Os vinhos de Frank Cornelissen mostraram importantes mudanças nos últimos anos. Se este belga radicado no Etna desde o início dos anos 2000 era conhecido no passado pelos seus vinhos puros e selvagens, isso mudou. Ele é direto ao deixar claro que evoluiu suas técnicas de vinificação, deixando de lado a mínima intervenção (até 2017 seus vinhos não recebiam sulfitos), buscando mais consistência, precisão e elegância.
Buscou também valorizar melhor o terroir do Etna, ampliando o leque de vinhos elaborados a partir de Contrade específicas, sobretudo no caso de seus monovarietais de Nerello Mascalese. Nestes casos, ele busca adotar processos relativamente comuns: cultivo orgânico, uvas 100% desengaçadas, uso exclusivo de leveduras indígenas, sem uso de madeira no envelhecimento. Abaixo alguns de seus vinhos, degustados em sua cantina.
Munjebel Bianco 2021, 12%
Produzido pela primeira vez em 2004, a partir de 2015 este corte de 50% Carricante 50% Grecanico passou a ser elaborado com menor contato com suas cascas, deixando de lado suas características de vinho laranja. Com fermentação espontânea e contato de apenas três dias com as cascas, passou 16 meses em tanques de epóxi antes do engarrafamento. Um vinho delicioso, que mostrou aromas cítricos e notas de frutas brancas e leveduras, com alta acidez e corpo médio a alto. Um corte de ótima textura e densidade, fruta branca e salinidade no palato, com longa persistência. Preço de € 55 na Europa, não é importado para o Brasil.
Susucaru Rosato 2022, 11,5%
Com produção na casa de 45 mil garrafas ao ano, é um dos carros-chefes de Frank Cornelissen em termos de volume, somente atrás do Sucuraru Rosso (antigamente chamado Contadino). É um corte de diversas uvas, como Nerello Mascalese (cerca de 50% do total), Malvasia, Moscatel e Cattaratto, com uvas de diversas Contrade, como Picciolo, Calderara, Crasà, Muganazze, Feudo di Mezzo e Puntalazzo. Um verdadeiro Vin de Soif, com coloração rosé de média intensidade e olfativo marcado por notas de frutinhas vermelhas, especiarias e menta. Leve, direto e vertical, custa € 28.
Munjebel Rosso Classico 2022
Este monovarietal de Nerello Mascalese é o vinho de entrada da linha Munjebel. Foi elaborado com uvas de diversos vinhedos em Contrade como Zottorinoto-Chiusa Spagnolo, Feudo di Mezzo (Sottana e Porcaria), Rampante Sottana, Piano Daini e Crasà, com grande proporção de vinhas velhas (50 anos). Maceração de 50 dias e estágio de 12 meses em tanques de epóxi. No visual, mostrou coloração rubi média, com olfativo intenso de frutas vermelhas maduras e notas florais e mentoladas. No palato, uma explosão de frutas mais doces, boa acidez e corpo médio, com taninos finos presentes e ótimo equilíbrio. € 42.
Munjebel VA (Vigne Alte) 2020
Cornelissen considera esta cuvée como a “mais borgonhesa” de seus vinhos de Contrada, talvez até pelas suas características, que o comparam com vinho de clima mais frio, resultado da altitude dos vinhedos. São vinhas velhas (mais de 90 anos, em média), provenientes de Bronte (Contrada Tartaraci, 1.000 metros) e Solicchiata (Barbabecchi – 910 mts e Rampante Soprana – 870 mts). Um vinho leve e vertical, com fruta discreta (cereja), leve redução e notas de menta. Na boca, acidez cortante, corpo médio a baixo, com taninos discretos e ligeiramente verdes. Austero e com muita tensão e linearidade, um típico “Etna de altitude”. € 120.
Munjebel FM (Feudo di Mezzo) 2020
Cornelissen elabora dois vinhos da Contrada Feudo di Mezzo (uma das maiores do norte do Etna): FM, da parte mais baixa e PA, do segmento de maior altitude. Neste caso, estamos falando de um vinhedo plantado nos anos 1960, a 580 metros de altitude. Assim como os demais vinhos de Contrada, são 18 meses em epóxi, seguidos por mais 18 meses em garrafa. Um vinho com personalidade mais próxima do que seria um Etna “típico”, com fruta vermelha fresca, especiarias e notas florais (rosa) no olfativo. Na comparação com o anterior, fruta mais presente também no palato, ainda bem vertical e com boa profundidade e taninos presentes. € 80.
Munjebel MC (Monte Colla) 2020
Ao contrário dos demais, os solos neste vinhedo não são puramente vulcânicos, mas sim com alta proporção de componentes argilo-calcários. Um vinho mais intenso e encorpado, com olfativo marcado por aromas de frutas mais negras e mais estrutura no gustativo. Com taninos intensos e mais corpo, um Nerello carnudo e cheio, certamente deve ganhar mais elegância com alguns anos de garrafa. Para Cornelissen, seria o Hermitage de seus Nerellos. € 75.
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