Quando se fala em preço de vinhos, 2022 foi um ano que chamou a atenção. Refletindo tanto fatores estruturais e de custos (fretes, preço das garrafas, maior inflação) como específicos (maior demanda por vinhos premium), os preços dos vinhos finos bateram recordes. Dentro deste contexto, como será que o preço dos vinhedos reagiu? Ao menos no que diz respeito aos vinhedos franceses, as estatísticas mostram um cenário claro.
Dados divulgados pela Fédération Nationale des Sociétés d’Aménagement Foncier et d’Établissement Rural (SAFER) mostram que, em 2022, o valor médio por hectare de vinhedos dentro de denominações de origem francesas foi de € 151,2 mil, equivalente a cerca de R$ 800 mil. Isso representa uma valorização de 2,5% em relação 2021, abaixo da inflação de 5,2% registrada no mesmo período.
Diferenças regionais
O dado agregado, porém, não mostra o quadro completo. Houve enormes diferença regionais, de uma certa forma refletindo o que aconteceu com o preço dos vinhos destas regiões. De um lado, áreas como Borgonha, Jura, Loire e Sudoeste viram o preço de seus vinhedos registrar forte valorização, conforme pode ser visto na tabela abaixo.
Por outro lado, duas regiões foram os destaques negativos. E uma delas chama a atenção por conta da complexidade das condições atuais e perspectivas para a vinicultura local: Bordeaux. Se por muitas décadas esta área tradicional foi uma das mais dinâmicas da França, hoje o quadro é distinto. Há queda nos preços (à exceção dos vinhos mais caros), crescente destilação de vinhos, projetos de extração de videiras e enorme nível de tensão entre seus produtores.
A crise em Bordeaux
O preço médio das vinhas dentro das denominações de origem na região de Bordeaux-Aquitaine caiu 3% em 2002. Segundo Loïc Jégouzo, executivo do departamento de Estudos, Monitoramento e Previsão da SAFER, a crise dos tintos genéricos de Bordeaux teve um claro impacto no mercado da vinha. “Os preços estão caindo há quatro anos para o AOC Bordeaux e outras denominações de origem da região. Por outro lado, os preços nas denominações de maior prestígio (como Pauillac, Margaux etc.) permanecem estáveis”.
Emmanuel Hyest, presidente da SAFER, prevê um cenário complicado para Bordeaux. “Esta forte crise levará a uma mudança no cenário em sentido amplo”. E uma análise mais detalhada dos dados de 2022 não deixe muita margem para otimismo. Das dez áreas com maior queda no preço de vinhedos em toda a França, seis estão situadas na região de Bordeaux.
Este cenário complicado para boa parte dos produtores de Bordeaux se mostra ainda mais desafiador por conta das próprias condições do mercado de vinho na França. As expectativas são de que o consumo de vinho siga em queda nos próximos anos, ampliando ainda mais o descompasso entre procura e oferta. A vinicultura da região de Bordeaux parece ter entrado em um ciclo vicioso, sem que saídas efetivas estejam aparentes.
Fontes: Société d’aménagement foncier et d’établissement rural; Vitisphere
Imagem: Karl Oss Von Eeja via Pixabay
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