Echézeaux: conheça o segundo maior Grand Cru da Côte de Nuits

Um vinhedo com séculos de tradição, mas que assumiu sua identidade apenas nos últimos 80 anos. Echézeaux é o segundo maior Grand Cru da Côte de Nuits, somente depois de Clos de Vougeot, e tem uma história repleta de controvérsias. Com pouco mais de 36 hectares (até este número gera discussões) é, também, um dos Grands Crus da Borgonha com maior diversidade de terroir. Não são poucos os que afirmam que uma parte dos onze climats que o compõem não apresenta as condições necessárias para fazer parte do topo da pirâmide hierárquica da Borgonha.

A denominação de origem Echézeaux, criada em 1937 e expandida diversas vezes (a última delas em 1992) é conhecida pelos seus vinhos tintos. Curiosamente, porém, além da Pinot Noir, que deve ter uma parcela mínima de 85%, são permitidas também Chardonnay, Pinot Blanc e Pinot Gris, que devem fazer parte do blend. Na prática, porém, a Pinot Noir reina soberana.

Os vinhedos de Flagey-Echézaux

Este vinhedo de tanta tradição dá origem a vinhos caros e raros. A produção média entre 2014 e 2018 ficou em 1.405 hectolitros, o que corresponde a cerca de 160 mil garrafas ao ano.  Embora pequena para os padrões da região, falando em Grands Crus o volume é significativo. A produção representa cerca 6% dos Grands Crus da Borgonha, somente atrás de Chablis Grand Cru, Corton, Corton Charlemagne e Clos de Vougeot.

Longa história

O nome Echézeaux é relativamente comum na Borgonha. Ele deriva da expressão chesal ou chesel, de origem galo-romana e que designa um grupo de habitações, algo como uma aldeia. As primeiras referências ao cultivo de uvas na área, porém, datam da Idade Média, por conta da atividade das ordens religiosas. Os monges cistercienses da Abadia de Cîteaux eram proprietários de duas áreas ao lado do Clos de Vougeout. Uma delas era chamada de Grands Exchézeau (hoje uma denominação de origem à parte) e a outra era Echézeaux du Dessus (um dos onze climats atuais de Echézeaux).

A qualidade do vinhedo já era reconhecida, tanto que em 1886 o vilarejo de Flagey emendou seu nome para Flagey-Echézeaux. Com pouco mais 3,5 hectares de vinhedos, Echézeaux du Dessus seria a área original, o “coração” do que hoje é a denominação de origem. Por conta desta percepção, vinicultores como Mongeard-Mugneret e Etienne Camuzet (na época prefeito de Vosne-Romanée) chegaram a acionar a Justiça em 1925.

O objetivo era evitar que outros proprietários usassem o nome Echézeaux em vinhos que não tivessem origem nas parcelas de Echézeaux du Dessus. Eles, porém, não foram bem-sucedidos e, em julho de 1937, houve a aprovação da denominação de origem Echézeaux, com uma área não muito diferente da atual. Desde então, a área regulamentada cresceu pouco mais de 1,5 hectare, por conta de decisões tomadas na década de 1950, 1988 e 1992.

Localização e terroir

A denominação de origem Exchézeaux está localizada inteiramente dentro da área da commune de Flagey-Echézeaux, entre Vosne-Romanée e Chambolle-Musigny. Sua área de vinhedos praticamente envolve (a nordeste, oeste e sudoeste) aqueles de Grands-Echézeaux. A parte mais a leste contém parcelas mais planas, a cerca de 250 metros de altitude, subindo gradualmente até 300 metros.

A composição de solos varia bastante. As parcelas e climats mais baixos contêm solos mais ricos e argilosos, que contrastam com os solos mais pobres e maior concentração de calcário das partes mais elevadas (como Orveau e Les Rouges du Bas).  Por conta disso, vale a pena analisar individualmente cada um de seus onze climats, já que saber de qual área se originam as uvas é essencial para quem pretende conhecer melhor os vinhos de Exchézeaux.

Os Climats clássicos

Além de Echézeaux du Dessus (número 1, no mapa abaixo), outro climat clássico desta denominação de origem é Les Poulailléres (2). Com 5,2 hectares de área, tem grande parte de suas parcelas (4,25 hectares) de posse da Domaine de la Romanée Conti. O fato deste climat ter um longo histórico de cultivo pelas ordens religiosas foi um dos principais motivos que levaram à decisão da Justiça em 1925 e posterior definição da área demarcada da denominação de origem em 1937.

Os 11 climats de Echézaux. Fonmte: WineHog

Solos mais pobres

En Orveau (3) é um vinhedo peculiar, parte classificado como Grand Cru (5 hectares) e parte como Premier Cru de Vosne-Romanée. São mais de 15 produtores diferentes neste climat, incluindo alguns dos principais négociants da Borgonha. Também Les Champs Traversins (4), com 3,6 hectares, tem diversos donos, incluindo sua maior parcela (Clos Fantin), que pertence a Albert Bichot. Les Cruots ou Vigne Blanches (8), com 3,3 hectares, tem solos pobres e era um dos favoritos de Henry Jayer.

Com 4 hectares, Les Rouges du Bas (5) é outro climat que dá origem a vinhos mais minerais e elegantes, enquanto Beaux Monts Bas (6) é o segundo menor, com apenas 1,26 hectare. Les Loächausses (7), por sua vez, mostra solos com drenagem ruim, apesar da posição privilegiada.

Os demais

A parcela mais ao sudeste da denominação de origem conta com três climats, com solos mais pesados e argilosos. Clos St. Denis (9), com 1,8 hectare, não deve ser confundido com o vinhedo Grand Cru de mesmo nome em Morey-Saint-Denis, embora a posse da terra tenha por muito tempo sido de donos comuns. Les Quartieres de Nuits (11), de apenas 1,1 hectare, é a melhor parte de um vinhedo classificado como Vosne-Romanée Village. Já Les Treux (10) tem 4,9 hectares e é visto com uma continuação de Grands Echézeaux, porém sem a mesma qualidade.

Principais produtores

São mais de 80 proprietários diferentes de terra em Echézeaux, de forma que há bastante diversidade em termos de produtores. Tanto em termos de fama como área de vinhedos, a Domaine de la Romanée Conti aparece como destaque. São 4,67 hectares em dois climats diferentes. Entre os 10 maiores proprietários na área, há nomes como a família Gros, Mongeard-Mugneret, Mugneret-Gibourg e Domaine de Perdrix.

Com parcelas de menor porte, vale a pena citar produtores como Arnoux-Lachaux, Domanie Dujac, Jen-Yves Bizot, Conte Liger Belair, Hoffman-Jayer, Jacques Prieur, Denis Mortet, Domaine Laurent e Domaine Roumier, além de négociants como Faiveley, Joseph Drouhin, Jadot e Albert Bichot.

Fontes: Vins de Bourgogne; Wine Scholar Guild; Inside Burgundy, Jasper Morris; WineHog; The Climats and Lieux-dits of the Great Vineyards of Burgundy, Marie-Hélene Landrieu-Lussigny & Sylvian Pitiot

Mapas: Vins de Bourgogne, WineHog

Imagens: Arquivo pessoal

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