Você certamente já ouviu que os muitos dos melhores vinhos são aqueles envelhecidos em barris de carvalho. Embora isso não seja necessariamente verdade, já que cada dia cresce a parcela de consumidores que prefere vinhos sem contato com madeira, não há como negar que uma proporção significativa dos vinhos mais raros e caros do mundo passam por algum tempo no carvalho.
E quando se fala de carvalho, existe muita confusão. Para quem já conhece um pouco de vinho, muitas vezes aparece a expressão “envelhecido em barris de carvalho francês”, não é verdade? Na mesma linha, muita gente também já ouviu falar em carvalho americano.
Tipos e origens de carvalho
Em primeiro lugar, é necessário explicar que há duas dimensões que devem ser analisadas: quais espécies de carvalho (são muitas, embora apenas algumas usadas no envelhecimento de vinhos) e qual a origem das florestas, ou seja, de onde vem este carvalho. Em muitos casos, existe a equivalência, mas há situações onde são coisas distintas.
Vamos analisar inicialmente quais são os tipos de carvalho. São três as variedades mais usadas no envelhecimento de vinhos, duas delas originárias da Europa: a Quercus Robur (conhecida como carvalho inglês) e a Quercus Petraea (chamada de carvalho sessile). Grande parte das florestas de carvalho na Europa pode ser descrita com uma combinação dessas duas espécies (e seus híbridos) e a concentração de cada uma varia de acordo com as condições de solo, regime de chuvas e temperatura do local.
Carvalho francês
A Quercia Robur requer condições mais favoráveis, portanto se o solo é mais rico, há mais chuva e a altitude é menor, ela acaba tendo maior concentração. Se as condições são mais difíceis, como solos mais pobres ou secos, quem predomina é a Quercus Petraea (daí o nome Petraea, que vem da palavra grega “petra” para pedra).
Estas duas espécies são chamadas genericamente de “carvalho francês”. Quercus Petraea é considerado o carvalho de maior qualidade, pois granulação mais fina e transfere menos taninos e mais componentes aromáticos ao vinho. Já a Quercus Robur traz taninos ásperos, aromas mais contidos e menos elegância ao vinho. É usado frequentemente para destilados envelhecidos, como o conhaque, por exemplo.
Outros carvalhos
Se estas são as duas espécies mais exploradas para envelhecimento de vinhos na Europa, não são as únicas. Outras espécies, como carvalho esloveno, carvalho espanhol, carvalho húngaro, carvalho russo, carvalho romeno, também são usadas. Um fato curioso é que até a década de 1930, o carvalho que era mais utilizado nos châteaux de Bordeaux era o russo ou húngaro, e não das espécies mais comuns na França.
Para completar esta análise sobre espécies, faltou falar sobre a terceira dentre as mais usadas: a Quercus Alba, conhecida como carvalho americano. Ele tem granulação mais grossa e cresce mais rápido do que os tipos europeus. Em termos de impacto sobre os vinhos, transfere taninos menos intensos, porém libera aromas mais rápido, como côco, baunilha e caramelo.
Regiões de plantio
E quais deles são mais comuns em cada região? O carvalho americano vem predominantemente dos EUA, embora já existem regiões com plantações na Europa, como em Portugal, por exemplo. Na França, predominam a Quercus Robur e a Quercus Petraea, porém sua distribuição regional varia de acordo com as condições mencionadas anteriormente.
No entanto, estas duas espécies não são exclusivas da França. Em duas grandes regiões de florestas de carvalho na Europa também são encontradas estas espécies: na Eslavônia (não é Eslovênia ou Eslováquia, como alguns insistem – esta região corresponde à porção nordeste da Croácia) e na Hungria. Além disso, estas duas espécies são encontradas também na Polônia, Rússia, Itália e na Península Ibérica (especificamente no País Basco).
Deste modo, é importante entender a diferença entre espécie e região. Embora exista uma sobreposição em muitos casos, isso não é regra. Curiosamente, atualmente existe muito pouco carvalho húngaro (espécie) na Hungria, onde são muito mais presentes as espécies normalmente associadas à França, embora uma delas seja chamada de carvalho inglês. Confusão pouca é bobagem!
Fontes: Different Woods in Cooperage for Oenology: A Review, Ana Martínez-Gil, Maria del Alamo-Sanza, Rosario Sánchez-Gómez e Ignacio Nevares; Kadar Hungary; The Buyer.net; Food and wine.com; Langhe.net; GuildSomm.com
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