Se no passado a região de Barolo ficou marcada pela “disputa” entre modernisti e tradizionalisti, atualmente a diversidade é muito maior em termos de estilos. E um nome que certamente tem chamado a atenção é Cesare Bussolo. Enólogo e braço direito de Roberto Voerzio desde 2007, Bussolo lançou seus primeiros vinhos em 2014, chegando atualmente a uma produção anual na casa de 15 mil garrafas.
É inegável que seus vinhos remetam àqueles de seu mentor. Por conta das estratégias adotadas no cultivo dos vinhedos (seja poda verde agressiva ou plantio de vinhedos de alta densidade) como na vinificação, são vinhos superlativos. Uso esta expressão para definir vinhos onde o equilíbrio é atingido com tudo em abundância, seja presença de fruta, intensidade, corpo, densidade ou teor alcóolico. São expressões particulares dos vinhos do Piemonte.
Busca por uvas puras e mais concentradas
Os vinhedos são trabalhados de forma praticamente orgânica, sem uso de pesticidas sintéticos, herbicidas ou fertilizantes químicos. Um importante diferencial, assim como adotado por Voerzio, é o controle de rendimentos. As podas verdes são intensas, com produção máxima variando entre 800 gramas e um quilo por planta, algo que impulsiona de forma dramática a concentração das uvas.
Além disso, em alguns vinhedos (onde teve a possibilidade de replantio), Bussolo optou por alta densidade de videiras. Ela chegou a 8.000 plantas por hectare, lembrando que a densidade “normal” em Barolo fica entre 3.500 e 4.500 plantas). O objetivo? Aumentar a concentração das uvas, com óbvios reflexos nos vinhos produzidos.
Práticas de baixa intervenção na adega
Na vinificação, as uvas passam por fermentação com uso exclusivo de leveduras indígenas em tanques de inox, muitas vezes seguindo o calendário biodinâmico. À exceção de seu Dolcetto, os vinhos passam por estágio em barris de carvalho, a maioria usados, sendo engarrafados sem filtração.
Tive o prazer de degustar cinco cuvées distintas produzidas por Bussolo em uma prova organizada pela Élevage, importadora de seus vinhos no Brasil. Independentemente do seu estilo preferido de Piemonte, são vinhos que abrem novas perspectivas e que devem fazer parte do seu “rol de sensações, aromas e sabores” desta região. Abaixo mais informações e minhas impressões sobre cada um deles.
Barolo del Comune La Morra 2018, 14,5%
A primeira poda verde em julho resultou no corte de 65% dos cachos, com outra em agosto, resultando em pouco menos de 1 kg por uvas por vinha. Foram aproximadamente 20 dias de fermentação alcóolica e 60 dias de fermentação malolática, com o vinho fazendo estágio de 24 meses em barris de carvalho, dos quais 20% novos. Produção de 4.068 garrafas nesta safra.
Resultado de uma safra desafiadora como 2018, trouxe, no olfativo, aromas intensos de frutas vermelhas, com notas de carvalho, especiarias e rosa. Na boca, um vinho ainda jovem e que requer ainda vários anos de guarda, com alta acidez, taninos finos e presentes. Muito concentrado e profundo, era comercializado a R$ 1.515 em julho de 2023.
Barolo Fossati 2018, 14,5%
Foi elaborado a partir de uvas de uma parcela deste vinhedo, situado no sul da sub-região de La Morra e considerado um dos grandes vinhedos na região. Alugado por 20 anos junto a Roberto Voerzio, teve práticas no vinhedo similares ao anterior. O mesmo ocorreu na vinificação, o que permitiu uma interessante comparação.
Um vinho mais complexo, profundo e longo, mostrando que terroir é algo que sempre deve ser levado muito a sério no Barolo. Olfativo com frutas vermelhas e floral intenso, já com notas de couro e alcatrão. Palato marcado por alta acidez, fruta bem presente, taninos arenosos e marcantes, textura bem definida e muita elegância. Um vinho especial, com preço de R$ 2.365
Barbera d’Alba Santa Lucia 2019, 14%
Elaborado a partir de um vinhedo próprio, mas replantado em 2010 com densidade de aproximadamente 8.000 vinhas/hectare, gerando uma produção de 1 kg/vinha. Na adega, foram 25 dias de fermentação alcóolica e 40 dias de fermentação maloláctica, com 12 meses em barricas de carvalho, 18% novas.
Um vinho mais vertical e de menor textura, com notas de frutas vermelhas, erva, alcatrão e chocolate no nariz. Já no gustativo, boa acidez, tanino presente, leve verdor e fruta mais azeda. Um Barbera com boa tipicidade, vendido a R$ 445.
Barbera d’Alba Roscaleto 2018 15,5%
A cuvée mais rara de Bussolo, com produção de 900 garrafas nesta safra. Se a poda verde parecia extrema nos Barolos, aqui foi além, resultando em apenas quatro ou cinco cachos de 100 gramas por planta. Aproximadamente 30 dias de fermentação alcóolica e 70 dias de fermentação maloláctica, com 24 meses em barris de carvalho, 28% novos.
Um Barbera único, certamente a palavra superlativo o descreve muto bem. No olfativo, trouxe uma explosão de frutas, com aromas de cereja, chocolate e notas florais. No palato, um vinho de alta acidez, taninos redondos, muita concentração, denso, longo e profundo, com fruta muito presente. Valor de R$ 1.960.
Dolcetto San Bartolomeo 2020, Cesare Bussolo 12,5%
Outro vinhedo replantado (desta vez em 2014) com densidade de 7.800 plantas por hectare. Por conta da poda verde, resultou em apenas 0,8 quilo por planta. Na adega, 15 dias de fermentação alcóolica e 30 dias de fermentação maloláctica, com estágio de um ano em tanques de inox até o engarrafamento, observando a lua minguante.
Um vinho mais leve e fresco, mas que na comparação com outros Dolcetto certamente se mostra mais denso e estruturado. Notas florais e de blueberry no olfativo, com boca marcada por boa acidez, taninos presentes e corpo médio, com equilíbrio e frescor. Valor de R$ 249.
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