Todo mundo sabe que o brasileiro, na hora de consumir vinhos, coloca os tintos em primeiro lugar. Isso talvez seja um dos fatores que façam o consumo médio per capita ser tão baixo por aqui, considerando que somos um país tropical, com verões para lá de quentes. Mas já passou na hora disso mudar. Existem muitas opções de vinhos brancos frescos e de alta qualidade, que refrescam e harmonizam com nossa dieta de verão.
E quando colocamos qualidade, frescor e custo-benefício na equação, é difícil encontrar vinhos brancos que concorram com os Muscadet Sèvre et Maine. Se você os conhece, vale a pena saber um pouco mais, e, se não, é hora de descobrir excelentes opções para a sua adega. Bem-vindos a uma curta viagem pelos vinhos do noroeste da França, mas especificamente na região do Pays Nantais, no Vale do Loire.
Descobrindo os Muscadets
Embora possa causar uma certa confusão com os nomes Moscato ou Moscatel (nomes de uvas), Muscadet se refere à região de origem dos vinhos. Na área do Pays Nantais existem, de fato, quatro denominações de origem com o nome Muscadet, sendo Muscadet Sèvre et Maine a mais conhecida e com maior volume de produção. Vamos focar nela, até porque a grande maioria dos Muscadets que são importados ao Brasil é desta região.
Somente uma variedade pode ser usada na elaboração dos Muscadets: a Melon de Bourgogne. Ele pode ser chamada de “irmã” da Chardonnay (tem as duas mesmas variedades como ascendentes diretos) e, como o nome indica, é originária da Borgonha. Foi na região do Pays Nantais, porém, que ganhou destaque, sendo a uva mais plantada.
Estilo de vinho
E como são podemos descrever os Muscadets? São vinhos brancos de alta acidez e muito frescor, que podem ser consumidos tanto sozinhos como harmonizados com comidas mais leves, incluindo peixes e frutos de mar. Ao contrário de muitos vinhos que necessitam de tempo para atingir seu ápice, os Muscadets podem ser consumidos jovens, o que não significa, porém, que também ganhem mais complexidade com o tempo.
E aí entra um detalhe importante. Os melhores Muscadets são elaborados usando um processo chamado vinificação com suas lias, ou Sur Lie (lembre desta expressão). De forma simples, este processo significa, após a fermentação, deixar o vinho em contato com suas lias (que são as leveduras mortas responsáveis pela própria fermentação). Esta técnica traz muito mais profundidade, complexidade e textura aos vinhos. Portanto, na hora de escolher um Muscadet (a não ser que queira prová-lo com ostras), procure a expressão Sur Lie. Ela estará no rótulo ou mesmo em relevo diretamente no vidro das garrafas.
Custo-benefício
Um outro fator que joga a favor dos Muscadets é sua relação custo-benefício. É fácil encontrar no mercado brasileiro Muscadets na faixa entre R$ 100 e R$ 150, um verdadeiro achado, levando em conta a qualidade média destes vinhos e o que é pago de impostos sobre o vinho no Brasil. Porém, você pode melhorar ainda mais sua experiência pagando um pouco mais, pois vinhos dos melhores produtores desta região estão disponíveis no Brasil, também a preços convidativos.
Gastando no máximo R$ 250 por garrafa, é possível comprar vinhos dos melhores produtores da região. Na comparação, pense em um vinho branco básico da Borgonha, raramente se encontra algo (mesmo os vinhos de entrada) nesta faixa de preços. Portanto, é totalmente factível tomar um vinho francês de alta qualidade sem gastar muito.
Produtores recomendados
A região de Muscadet foi, por muito tempo, considerada uma região de vinhos simples e baratos, com produtores mais preocupados com quantidade do que qualidade. Porém, sabendo escolher os produtores corretos, é, como visto acima, possível beber muito bem por um custo mais que razoável. Nesta hora, o fundamental é focar em produtores que se dedicam a vinhos mais autênticos, com foco em agricultura sustentável, orgânica ou biodinâmica, além de processos mais artesanais na produção.
E, felizmente, não faltam opções de Muscadets de alta qualidade no Brasil. São diversos importadores trazendo estes vinhos para o mercado brasileiro, que podem ser comprados tanto no site destes importadores com em lojas e cavistas especializados. Em um “primeiro time” de produtores, podemos incluir Domaine de L’Ecu, Domaine de La Pépière, Domaine Luneau-Papin, Domaines Landron (ou Jo Landron, o nome do vinhateiro) e Domaine de Bellevue (este último, infelizmente, não disponível por aqui).
Outros produtores que também merecem destaque incluem Chéreau Carré, Domaine Le Fay d’Homme, Michel Brégeon, Domaine Gadais, Familie Lieubeau, Domaine Haut Févrie e Louis Métaireau. Os vinhos de boa parte deles também estão disponíveis no Brasil, ou seja, não faltam opções de Muscadet Sèvre et Maine para preencher sua adega e alegrar seu verão.
Como eu me descrevo? Sou um amante exigente (pode chamar de chato mesmo) de vinhos, um autodidata que segue na eterna busca de vinhos que consigam exprimir, com qualidade, artesanalidade, criatividade e autenticidade, e que fujam dos modismos e das definições vazias. A recompensa é que eles existem, basta procurar!
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Foto: Alessandro Tommasi, arquivo pessoal
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