Embora pequena, tanto em termos de área de vinhedos como volume de produção, a região do Jura é uma das joias do vinho francês. São seis denominações de origem diferentes, quatro delas relacionadas às suas respectivas localizações geográficas. Se Côtes du Jura é a denominação regional, cada uma das três demais se destaca por um estilo de vinho. Arbois tem nos vinhos tintos seu principal foco, enquanto Château Chalon se dedica inteiramente ao Vin Jaune.
L’Étoile, por sua vez, se destaca pelos seus vinhos brancos, tendo a Savagnin e, principalmente, a Chardonnay como protagonistas. Mesmo dentro do contexto do Jura, porém, é uma denominação de pequeno porte. Seus vinhedos respondem por apenas 4% da área plantada com videiras da região. No entanto, por conta da alta qualidade de seus vinhos, é uma área que merece uma análise mais profunda.
Localização e nome
A denominação L’Étoile (em amarelo no mapa abaixo) se situa na parte ocidental do Jura, próxima à cidade de Lons-le-Saunier, capital e segunda maior cidade do Jura. Vale lembrar que Lons-le-Saunier tem uma posição geográfica bastante central, equidistante de Besançon, Dijon, Bourg-en-Bresse e Genebra. Além do vilarejo de L’Étoile, a área da denominação inclui também as communes de Plainoiseau, Quintigny e Saint-Didier, num raio de cerca de quatro quilômetros em torno de L’Étoile.
Seu nome, que pode ser traduzido como “A estrela”, gera certa controvérsia em relação a sua origem. Muitos explicam o nome pela presença nos seus solos de incontáveis minúsculos fósseis de pentacrinites, em forma de estrela. Porém, outra versão, também muito aceita, é aquela que indica a origem como consequência do arranjo estelar das cinco colinas que cercam o vilarejo de L’Étoile.
História
A vinicultura tem uma longa tradição en L’Étoile. Em 1250, Jean de Chalon mandou construir um castelo na colina de L’Étoile e, dez anos depois, veio a primeira menção escrita sobre os vinhos da região. Ele ofereceu aos monges do priorado de L’Étoile “dez muids de vinho para serem retirados de seus vinhedos de L’Étoile”. Esta tradição seguiu nos séculos seguintes, culminando no século XIX.
Assim como em outras áreas do Jura, a produção atingiu seu pico antes da chegada da filoxera à região. Dados mostram que na década de 1850, o Jura chegou a cerca de 20 mil hectares de vinhedos, aproximadamente dez vezes a área plantada atualmente. Mesmo com a forte queda de produção depois da chegada da doença, porém, o diferencial de qualidade continuou. Em 1937, o Syndicat de Défense des Vignerons de L’Étoile obteve o reconhecimento oficial como denominação de origem para seus vinhos.
A denominação de origem
Aprovada em 31 de julho de 1937, a denominação de origem L’Étoile permite apenas a produção vinhos brancos tranquilos. As uvas principais são Chardonnay e Savagnin, com a Poulsard sendo considerada uva acessória. Para usar o nome da varietal no rótulo, o vinho deve conter ao menos 80% desta cepa. Vale lembrar que há também elaboração de Vin de Paille, com as três mesmas variedades, e de Vin Jaune, com uso exclusivo da Savagnin. Nestes casos, o rótulo recebe adição da menção Vin de Paille ou Vin Jaune. Caso haja produção de vinhos tintos na região, o engarrafamento será como Côtes du Jura.
A área total de vinhedos em 2019 atingia 76,7 hectares, com uma produção de 4,5 mil hectolitros, o equivalente a 603 mil garrafas ao ano. Deste total, a imensa maioria do vinho tinha engarrafamento como vinho branco tranquilo, com menos de 100 hectolitros para Vin Jaune ou como Vin de Paille. O rendimento máximo permitido para os vinhos tranquilos é de 60 hectolitros por hectare.
Terroir
A área geográfica da denominação de origem se localiza na borda ocidental do maciço do Jura, dentro da sub-região de Revermont. Os vinhedos se situam em um conjunto de colinas calcárias, a maioria das quais paralelas à borda do primeiro planalto do maciço do Jura. O vilarejo de l’Étoile fica no centro de cinco colinas, dispostas em formato que lembra uma estrela, com altitudes entre 320 e 420 metros.
O subsolo tem composição de margas e calcários dos períodos Triássico e Jurássico (que recebe este nome exatamente por conta desta região). Os solos são particularmente ricos em pequenas “estrelas”, elementos dispersos de organismos fósseis. Na comparação com outras sub-regiões do Jura, o solo conta com maior participação de calcário e alta presença de pedras na superfície, o que favorece o cultivo da Chardonnay.
Esta área desfruta de clima oceânico fresco e fortemente chuvoso, marcado por influências continentais: alta amplitude térmica anual, em torno de uma média de 10,5°C, e verões quentes e úmidos. A precipitação anual excede 1000 milímetros e tem boa distribuição ao longo do ano.
Produtores
Por conta de sua pequena área, L’Étoile conta com um número reduzido de produtores. O principal destaque fica a Domaine de Montbourgeau, fundada em 1920 e que controla cerca de nove hectares de vinhedos, com destaque para a Chardonnay, com mais de 75% da área plantada. Outros produtores são o Château de l’Etoile, com quase 16 hectares (dos quais 60% plantados com Chardonnay) e Domaine Philippe Vandelle, com 13 hectares, também tendo a uva originária da Borgonha como majoritária.
Porém, há também produtores sediados fora da área da denominação de origem com vinhedos em L’Étoile. Entre eles, destaque para Domaine Cartaux-Bougaud, Domaine Geneletti e Les Chaix du Vieux Bourg.
Fontes: Cahier des Charges de l’Appellation d’Origine Contrôlée L’Etoile; Jura Wine, Wink Lorch; Jura Vins
Imagens: © Jérôme Genée/Jura Tourisme, Domaine Rolet
Mapa: Comité Interprofessionnel des Vins du Jura
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