Demeter e a agricultura biodinâmica: relação próxima em benefício da natureza e do vinho

A agricultura biodinâmica e a Demeter, a mais antiga e maior associação promovendo esta forma de agricultura, têm uma relação longa e próxima. Por muito tempo, praticamente não havia como colocar em prática a agricultura biodinâmica sem contar com a assessoria da Demeter, criada na década de 1920. Foi nessa década que Rudolph Steiner passou adiante seus conhecimentos, dando origem ao movimento biodinâmico.

Desde então, a Demeter cresceu a partir de suas origens na Alemanha para mais de 60 países. Atualmente, ela atua em diversos segmentos, inclusive a vitivinicultura, onde vem ganhando espaço crescente nas últimas décadas. Em 2020, eram quase 600 produtores de vinho com certificação biodinâmica Demeter, espalhados por 19 países.

Suas origens

A agricultura biodinâmica surgiu como resposta ao uso de fertilizantes nitrogenados, que ganharam presença nos campos europeus e norte-americanos a partir de uma descoberta científica em 1909. Já na década de 1920 os primeiros efeitos negativos do uso de fertilizantes sintéticos baseados no nitrogênio se tornaram visíveis. Respondendo a isso, alguns agricultores alemães começaram a se preocupar com a fertilidade sustentável do solo. Em 1924, um grupo pediu a Rudolf Steiner para realizar um curso sobre agricultura em Koberwitz. Este evento marca o nascimento da agricultura biodinâmica.

A partir dos ensinamentos de Steiner, um grupo de agricultores denominado Círculo Experimental de Agricultores Antroposóficos passou em colocar em prática na agricultura os princípios biodinâmicos. Três anos depois, uma cooperativa foi formada para comercializar produtos resultantes da agricultura biodinâmica.

A introdução e registro do símbolo Demeter como marca registrada ocorreu em 1928, com os primeiros padrões de controle de qualidade formulados. A escolha do nome faz referência à deusa da mitologia grega, responsável pela colheita e agricultura, com destacado papel na fertilidade da Terra. A formalização dos princípios biodinâmicos a partir deste ano, portanto, passava a ter nome e regulamentos.

Avanços e retrocessos

Embora a Demeter tenha atraído seguidores em outros países, a Alemanha seguiu como seu centro principal de atividades. Em 1941, porém todas as organizações Demeter e sua publicação mensal foram proibidas na Alemanha. Foi somente em 1946 que o Círculo Experimental para Métodos de Agricultura Biodinâmica (anteriormente “Círculo Experimental dos Agricultores Antroposóficos”) foi estabelecido e reestruturado, com seu primeiro curso introdutório sendo ministrado.

Em 1994 a Demeter passou a ser a primeira associação orgânica a organizar padrões para o processamento de alimentos e bebidas, mas foi em 2017 que um marco importante foi estabelecido. Dezenove organizações independentes da Demeter, com representantes da Áustria, Austrália, Brasil, Canadá, Dinamarca, Egito, Finlândia, França, Alemanha, Grã-Bretanha, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Suécia, Suíça e Estados Unidos e criaram a Demeter-International.

Em novembro de 2002 nasceu a Associação Internacional de Biodinâmica (IBDA), que passou a ser responsável pela propriedade e proteção das marcas Demeter e Biodinâmica em todo o mundo. Já em 2020, a Demeter International e a IBDA uniram forças para formar a Federação Biodinâmica – Demeter International (BFDI). Esta nova organização internacional passou a servir de guarda-chuva para as organizações Biodinâmica e Demeter em todo o mundo.

A Demeter e o vinho

Se o berço da Demeter é na Alemanha, foi na França, mais especificamente na Alsácia, que a biodinâmica ganhou maior participação da vitivinicultura. Eugène Meyer, em 1969, foi um dos primeiros produtores a usar a biodinâmica, até por motivos pessoais. Depois de ser exposto a pesticidas em seus vinhedos, Meyer sofreu a paralisia de um nervo ótico. Seu médico homeopático o encorajou a ler sobre biodinâmica, e Meyer e sua esposa logo depois começaram a converter seus vinhedos. Em 1980 foram os primeiros vinhedos certificados biodinâmicos pela Demeter e, até hoje, a Domaine Eugène Meyer é certificada.

O mesmo ocorreu com a Domaine Pierre Frick, que fez sua conversão de orgânico para biodinâmico em 1981. Na mesma época, porém, outros produtores franceses faziam experimentos com a biodinâmica. No Vale do Loire, Nicolas Joly começou a experimentar o cultivo biodinâmico em 1980, se tornando, posteriormente, um dos principais nomes do movimento biodinâmico francês. Com vinhedos 100% biodinâmicos desde 1984, Joly fundou em 2001 a Renaissance des Appellations, um grupo que conta atualmente com mais de 200 produtores biodinâmicos.

Quadro atual

A Demeter atualmente certifica quase 600 produtores de vinho, o que a faz, por larga margem, a maior certificadora biodinâmica no mundo. São milhares de vinhos com certificação biodinâmica, grande parte dos quais contendo em seus rótulos ou contra rótulos o selo desenvolvido pela Demeter para estes produtos.

A França segue sendo o principal mercado da Demeter, com cerca de 280 produtores diferentes, espalhados por todo o país. Dentre as regiões francesas com mais produtores biodinâmicos, destaque para o Vale do Rhône, Languedoc-Roussignon, Alsácia, Bordeaux, Vale do Loire e Borgonha.

Diversos dos principais países produtores de vinho da Europa vêm na sequência. Destaque para Itálie e Alemanha, seguidos, em segundo plano, por Áustria e Suíça. A presença fora do continente europeu é mais tímida, com exceção dos Estados Unidos, que, com cerca de 35 produtores, aparece entre os seis maiores mercados da Demeter no mundo. Porém, o crescimento tem sido acelerado em diversos países não europeus, com vinícolas certificadas também na África do Sul, Argentina, Chile, México e Nova Zelândia.

Fontes: Demeter; Seven Fifty Daily

Imagem: Demeter

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