Priorato, juntamente com a Rioja, é uma das duas únicas denominações de origem espanholas que podem estampar em seus rótulos a expressão Denominación de Origen Calificada (DOCa em castelhano ou DOQ em catalão). Este status especial evidencia a foco de ambas as regiões na qualidade e processos rigorosos. Porém, no que diz respeito ao mapeamento e classificação de seus vinhedos, uma delas leva clara vantagem.
Apesar do projeto de Viñedos Singulares desenvolvido na Rioja, é inegável que o Priorato tenha evoluído mais rapidamente no sentido de classificar seus vinhos e vinhedos de acordo com as peculiaridades de seu terroir. A partir da safra 2017 o Priorato colocou em prática uma classificação de seus vinhos que, ao contrário do tempo de permanência em carvalho, leva em consideração exclusivamente a localização dos vinhedos e processos produtivos. Vale a pena conhecer melhor o projeto Els Noms de la Terra.
Inspiração borgonhesa
A forma mais fácil para entender a classificação dos vinhos do Priorat é compará-la com a classificação da Borgonha. Na base da pirâmide aparecem os vinhos regionais, que são produzidos com uvas cultivadas em qualquer área dentro dos limites da denominação e são rotulados como DOQ Priorat. O segundo degrau é chamado de Vi de Vila e, aprovado em 2007 (foi a primeira área na Espanha a implantar este conceito) corresponde aos Villages da Borgonha.
O patamar seguinte é o Vi de Paratge, que seria comparável ao conceito de lieu-dits na Borgonha. Neste caso, são áreas específicas que, por decisão do Consejo Regulador, não figuram nas categorias seguintes. Por fim, a parte superior da pirâmide tem dois níveis: Vinya Classificada (uma espécie de Premier Cru) ou Gran Vinya Classificada (o equivalente a um Grand Cru, o topo da classificação). É importante conhecer melhor cada uma delas.
DOQ Priorat
A base da pirâmide corresponde aos vinhos elaborados com uvas provenientes de qualquer área dentro da denominação de origem, incluindo blends com uvas de diferentes sub-regiões. Nesta categoria, que pode ser descrita como “vinhos regionais” existe grande flexibilidade em termos de processos e uvas utilizadas. As variedades tintas “recomendadas” e mais utilizadas são a Garnacha e Carignan (chamada localmente de Samsó), porém não há proporção mínima delas. As outras tintas autorizadas são Garnacha Peluda, Cabernet Sauvignon, Syrah, Cabernet Franc, Tempranillo, Merlot, Pinot Noir e Picapoll Tinto.
Já as variedades brancas autorizadas são Garnacha Blanca, Macabeo (chamada de Viura na Rioja), Pedro Ximénez, Chenin Blanc, Moscatel de Alexandria, Moscatel, Xarel-lo (conhecida localmente como Pansal), Picapoll Blanco e Viognier.
Priorat Vi de Vila
Criado em 2007, o conceito de vinho de vilarejo impõe restrições mais significativas. As uvas devem ser provenientes de vinhedos dentro das fronteiras de cada vilarejo, conforme definido pelo Consejo Regulador. No caso dos vinhos tintos, é obrigatório um mínimo de 60% Garnacha ou Carignan, elaborados a partir de vinhedos próprios ou em arrendamento por um período mínimo de sete anos.
Há condições também referentes à idade das vinhas e rendimentos. 90% das vinhas devem ter pelo menos 10 anos de idade e os restantes 10% devem ter pelo menos cinco anos. O rendimento máximo dos vinhedos para os vinhos tintos é 5.000 quilos por hectare, subindo para 7.000 kg/ha no caso dos brancos. Doze vilarejos dão origem aos Vi de Vila do Priorato. São eles: Bellmunt, Escaladei, Gratallops, El Lloar, La Morera, Poboleda, Porrera, Torroja, La Vilella Alta, La Vilella Baixa, Masos de Falset, Solanes del Molar.
Priorat Vi de Paratge
Estabelecido em 2017, permite o uso somente de uvas de um determinado local (paratge), com fronteiras previamente definidas pelo Consejo Regulador. Atualmente existem 459 paratges aprovados, alguns deles sem videiras plantadas. Isso coloca o conceito muito mais próximos dos lieux-dits do que os climats da Borgonha. Assim, a categoria Paratge representa um foco ainda maior nas características ligadas ao terreno, geologia e microclima de cada conjunto de parcelas.
A proporção mínima de Garnacha ou Carignan é mantida, porém, no caso de vinhedos arrendados, o período mínimo passa a 10 anos. O vinho deve seguir um processo de elaboração e envelhecimento totalmente reconhecível e independente dentro de uma vinícola. Também outros requisitos são mais estritos: 90% das vinhas devem ter pelo menos 15 anos de idade e os restantes 10% devem ter pelo menos cinco anos. O rendimento máximo cai para 4.000 quilos por hectare para os vinhos tintos e 6.000 kg/ha no caso dos brancos.
Assim como ocorre na Borgonha (existem Les Perrières em diversas denominações de origem, por exemplo), também no caso do Priorato alguns nomes aparecem em diversas áreas. Muitos Paratges são tradicionalmente chamados de aubagues (manchas sombreadas), solanes (manchas ensolaradas) ou referidos à geografia da área (plana, coll, costes). Por conta disso, o nome do vilarejo muitas vezes foi adicionado.
Priorat Vinya Classificada
Equivalente ao Premier Cru da Borgonha, as uvas devem ser provenientes de um vinhedo único, classificado pelo Consejo Regulador. As condições mínimas de arrendamento dos vinhedos, proporção mínima de Garnacha/Carignan e rendimentos são equivalentes à categoria anterior. Porém, a idade média das vinhas velhas aumenta: 80% dos vinhedos devem ter ao menos 20 anos e o restante pelo menos cinco.
Três vinhos recebem atualmente designação Priorat Vinya Classificada. São eles: Clos Mogador (do produtor de mesmo nome) em Gratallops e dois vinhos elaboradas por Viticultores Mas d’en Gil em sua propriedade em Bellmunt: o branco Coma Blanca e o tinto Clos Fontà.
Priorat Gran Vinya Classificada
Este é topo da pirâmide de classificação do Priorato, equivalente aos Grands Crus. Diversas condições de cultivo e produção são ainda mais estritas que a categoria anterior. No caso dos vinhos tintos, é obrigatório um mínimo de 90% Garnacha ou Carignan. A idade média das vinhas também muda: 80% das vinhas devem ter pelo menos 35 anos de idade e os restantes 20% pelo menos dez anos. O rendimento máximo para os vinhos tintos é 3.000 quilos por hectare, e de 4.000 kg/ha no caso dos brancos.
L’Ermita Velles Vinyes Priorat, produzido por Álvaro Palacios foi primeiro a qualificar-se como Gran Vinya Classificada em 2017. É um corte onde a Garnacha predomina, geralmente com mais de 80%. Tem uma produção minúscula (cerca de 2.500 garrafas) e preço correspondente (em torno de € 1.000 na Europa). Desde então, dois outros vinhos receberam a mesma classificação: Vall Llach Mas de la Rosa (Celler Vall Llach) e 1902 Tossal del Bou (Celler Mas Doix).
Fontes: Pliego de Condiciones de la Denominación De Origen Calificada Priorat; The Wines of Spain, Julian Jeffs; Datos de las Denominaciones de Origen Protegidas de Vinos (DOPS) Campaña 2020/2021; Consell Regulator DOQ Priorat; DOQ Priorat: a thousand years of winegrowing; Spanish Wine Lover
Mapas: Priorat Denominació d’Origen
Imagens: Marc Pascual via Pixabay
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