicos produtores de vinho da Nova Zelândia. Nomes como Rippon, Chard Farm, Felton Road e Gibbston Valley, além de pioneiros, ganharam excepcional reputação pela qualidade de seus vinhos. Outros produtores para ficar de olho são Akarua, Akitu, Burn Cottage, Carrick, Ceres Wines, Kawarau Estate, Lowburn Ferry, Maude, Mount Difficulty, Mount Edward, Nany Goat Vineyard, Prophet’s Rock e Vally.
Fontes: NZ Wines; NZ Wine Directory; Central Otago Wine; Decanter
Mapas: New Zealand Wine,
Imagens: New Zealand Winegrowers Inc,.Ceres.Wines.JPG
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