Poucas são as denominações de origem francesas classificadas como monopole, ou seja, a extensão total de seus vinhedos pertence a apenas um proprietário. Cinco delas estão localizadas na Borgonha (Romanée-Conti, La Tache, La Romanée, La Grand Rue e Clos de Tart) e uma no Rhône (Château-Grillet). A sétima, criada em 2015, é a Coulée de Serrant AOC, que inclui um dos melhores vinhedos do Vale do Loire, cultivado desde 1130.
Desde 1962 de posse da família Joly, este vinhedo de pouco menos de 7 hectares tem uma longa história e muita tradição. Embora não haja referências sobre as uvas plantadas inicialmente, nos últimos séculos a Chenin Blanc tem sido soberana nesta área, que fica na margem direita do Loire e é considerada com um dos melhores terroirs para esta variedade no mundo.
Origens monásticas
Fundada em 1098 na Borgonha, a ordem dos cistercienses trouxe uma influência duradoura sobre a viticultura francesa. Seu maior impacto foi no que diz respeito ao cuidado com os vinhedos e definição do próprio conceito de terroir. E foram estes monges que fundaram uma abadia em Savennières, com vinhedos que incluíam a área atual do Clos de la Coulée de Serrant.
Os cistercienses, porém, não plantaram somente o que seria chamado de Clos de la Coulée de Serrant. Este vinhedo era apenas uma pequena parte da área cultivada pela ordem na região. O conjunto de vinhedos passou a ser conhecido coletivamente como Roche-aux-Moines (que, em uma tradução literal, significa “Rocha dos Monges”). Não se sabe exatamente, porém, quais variedades os monges cultivaram. Pode ter sido a Chenin Blanc, embora esta variedade só apareça em registros históricos a partir do século XV.
Nos séculos seguintes, parte dos vinhedos passou por diversos proprietários, inclusive os Serrant, que renomearam o vinhedo durante o século XIV. Há registros de posse de parte dos vinhedos pelas ordens religiosas até a Revolução Francesa, quando houve confisco e revenda das terras. O século XIX viu a divisão dos vinhedos de Roche-aux-Moines entre diversos proprietários, com o Clos de la Coulée de Serrant novamente mudando de mãos.
Monopole e as denominações de origem
A chegada da filoxera à região na segunda metade do século XIX representou outro marco importante. A posse do vinhedo passou a novos proprietários, que replantaram boa parte de sua área na década de 1920. Embora a aprovação das primeiras denominações de origem francesas tenha ocorrido na década de 1930, esta parte do Loire ficou para trás.
Foi somente em 1946 que se deu a criação da apelação Anjou-Coteau de la Loire. Savennières, por sua vez, passou a ter denominação própria a partir de 1952. Já a partir deste momento, tanto Coulée de Serrant como Roche-aux-Moines, embora fizessem parte da denominação Savenniéres, tiveram a qualidade de seu terroir reconhecida. Os vinhos de Coulée de Serrant, por exemplo, poderiam ser engarrafados como Savennières-Coulée de Serrant.
A criação da denominação de origem Coulée de Serrant se deu somente em 2011, com aprovação final em agosto de 2015. Dentre as denominações que se originaram a partir da Savernnières AOC, é, de longe, a mais exclusiva. Com 6,87 hectares de vinhedos é menor que Savennières Roche-aux-Moines AOC (19 hectares) e que a “desfalcada” Savennières AOC (350 hectares).
Terroir e parcelas
Sua “independência” em relação à Savennières AOC levou em conta seu terroir diferenciado. Coulée de Serrant fica na margem direita do rio Loire, a nordeste do vilarejo de Savennières e sudeste de Angers. A denominação fica entre os vinhedos da Savennières Roche-Aux-Moines AOC e aqueles da parte nordeste da Savennières AOC. Os vinhedos de Coulée de Serrant se concentram em uma elevação de orientação sul-sudeste, logo acima do Loire. Predominam os solos de xisto vermelho, que fazem parte do Maciço Armoricano.
A denominação Coulée de Serrant, porém, não corresponde exatamente à área do Clos de la Coulée de Serrant. Embora responda pela maioria da área delimitada e ocupe a parte central, com 3,98 hectares, o Clos original é uma das três parcelas que compõem a denominação de origem. Fazem parte da denominação também o Clos du Château, uma parcela de 0,86 hectare, e o lieu-dit Les Plantes, com 2,03 hectares.
Regulamento e único vinho
A única variedade autorizada na Coulée de Serrant AOC é a Chenin Blanc, que pode ser vinificada tanto seca como em estilo mais doce. Porém, Nicolas Joly e sua filha Virginie, que controlam o único produtor na região, optaram somente pelo primeiro estilo. Os rendimentos máximos são de 30 hectolitros por hectare para vinhos secos e 25 hl/ha para vinhos doces, bem abaixo daqueles da Savennières AOC (50 hl/ha e 35 hl/ha, respectivamente).
Por conta das práticas agrícolas adotadas por Nicolas Joly, é a única denominação de origem de cultivo inteiramente biodinâmica na França. Joly passou a cultivar seus vinhedos de forma biodinâmica a partir de 1984, obtendo certificação para todos seus vinhedos, inclusive aqueles em Coulée de Serrant. No total, são produzidos cerca de 150 hectolitros de vinho ao ano, que correponde a cerca de 200 mil garrafas.
Apenas um vinho é elaborado a partir das uvas cultivadas nesta denominação de origem. O monovarietal Clos de la Coulée de Serrant é, certamente, um dos vinhos brancos mais interessantes da França. Todavia, este Chenin Blanc tem um estilo bastante particular. Joly e sua filha optam por colher as uvas em ponto de maturação avançado, dando origem a um vinho encorpado, denso e de muita estrutura.
Fontes: Loire Master Level Study Manual, Wine Scholar Guild; The Wine Doctor; Cahier des Charges de L’appellation d’origine Coulée de Serrant; Loire Valley Wine Economic Report, Vins de Loire – appelation Coulée de Serrant
Imagens: Arquivo pessoal
Mapas: Vins du Val de Loire
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