Feijoada e vinhos. Muitas vezes já testei esta combinação, sendo uma das mais complexas. Complexa pelo detalhe da grande variedade de texturas, aromas, tipos de carnes- umas secas, outras curadas, outras defumadas, outras com bastante teor de gordura. Também há carnes embutidas como paio, linguiças variadas, morcelas ou chouriços, que são embutidos que levam sangue na mistura.
Como se não bastassem as variedades das carnes, o prato “feijoada”, além é claro do feijão, é um prato composto. Tem couve, arroz, farofa (com mil variações), torresmo, bisteca de porco frita, banana empanada. Para harmonizar uma gastronomia e um vinho, há de ser pegar um pouco de cada elemento que compõe o prato, não vale faze-lo ingrediente por ingrediente. Mas volto a dizer, seu gosto sua vontade, divirta-se!
Parece difícil não é?
Mas, pondo de lado a harmonização que mais vejo dar bom resultado, o gosto deste vinho com o prato e boa, algumas dicas podem ser úteis. Eu, particularmente já testei a feijoada, que adoro, com muitos tipos de vinificações e uvas, com os brancos, tintos, rosados e espumantes. Já gostei muito de um Tannat, potente uva e geralmente amadeirado, que se harmoniza bem com as carnes. O espumante é um grande coringa, pois sua acidez elevada faz o contraponto útil para quebrar as gorduras do prato.
Mas há espumantes com maior ou menor teor de açúcares – Nature, Extra Brut, Brut. Há os rosados com algum teor de taninos provenientes das cascas que os tingem. Só não gostei dos moscatéis, mais doces, estes fogem do meu paladar para a feijoada, embora, carnes salgadas façam parte do prato. Outro grande aliado como par para a feijoada são os tintos leves, parece paradoxal com o Tannat? Vejamos que o feijão preto é o veículo que embala todos os pertences do prato, e para evitar atritos para alguns paladares, um tinto mais leve em taninos vai bem.
Já gostei muito em outra ocasião de um equilibrado Syrah, uma uva também potente, que resulta em vinhos geralmente bem aromáticos em especiarias, algumas picantes que vão bem com a feijoada. Dos brancos, estes parecem ser mais fáceis em virtude da boa acidez, os há com ou sem madeira. Se passar por madeira que esta não seja muito aparente para que sua acidez seja bem marcada.
Royal Gran Reserva 2006
Na minha última experimentação harmonizei um Rioja, corte das uvas Tempranillo, Mazuelo e Graciano. Este vinho estava em minha adega há tempos, e neste isolamento social que nos encontramos, me pareceu uma boa época para abri-lo e testá-lo. O exemplar Royal 2006 da Bodegas Franco-Españolas passou 30 meses em barricas e outro tanto em garrafa. Não me arrisco a tecer comentários sobre a ficha técnica, pois este rótulo não figura mais na bodega. Há um outro, que me parece seu sucessor o Bordón Reserva Grande Frontera.
Tem o mesmo corte, apesar de eu não poder dizer sobre os percentuais em ambos os rótulos. Pela madeira, passam igualmente em tempo e tipo de carvalho. Descrevendo o resultado da degustação: Chegou atijolado em taça, sem brilho. Precisou de alguns minutos para ir-se abrindo em cor e o brilho aparecer. Aromas terciários (aqueles que se devem pelo tempo de guarda) evidentes, couro sobretudo, também tabaco e balsâmico.
Em boca o frutado ainda surge com ameixas, fundamentalmente. Taninos resolvidos, um frescor que não imaginava para um vinho, na época, com 14 anos de idade. Com feijoada se comportou bem com o prato, apenas quando isoladamente fiz algumas experiências, a couve e o vinho não se deram bem.
Gostei muito do vinho, e a harmonia entre a feijoada e ele foi muito bem.
Até o próximo brinde!
Álvaro Cézar Galvão, conhecido como O Engenheiro Que Virou Vinho, me dedico a comentar, escrever, divulgar, dar palestras e ministrar cursos de vinhos, bebidas destiladas e a harmonização com a gastronomia. Assino, dentre outras mídias, o site Divino Guia www.divinoguia.com.br
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Fotos: Álvaro Cézar Galvão, arquivo pessoal
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