Cavallotto, vinícola que começou a engarrafar seus próprios vinhos em 1948, é um dos nomes que melhor representam o classicismo no Barolo. A quinta geração da família, liderada pelos irmãos Giuseppe, Laura e Alfio e que passou a controlar a vinícola no final do século passado, optou por manter a tradição de seus ancestrais.
As duas últimas décadas do século XX foram uma época quando muitos produtores locais optaram por elaborar vinhos mais densos e concentrados, com uso intenso de barricas no envelhecimento. Mas os irmãos Cavallotto decidiram manter as técnicas de vinificação clássicas, com longas macerações e fermentações, além do uso dos tradicionais botti. Uma declaração de Giuseppe resume a filosofia da vinícola: “queremos elaborar vinhos que tenham os sabores e que evoluam como Barolo, um grande e único vinho que não pode ser feito em qualquer outro lugar”.
Baixa intervenção e cuidados nos vinhedos
Além do uso de técnicas tradicionais, a Cavallotto se define como uma vinícola de baixa intervenção. Na fermentação alcóolica, há uso apenas de leveduras indígenas, sem adição de bactérias para acelerar a fermentação maloláctica. Também o cuidado com os vinhedos chama a atenção, com adoção de práticas mais naturais desde os anos 1970.
Muito antes que princípios orgânicos se tornassem moda nos vinhedos europeus, a Cavallotto já havia seguido este caminho. Desde os anos 1970 os vinhedos não recebem pesticidas químicos e diversas técnicas garantem uvas mais puras. Entre elas, destaque para o uso de cobertura vegetal entre as fileiras de videiras, reintrodução de espécies para controlar pragas, utilização de humus como fertilizante natural e tratamento das videiras com compostos naturais, produzidos a partir de ervas e própolis.
Atualmente, todos os seus vinhos são elaborados a partir de vinhedos próprios, situados na colina de Bricco Boschis. Estes vinhedos, localizados em Castiglione Falletto, foram adquiridos pela família em 1928. Foi um prazer participar da prova com alguns de seus vinhos, trazidos ao Brasil pela Clarets. Minhas impressões abaixo:
Dolcetto, Barbera e Freisa
Bricco Boschis Dolcetto d’Alba Vigna Scott 2020, 13% – Elaborado com vinhas plantadas em 1979, se mostrou um Dolcetto mais austero. Com aromas elegantes de frutas vermelhas (cereja selvagem) e florais (lavanda), não trouxe alguns dos excessos de tantos vinhos desta variedade do Piemonte. Um vinho de boa acidez, taninos presentes e corpo médio, trouxe menos fruta também no palato, uma expressão mais séria e precisa desta variedade. Muito bem construída, é uma cuvée oferecida a R$ 239,40, após desconto.
Bricco Boschis Langhe Freisa 2019, 14% – Mostrou com uma personalidade em linha com o anterior, porém destacando as características desta variedade. Coloração rubi de média concentração, com olfativo marcado por aromas de frutas vermelhas e notas florais mais presentes. Um vinho mais intenso, com alta acidez, taninos mastigáveis e bem presentes, além de corpo médio e longa persistência. Outro vinho bastante interessante, com preço de R$ 299,40.
Bricco Boschis Barbera d’Alba Vigna del Cuculo 2020, 14,5% – Produzido a partir de vinhas velhas, plantadas em 1962, mostrou maior intensidade e expressão mais destacada de fruta, com mais amplitude e estrutura. Mostrou coloração rubi de alta concentração, com notas mais intensas de ameixa e notas mentoladas, um vinho de alta acidez, corpo médio e taninos presentes. Com fruta bem presente e mais denso e “gordo”, é um daqueles Barberas que certamente ganharão muito com mais tempo em garrafa. Preço de R$ 399,60.
Langhe Nebbiolo e Barolo
Bricco Boschis Langhe Nebbiolo 2018, 14,9% – O Nebbiolo de entrada da vinícola, mas que evidencia o estilo mais tradicional de vinificação da Cavallotto. Com boa acidez, taninos presentes e corpo médio, mostra mais austeridade que a maioria dos Langhe Nebbiolo. Claramente evidencia uma proposta de vinho que não privilegia apenas o consumo imediato, até para melhor integrar os taninos e amenizar uma discreta sensação de álcool. Preço de R$ 399,60.
Bricco Boschis Barolo Riserva Vigna San Giuseppe 2015, 15% – Uma linda expressão de um Barolo tradicional, que irá evoluir e mostrar todas as suas qualidades com mais alguns anos na adega. No olfativo, trouxe grande complexidade aromática, com as ‘tradicionais” notas de frutas vermelhas, rosas, couro e discreto toque de piche. Um grande vinho, com alta acidez e taninos presentes e finos, aliando estrutura e profundidade a frescor e elegância. Valor de R$ 1.899,60.
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