Barcelona, uma das mais bonitas cidades da Europa, tem um estilo de vida ligado ao Mediterrâneo, com muito sol e excelente gastronomia. E o vinho não poderia faltar, até porque a capital da Catalunha fica muito próxima de diversas regiões produtores, com destaque para o Penedès. Situada a cerca de 30 km ao sul de Barcelona, esta região é origem de uma parcela significativa dos vinhos da Catalunha.
No total, são cerca de 30.000 hectares de vinhedos, com uma peculiaridade. Ao contrário de diversas regiões vinícolas, onde existe apenas uma denominação de origem, no caso do Penedès são duas (que inclusive se sobrepõem em algumas áreas). Além da DO Penedès, com cerca de 2.500 hectares, existe também a DO Cava, conhecida pelos seus espumantes. Até pela complexidade da DO Cava (que inclui áreas em outras regiões, tão distantes como a Rioja) vamos focar aqui na DO Penedès.
Uma longa história
Os vínculos da região de Penedès com o vinho são muito antigos, o que a coloca como um dos berços da viticultura na Península Ibérica. Evidências arqueológicas indicam que o cultivo de uvas chegou à região pelas mãos dos fenícios, ainda no sexto século antes de Cristo. O maior impulso para a região, porém, foi dado pelos romanos, com esta área fazendo parte da província da Hispania Citerior, posteriormente Hispania Taraconensis.
Além das atividades na região, o que é hoje a área vinícola do Penedés ficava às margens da mais importante rota comercial romana da Península Ibérica, a Via Herculea, também conhecida como Via Augusta. Isso trouxe à região também os benefícios do comércio, integrando a região ao vasto Império Romano.
Boom e tendências do século XX
O maior boom da viticultura na região, porém, ocorreu muito depois, já no século XIX. Por conta do impacto devastador da filoxera na França e outras regiões europeias, negociantes e produtores buscaram outras áreas (na época ainda não afetadas pela praga) para plantar uvas e produzir vinhos. Assim como no caso da Rioja, também na Catalunha projetos de grande porte foram desenvolvidos, impulsionando a vinicultura.
No caso do Penedès, um nome de peso foi o de Josep Raventós, patriarca da família Codorniú. Em 1872 foram elaborados os primeiros espumantes com método tradicional na região, já com grande parcela destinada à exportação. A chegada da filoxera à região em 1887 acelerou esta tendência, com boa parte dos vinhedos sendo replantada com variedades brancas.
Durante boa parte do século XX, o foco principal da região ficou mais para a quantidade do que qualidade, com rendimentos elevados e colheita mecanizada. A década de 1970 viu crescimento exponencial do plantio de variedades francesas, como Chardonnay, Cabernet Sauvignon e Syrah. Porém, nas últimas décadas, as variedades autóctones ganharam mais espaço, com uma busca maior pela qualidade.
Terroir e sub-regiões
O clima do Penedès é tipicamente mediterrâneo, com verões quentes e dois longos período de seca quase todos os anos (um no inverno, outro no verão). Em termos de solos, boa parte da região foi fundo de mar no período Jurássico, garantindo uma alta concentração de calcário, assim como na Borgonha ou Champagne.
O Penedès pode ser dividido em três macro-regiões. Baja Penedès (ou Penedès Maritim, em verde e rosa no mapa abaixo) é a área mais quente, próxima ao Mediterrâneo, com solos com maior proporção de calcário. Medio Penedès (ou Penedès Central) agrega a área central, com solos de maior proporção de argila nos vales, onde há um foco maior em alto volume de produção. Por fim, o Penedès Superior, em verde claro, é composta pelas áreas mais altas e distantes da costa.
Explorando a diversidade de seu terroir, o conselho da denominação de origem optou por dividir a área do Penedés em sub-regiões, segmentadas pelo seu perfil de solos e outras características do terroir. Embora os estudos indicassem cerca de 90 perfis diferentes, as autoridades optaram por dez sub-regiões. São elas: Alts d’Ancosa, Conca del Foix, Costers de l’Anoia, Costers de Lavernó, Costers del Montmell, Marina del Garraf, Massís del Garraf, Muntanyes d’Ordal, Turons de Vilafrana e Vall Bitlles-Anoia. Estes nomes podem ser usados nos rótulos dos vinhos como anexo à DO Penedés, por opção do produtor.
Uvas brancas
O regulamento da denominação de origem permite o uso de uma ampla gama de uvas, sobretudo no caso das brancas. São aprovadas ou recomendadas: Macabeu (chamada de Viura na Rioja), Xarel-lo, Parellada, Subirat Parent, Garnacha Blanca, Moscatel de Alexandria, Muscat de Frontignan, Malvasía de Sitges, Chardonnay, Sauvignon Blanc, Riesling, Gewürztraminer, Chenin Blanc, Sumol Blanc, Viognier, Xarel-lo Rosat e Forcada.
Duas variedades, porém, merecem atenção especial. A Xarel-lo é uma uva com grande adaptabilidade ao clima da região, resistindo bem ao calor, seca e solos pobres. Atualmente tem cerca de 700 hectares plantados na DO Penedès e dá origem a vinhos de alta acidez e longo potencial de guarda.
Já a Malvasia de Sitges, considerada uma uva autóctone, está vivendo um período de retomada. Estima-se que sua área plantada tenha atingido quase 100 hectares no século XVIII, mas progressivamente caiu para não mais de 10 hectares em 2010. Atualmente, porém, considerando seu potencial e elevada acidez (comparável à da Riesling) já soma cerca de 90 hectares somente na DO Penedès.
Uvas tintas
Embora menos plantadas que as brancas, as uvas tintas apresentam grande diversidade, com uma larga gama de variedades permitidas. São elas: Ull de llebre (como a Tempranillo é chamada na Catalunha), Garnacha Negra, Samsó, Monastrell, Sumoll, Cabernet Sauvignon, Merlot, Pinot Noir, Syrah, Cabernet Franc, Petit Verdot e Moneu.
Um dos destaques fica com a Sumoll, comparada por alguns com a italiana Nebbiolo e a grega Xinomavro. Por ser uma variedade que dá origens a vinhos com perfil de fruta mais discreto, taninos presentes, alta a acidez e coloração mais clara, perdeu espaço no final do século XX, por questões comerciais. Com a mudança nos padrões gustativos nos últimos anos, voltou a ganhar importância.
Tipos de vinhos
A denominação de origem Penedés permite uma enorme diversidade em termos de vinhos produzidos. São permitidos desde espumantes até vinhos licorosos de sobremesa, passando por brancos, rosés e tintos tranquilos. Em relação aos vinhos tranquilos, existe uma escala de classificação de acordo com o tempo de estágio em carvalho (Joven, Crianza, Reserva e Gran Reserva), porém não de uso obrigatório.
Os espumantes também são um foco importante. Espumantes de qualidade fazem parte do DO Penedès desde seus primórdios, embora sempre em quantidades muito menores do que os vinhos tranquilos. Porém, a partir de 2013, vários produtores, muitos dos quais faziam parte da DO Cava, aderiram à denominação.
Em 2014 estes vinhos recebem a marca Clàssic Penedès, e novos regulamentos foram elaborados para definir melhor o produto. Os espumantes Clàssic Penedès podem ser feitos tanto pelo método tradicional como ancestral, com diversos requisitos importantes. Destaque para o objetivo de se tornar a primeira denominação de origem 100% orgânica para espumantes do mundo, a obrigatoriedade de 100% das uvas serem provenientes da denominação e o período mínimo de 15 meses em adegas.
Produtores de destaque
Existe um nome fortemente associado ao desenvolvimento e internacionalização dos vinhos do Penedès: Miguel Torres. Pode-se dizer que antes de Torres não existiam vinhos reconhecidos internacionalmente pela sua qualidade na região. Além de aportar novas técnicas (teve formação em enologia na Borgonha), também trouxe outras variedades para a região. Atualmente, além de cuvées de alta gama, a vinícola também trabalha com altos volumes, figurando dentre os maiores exportadores de vinho da Espanha.
Porém, essa denominação de origem não se resume a uma vinícola. Existem diversos produtores de vinhos de alta qualidade na região, com muitas de suas cuvées normalmente fazendo parte das listas de melhores vinhos da Espanha. Dentre os produtores de destaque, podemos citar Albet y Noya, Alemany i Corio, Bodegas Gramona, Cal Raspallet, Can Rafols dels Caus, Catellroig, Jané Ventura, Jean León, Josep Maria Raventós, Mas Can Colomé, Mas Candí, Parató, Parés Balta e Rene Barbier.
Fontes: Penedès Denominació d’Origen; DO Penedès: A Land of History and Tradition that looks Toward the Future, Álvaro Ribalta MW; The Wines of Spain, Julian Jeffs; Guia Peñin de los Vinos de España
Mapas: Penedès Denominació d’Origen
Imagem: Penedès Denominació d’Origen
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