O Vale do Loire é famoso pela diversidade de uvas cultivadas em suas 51 denominações de origem. Em uma região tão ampla e com vinhedos que seguem o curso de um rio com mais de mil quilômetros de extensão, quatro uvas se destacam em termos de área plantada. Cabernet Franc, Sauvignon Blanc, Chenin Blanc e Melon de Bourgogne dominam, em conjunto, quase 70% dos vinhedos.
Porém, há espaço para diversas outras uvas, algumas raramente encontradas fora do Loire. Este é o caso da Romorantin, que, assim como a Chardonnay, é um cruzamento entre a Gouais Blanc e a Pinot Noir. E existe uma denominação de origem no centro do Loire, mais especificamente na sub-região da Touraine, onde esta variedade é o centro das atenções. Estamos falando de Cour-Cheverny.
Longa história
Relatos indicam que o rei francês François I teria, em 1519, introduzido cerca de 80.000 plantas de uma variedade de uva branca da Borgonha em sua residência em Romorantin. Este vilarejo, localizado a cerca de 40 quilômetros a sudeste de Cour-Cheverny, passou a ser conhecido pelos seus vinhedos. E acabou por ceder seu nome à variedade.
Embora não haja confirmação científica que os vinhedos plantados em 1519 fossem efetivamente da variedade Romarantin, há múltiplas referências a esta uva na região nos últimos séculos. E esta condição foi fundamental para a aprovação da denominação de origem Cour-Cheverny em 1993. Ela é a única em toda a França, pois somente a Romorantin é permitida.
A denominação de origem
Aprovada em paralelo com a denominação de origem Cheverny (onde são permitidas nove uvas, com destaque para Sauvignon Blanc e Pinot Noir), Cour-Cheverny tem sua área geográfica cobrindo 11 comunas. Todas na margem esquerda do Loire, são elas: Cellettes, Cheverny, Chitenay, Cormeray, Cour-Cheverny, Huisseau-sur-Cosson, Montlivault, Mont-près-Chambord, Saint-Claude-de-Diray, Tour-en-Sologne e Vineuil. No entanto, está em curso a solicitação para uma possível expansão, incluinco cinco novos municípios.
Em 2020, eram apenas 55 hectares plantados. A produção média anual era de 1.862 hectolitros, o equivalente a 247 mil garrafas de 750ml ao ano. Somente 35 produtores, dos quais duas cooperativas, produzem vinhos desta denominação de origem, que impõe em seu regulamento um rendimento máximo de 60 hectolitros por hectare para vinhos secos. Na prática, porém, o rendimento médio fica próximo da faixa de 40 hl/ha.
Geografia e clima
Localizada na margem esquerda do Loire, a área geográfica de Cour-Cheverny se estende inteiramente dentro dos limites da Cheverny AOC, entre as margens do Loire (ao norte) e as comunas de Cherverny e Cour-Cheverny (ao sul). É delimitada, a noroeste, pelo Loire e pela floresta de Russy, e a leste e sul, pela Grande Sologne (em particular as florestas contínuas do parque de Chambord e da floresta de Cheverny).
Os vinhedos estão situados em um planalto suavemente ondulado, drenado, de leste a oeste, por dois afluentes do Loire (Cosson e Beuvron). O subsolo mostra formações argilo-siliciosas do período Senoniano, com solos de calcários de Beauce e formações argilo-arenosas de Sologne, com presença também de areias eólicas. Uma peculiaridade é a presença abundante de sílica, que favorece o desenvolvimento mais equilibrado da Romorantin.
O clima, ainda com características oceânicas, apresenta influências continentais mais acentuadas do que a maioria das outras denominações de origem em Touraine. O clima é um pouco mais seco (25-50 milímetros a menos de precipitação anual) e significativamente mais frio (durante o período vegetativo, as temperaturas médias são de 0,5 ° C a 1 ° C menores). Esta diferença de clima evidencia a influência local dos maciços arborizados e vales do Beuvron e Cosson, além de seus pequenos afluentes.
Vinhos e produtores
Sendo elaborados exclusivamente a partir da Romorantin, os vinhos podem variar em estilo, embora os secos prevaleçam em relação aos semi-secos (moelleux) e doces. Em geral, são vinhos de coloração amarelo palha e reflexos verdeais, com aromas de frutas cítricas e brancas (pêssego), além de notas florais, algumas vezes lembrando Chenin Blanc e Chardonnay. Na boca, são vinhos de alta acidez, corpo médio, longos e com grande potencial de evolução. Quando mais evoluídos, são conhecidos pelos seus aromas de acácia e mel.
São vários produtores com foco na região. Um dos principais é a Domaine des Huards, que, com cerca de 8 hectares de Romorantin, se considera o maior viticultor desta variedade no mundo. Também com forte presença na área fica François Cazin. Cultivando 5 hectares de vinhedos (boa parte deles de vinhas velhas), corresponde a quase 10% da área plantada da denominação Cour-Cheverny.
Outros produtores de destaque são Domaine de Montcy, Domaine du Moulin e Thierry Puzelat. Estes três vinicultores atuam dentro de uma linha de cultivo orgânico de vinhedos e vinificação de baixa intervenção. Vale a pena mencionar também a Domaine Philippe Tessier, cujos vinhos são importados para o Brasil.
Fontes: Loire Master Level Study Manual, Wine Scholar Guild; Vins Cheverny; Vins de Cheverny et Cour-Cheverny; The Wine Doctor; Cahier des Charges de L’appellation d’origine Cour-Cheverny; Loire Valley Wine Economic Report, Vins de Loire
Imagens: Vins Cheverny
Mapas: Vins du Val de Loire, Vins Cheverny
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