Nos últimos anos, a produção e consumo de vinhos orgânicos registrou forte crescimento. Impulsionada pela demanda de consumidores mais jovens e com maior preocupação com sustentabilidade e meio ambiente, os vinhos orgânicos ganharam participação em praticamente todos os mercados produtores, sobretudo na Europa. Cerca de 18% dos vinhedos franceses eram orgânicos em 2021, acima de Suíça (16%), Espanha (15,3%), Áustria (15,2%) e Itália (14,7%).
Esta tendência alimentou expectativas bastante positivas para o desempenho deste setor nos próximos anos. Dados do relatório Organic Wine Market Forecast to 2028, publicado pela The Insight Partners mostram isso. Suas projeções apontam que o mercado global de vinhos orgânicos atingirá um faturamento de US$ 24,55 bilhões em 2028, um crescimento anual médio de 12% em relação ao patamar atual, de US$ 12,47 bilhões. Porém, o que se viu nos últimos meses pode ser um balde de água fria para estas previsões.
Mudança no padrão de consumo
Desde 2021 foi registrada uma repentina mudança de trajetória. A maior inflação causada pelo conflito na Ucrânia e pelo aumento nos preços das commodities resultou em uma alteração nos padrões de consumo, sobretudo na Europa. Com o orçamento mais apertado, milhões de europeus passaram a buscar alternativas mais baratas de consumo. Por exemplo, ao invés de vinho, que tal cerveja?
E esta queda no consumo, que gerou um enorme aumento nos estoques de vinho, acabou também refletido sobre o segmento de vinhos orgânicos. De acordo com a revista alemã WeinVirtschaft, as receitas e os lucros dos agricultores orgânicos (não somente de uvas ou vinhos) foram especialmente atingidos nesta era de inflação e redução do poder de compra.
A preferência dos consumidores por produtos orgânicos parece estar diminuindo, cada vez mais substituída por um foco em produtos locais, independentemente de serem orgânicos ou produzidos convencionalmente. Uma pesquisa de 2017 com consumidores revelou que 30% dos entrevistados franceses queriam mais opções orgânicas. No entanto, em 2021, esse número caiu para apenas 18%, de acordo com a mesma pesquisa. Vale lembrar que, de forma geral, os produtos orgânicos (inclusive o vinho) são mais caros que os de agricultura convencional.
Custos mais altos e subsídio
Esta queda na demanda colocou em xeque os produtores que já atuam ou estão pensando em converter seus vinhedos para a agricultura orgânica. Uma enquete realizada na França pelo Banque Populaire Caisse d’Epargne (BPCE) mostra isso. Realizada junto a 1.251 agricultores, incluindo 384 viticultores no início deste ano, mostra que 6% dos viticultores orgânicos certificados ou em conversão planejam abandonar a agricultura biológica no prazo de cinco anos.
O motivo mais citado é a forte queda de rentabilidade, já que os custos seguiram em alta e os preços não parecem reagir, por conta de estoques muito elevados. Dentro deste contexto, por conta da fragilidade financeira dos produtores orgânicos, o governo francês decidiu agir. O Ministério da Agricultura anunciou um pacote de ajuda aos agricultores orgânicos, orçado em € 60 milhões.
Segundo as autoridades francesas, esta medida visa aliviar as perdas que estes agricultores enfrentam como resultado da crise econômica em curso, que é em si uma consequência da guerra russo-ucraniana. São elegíveis para este auxílio todos os produtores que já estejam certificados como orgânicos ou em processo de transição. No entanto, devem satisfazer dois critérios específicos: uma perda mínima de 20% no seu excedente bruto de exploração (calculado como o valor criado menos os custos de pessoal, mas incluindo a depreciação) e uma redução mínima de 20% na liquidez.
Fontes: Meininger’s; Vitisphere
Imagem: alohamalakhov via Pixabay
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