Os chamados “vinhos de entrada” são uma excelente oportunidade para avaliar o trabalho de diferentes produtores lado a lado. Esta foi a intenção desta degustação, que deu sequência a uma já realizada anteriormente, degustando Bougogne Rouge da safra 2019. Esta denominação de origem, vale lembrar, permite o uso de uvas de diferentes regiões da Borgonha. A seguir, a descrição dos nove vinhos degustados.
Bourgogne Pinot Noir, Jean-Marie Fourrier 13%
Jean-Marie Fourrier dispensa apresentações. Este vinho foi elaborado combinando videiras próprias mais jovens com uvas de terceiros. Uvas 100% desengaçadas e estágio de 12 meses em carvalho francês, com apenas de 20% de barricas novas, sem filtração ou colagem.
Olfativo sedutor e equilibrado, com frutas vermelhas, notas de ervas verdes e chá, com um palato de alta acidez, corpo médio e taninos finos e delicados. Foi um dos destaques do painel, um vinho fresco e vertical, com fruta de alta qualidade. Importado pela Clarets.
Bourgogne Pinot Noir, Arnaud Ente 13,5%
Um unicórnio, com produção pouco superior a 1.200 garrafas. Teve sua origem em uvas de cultivo orgânico certificado de dois lieux-dits: Les Champans em Puligny-Montrachet e Les Magnys em Meursault. Uvas 75% desengaçadas, curta maceração semi-carbônica, sem passagem por madeira.
Um grande vinho. Preciso e de excelente profundidade para um Bourgogne Rouge, trouxe uma explosão de frutas. Equilibrado, sedoso e complexo, um vinho sedutor que precisa de mais tempo para chegar ao seu auge. Não é importado no Brasil, na Europa custa na faixa de € 200.
Bourgogne Pinot Noir, Maison de Montille 13%
Boa parte das uvas, de cultivo orgânico e biodinâmico, provem do lieu-dit Les Longbois, em Volnay, com o restante tendo origem nos vinhedos do Château de Puligny-Montrachet. Na vinificação, um terço das uvas usadas era de cachos inteiros, com fermentação em barris de carvalho usando exclusivamente leveduras indígenas. O vinho fez estágio em barricas, das quais apenas 5% novas.
Pense em um vinho delicioso, com olfativo intenso e sedutor, cheio de energia e vivacidade. No visual, coloração púrpura de média concentração, com nariz perfumado com uma combinação de frutas vermelhas/negras e notas florais. Na boca, trouxe boa acidez, taninos picantes, corpo médio, um Pinot Noir equilibrado e com muita presença de fruta. Mistral.
Bourgogne Cuvée des Peupliers, Laurent Ponsot 13,5%
Laurent Ponsot é bastante econômico na descrição de seus vinhos, com poucas informações sobre origem das uvas e técnicas de vinificação. Neste caso, as poucas informações são que as uvas usadas são parcialmente de vinhedos próprios e parte de terceiros e de que o vinho não passa por madeira. Porém, bebemos vinhos e não descrições, certo?
Um Bourgogne Rouge refinado e equilibrado. No olfativo, mostrou notas intensas de frutas vermelhas (cereja e framboesa) frescas e puras, com notas de romã, florais e discreta erva. Já no palato, um vinho de alta acidez, corpo médio e tanino macio e comportado. Picante, leve e vibrante, com fruta de alta qualidade novamente se destacando também no palato. Não precisou de muita profundidade para mostrar seu pedigree. Vinho Veritas.
Bourgogne Pinot Noir, Philippe Chéron 14,5%
Philippe Chéron cultiva apenas Pinot Noir e, na vinificação, ele segue os princípios de Henri Jayer, com longa maceração pelicular a frio, sem uso de engaços. Este Bourgogne Rouge foi elaborado a partir de uvas de dois lieux-dits adjacentes, Grand Champ e Prunier, ambos em Gevrey-Chambertin. Fermentação espontânea e estágio de 15 meses em barricas de carvalho.
Um vinho com a “cara” de Gevrey-Chambertin: rubi de alta concentração, com aromas de frutas negras e leve nota terrosa. Na boca, boa acidez, taninos intensos, muita fruta madura, um Pinot Noir mais profundo e denso, que ganhou muito com mais tempo em taça. Um vinho a ser revisitado alguns anos à frente. Élevage.
Bourgogne Les Prielles, Berthaut-Gerbet 14%
As uvas usadas na elaboração deste vinho têm origem no lieu-dit Les Prielles, em Fixin, a partir de uma parcela de um hectare de vinhas velhas de mais de 40 anos. Na vinificação, fermentação em concreto e estágio de 10 meses em barris de carvalho usado. Esta madeira se fez bem presente, tanto no gustativo como no palato. Coloração granada de média concentração, com nariz marcado por notas tostadas e frutas vermelhas e negras. Na boca, mostrou boa acidez, corpo médio e taninos mais firmes, também trazendo notas de tosta e leve amargor. Clarets.
Bourgogne Cuvée MCMXXVI, Domaine Laurent Père et Fils 15%
Conhecido por sua atividade como micro-négociant, Dominique Laurent decidiu lançar também vinhos a partir de vinhedos próprios, que ele foi adquirindo ao longo dos anos. Para este vinho, uvas provêm de uma parcela de Nuits-Saint-Georges, de cultivo orgânico. Fermentação com cachos inteiros e estágio em barricas de carvalho, incluindo madeira nova.
Um Bourgogne Rouge mais denso e carnudo, que parece uma boa aposta para guarda. Coloração rubi de alta concentração, com olfativo destacando fruta madura (mais negra que vermelha), com notas de menta, toque floral e madeira. No palato, um vinho mais intenso, de boa acidez e taninos presentes, onde o peso de boca se sobressai mais que a tensão. World Wine.
Bourgogne Pinot Noir, Régis & Sylvain 13%
Elaborado com uvas da região de Mâcon, próximo a La Roche Vineuse. Vinificação tradicional, com estágio de cinco meses em barricas de carvalho Cadus 60% novas. Um vinho que aparentou mais idade, com coloração granada média e olfativo marcado por aromas de frutas maduras e notas terciárias, com destaque para um toque mais intenso de couro e leve terroso. No palato, um Pinot Noir leve e de boa acidez, com corpo e taninos médios, já no seu ápice de evolução. Cellar.
Bourgogne Pinot Noir, Domaine de Rochebin 12,5%
Um vinho que entrou no painel como uma espécie de “coelho”, por conta de sua faixa de preço bem inferior aos demais. Uvas da região do Mâconnais, com vinificação tradicional. Um vinho mais simples, se mostrou leve, com presença de fruta mais doce, taninos menos elegantes, sem grandes atrativos. Zahil.
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