Alvar de Dios é um dos mais talentosos enólogos da nova geração da vinicultura espanhola. Nascido em El Pego, na região do Toro, De Dios se destacou na Sierra de Gredos, trabalhando com Fernando Garcia e Dani Landi na Comando G e, também, como enólogo na Bodega Marañones. Em paralelo, desenvolveu sua carreira solo na sua região natal, trazendo uma nova expressão aos vinhos locais. Um contraste com o estilo mais encorpado, frutado e extraído do Toro, de forma que vale a pena conhecer seus vinhos, importados para o Brasil pela Worldwine.
Todos seus vinhos são rotulados como Vinos de la Tierra de Castilla y León, embora sejam elaborados a partir de uvas de três localidades e terroirs distintos. Duas se localizam na área da denominação Toro (El Pego e El Maderal) e uma próxima da fronteira com Portugal, na DO Arribes (Villadepera). Os vinhedos são cultivados de forma orgânica certificada, com uso de tratamentos biodinâmicos. Na vinificação ele adota baixa intervenção (leveduras indígenas e sem aditivos, a não ser leve SO2). Todos os tintos passam por fermentação com cachos inteiros e engarrafamento sem colagem ou filtração.
Tio Uco 2020, 14,5%, R$ 208
Um Vino de Pueblo, elaborado a partir de três parcelas localizadas na parte noroeste de Toro. Com idades compreendidas entre os 25 e os 40 anos, estas vinhas de Tempranillo (90%) e Garnacha (10%) são cultivadas numa variedade de solos arenosos. Este vinho vê apenas uma suave maceração com pigéage a pé, e é envelhecido por seis meses, principalmente em tonéis de carvalho francês neutro, que variam entre 1.000-3.500 litros.
Um vinho fresco e equilibrado, que deve ganhar com mais algum tempo em garrafa. Visual púrpura de alta concentração, com olfativo intenso, marcado por aromas de frutas negras, cassis, couro, borracha e especiarias. No palato, mostrou alta acidez e taninos presentes, um corte tinto leve e sedoso, com muita fruta fresca e especiarias também no gustativo.
Aciano 2019, 14% R$ 420
Alvar de Dios começou sua carreira solo a partir dessa parcela herdada de seu avô em 2008. Em homenagem a ele vem o nome desse vinho, Aciano era a forma que as pessoas mais velhas de El Pego o chamavam. Elaborado a partir de três hectares de vinhas plantadas em 1919, não enxertadas. Os solos aqui são únicos para a denominação, sendo inteiramente arenosos, com subsolos de calcário.
É um monovarietal de Tinta de Toro (como a Tempranillo é chamada em Toro). Maceração pré-fermentativa de 3-4 dias, fermentação em cubas com pigéage diário, e longa maceração de 90 dias. Passou 12 meses em barris de carvalho francês usado de 300-600L, seguido por mais 12 meses em tanques de cimento. Este Vino de Parcela mostrou coloração rubi média, com olfativo em estilo redutivo, mostrando notas de frutas vermelhas e toque floral. Na boca, alta acidez, frescor, taninos arenosos e corpo médio, um Tempranillo crocante e elegante.
Camino de los Arrieros 2020, 12,5%, R$ 294
Outro Vino de Pueblo, é um blend de vinhas velhas co-plantadas (Juan García, Bastardo, Trincadeira Preta, Rufete, Mandón, Mencía e Doña Blanca). Elaborado a partir de 3,9 hectares divididos em 36 blocos em Villadepera. Fermentação em tanque de carvalho, seguida por estágio de 12 meses em barris de carvalho francês de 300-600L e mais 12 meses em tanques de cimento.
Evidenciou claramente sua origem, distinta dos anteriores. Coloração rubi de média intensidade, com nariz trazendo fruta menos abundante (frutinha vermelhas), mas destaque para as notas de especiarias e verdeais, lembrando engaço. No palato, um vinho leve, de alta acidez e com taninos delicados. Se mostrou equilibrado, com pouco peso de boca, delicioso e longo, daqueles vinhos fáceis de beber.
Yavallo 2018, 12% R$ 989
Uvas provenientes de vinhas de 80 a 90 anos de uma parcela de apenas 0,2 hectare em Villadepera, com solos de xisto. Blend com castas autóctones, com 65% Bastardo, 5% uvas brancas e o restante de tintas nativas, entre elas Trincadeira e Rufete. Maceração a frio de 4-5 dias, seguida por fermentação e a maceração de até 40 dias. O vinho ficou 12 meses em um único barril de carvalho francês de 300L, com mais 12 meses em cimento.
Que vinho envolvente! Coloração rubi de baixa concentração, com aromas delicados de morango fresco, cerejas, couro e ervas verdes no olfativo. Boca marcada por alta acidez, frutinha doce delicada mas presente, corpo médio e taninos bem redondos. Leve e sedoso, um vinho de alta gama e com muita personalidade. Apenas 953 garrafas produzidas nesta safra, considerada mais fria e clássica.
Las Vidres 2018, 13,5%, R$ 890
Vinhas velhas (80 a 90 anos) provenientes de uma área de 0,4 hectare em Villadepera, perto da fronteira portuguesa, localizada a 700-950 metros de altitude, com solos de xisto. Monovarietal de Doña Blanca, com fermentação e estágio de 12 meses em barris de carvalho francês, com mais um ano em cimento, sem filtração ou colagem.
Se o Yavallo foi o destaque entre os tintos, o Las Vidres é também um capítulo a parte. Coloração amarelo palha, com nariz elegante e complexo, com destaque para aromas de frutas brancas de caroço, abacaxi, cítrico e mineralidade no estilo maresia. No gustativo, um branco direto e vertical, mas com uma vibrante untuosidade, compondo um equilíbrio único. Mostrou alta acidez e frescor, com linda textura, longa persistência e final salino. Um vinho espetacular, pelas suas qualidades e personalidade.
Vagüera 2020, 13% R$ 489
Vagüera nasce a partir de um pequeno lote de 0,5 hectare de vinhas velhas (plantadas em 1920) a uma altitude de 950 metros, de orientação norte e localizado ao sul da fronteira de Toro, perto do vilarejo de El Maderal. O nome é uma referência à forma na qual as pessoas na aldeia chamam esta área facilmente inundável, como é esse lote rico em solos argilosos. É um corte majoritário de Doña Blanca e uvas de uma pequena parcela de mais 15 variedades brancas em vinhas velhas.
Não conseguiu manter o patamar do anterior, até por mostrar um olfativo mais complicado, com redução e discreta acidez volátil mascarando parcialmente aromas de frutas amarelas mais maduras, cereal e trufa. No palato, porém, se mostrou 100% íntegro, com boa acidez e textura, um Doña Blanca amplo e “mais gordo” na comparação com Las Vidres, longo e com final salino.
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