Quem aprecia vinhos portugueses certamente já se deparou com a variedade Baga. Ela é muito utilizada na elaboração de vinhos na região da Bairrada, onde é a uva principal, e, também, no Dão, onde é a quinta mais plantada. É uma variedade polivalente, dando origem não somente a vinhos tintos, mas também rosés e espumantes, tanto brancos como tintos.
Por conta de sua alta produtividade, foi por muito tempo considerada como uma variedade mais adequada para produzir vinhos baratos e a granel, e foi tratada como tal até a década de 1980. Isso, porém, mudou radicalmente nos últimos anos, e sua capacidade de originar vinhos de alta qualidade, quando existe um controle de produtividade, é evidente. Gradualmente vem ganhando mais espaço, tanto na Bairrada como em outras regiões portuguesas, embora com limitada presença internacional.
Origem e histórico
Apesar de ser a uva símbolo da Bairrada, ainda não existem informações precisas sobre sua origem. Há documentos dos séculos X e XI indicando que esta região já estava envolvida com a viticultura. Porém, em 1760, o Marques de Pombal mandou arrancar os vinhedos da região para proteger os vinhos do Porto, que somente voltaram a ser plantados após decreto de D. Maria I no início do século XIX. Não existem registros sobre quais variedades eram plantadas.
Estudos recentes também encontraram dificuldades em identificar um parentesco genético com outras variedades portuguesas. O que se sabe atualmente é que ela tem uma relação genética com a Malvasia Fina.
Características e vinhos
É uma variedade de muito vigor e excelente resistências às doenças fúngicas, como o míldio e oídio, embora seja bastante sensível à podridão cinza. Por conta de sua maturação tardia, é uma casta que necessita de muito cuidado nas vinhas. Para Filipa Pato, uma das principais produtoras da nova geração de vinhateiros portugueses, a maior dificuldade é obter homogeneidade de taninos, já que, em geral, há um perfil heterogêneo de maturação das frutas.
Com cachos médios e cônicos, além de frutas pequenas e de cascas grossas e coloração negro-azuladas, é uma variedade de alta acidez natural, o que explica seu uso também na elaboração de espumantes. Por conta de seu perfil de taninos e acidez, além de sua capacidade de não gerar vinhos muito alcóolicos, é muitas vezes comparada com a Pinot Noir e a Nebbiolo.
Historicamente, boa parte dos vinhos elaborados com a Baga mostra elevada presença de taninos, boa acidez e coloração intensa, com presença de frutas negras. Por conta de deste perfil, muitos produtores optaram pelo uso de carvalho no envelhecimento. Isso dá origem a vinhos de longo potencial de guarda, com aromas de café, erva seca, tabaco e fumo. Porém, recentemente, uma nova geração de produtores tem trabalhado com menor extração e colheitas menos tardias, resultando em vinhos mais frescos e delicados, além de passíveis de consumo mais rápido.
Área plantada e nome alternativos
Segundo dados da OIV, a área plantada de Baga ao redor do mundo, em 2015, era de 7.062 hectares, inteiramente concentrados em Portugal. Dados mais recentes (2018) divulgados pelo Instituto da Vinha e do Vinho de Portugal, indicam 6.855 hectares de videiras, o que a colocava como a sétima variedade mais plantada em Portugal.
Deste total, aproximadamente 5.930 hectares eram plantados na região da Beira Atlântica (que inclui a denominação de origem Bairrada), onde correspondia a cerca de 40,5% da área de videiras. Considerando somente a Bairrada, esta proporção sobe para cerca de 80%. Além desta região, os números de 2018 mostraram 719 hectares plantados no Dão (onde é a quinta uva mais plantada), além de vinhedos em Trás-os-Montes, Douro e Alentejo.
Apesar de sua pequena diversidade geográfica, a Baga recebe uma grande quantidade de outros nomes, com destaque para Tinta da Bairrada. Os outros nomes são: Baga de Louro, Baguinha, Bairrada, Bairrado Tinta, Baya, Carrasquenho, Carrega Burros, Goncalveira, Morete, Moreto, Paga Dívidas, Poeirinha, Poeirinho, Povolide, Preiinho, Pretinho, Preto Rifete, Rifete, Rosete, Tinta Bairrada, Tinta Bairradina, Tinta de Baga, e Tinta Fina.
Fontes: Foundation Plants Services Grapes, UC Davis; Distribution of the World´s Grapevine Varieties, OIV; Entrevista com Filipa Pato; Instituto da Vinha e do Vinho; Wines of Portugal; Vine Pair; Comissão Vitivinícola da Bairrada
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