A Côte de Nuits possui alguns dos mais valorizados vinhedos do mundo. E dois vilarejos, em particular, chamam a atenção pela complexidade, elegância e sofisticação de seus vinhos: Vosne-Romanée e Chambolle-Musigny, ambos contendo em seus nomes seus vinhedos Grand Cru mais famosos. Entre estes dois vilarejos, existem três outros climats Grand Cru, que vale a pena conhecer mais de perto.
Clos de Vougeot e Echézeaux chamam a atenção não só pela qualidade de seus vinhos, mas também pelo tamanho e quantidade produzida. Juntas, estas duas denominações de origem respondem por quase um terço de todos os tintos Grand Cru da Côte de Nuits. Porém, quando o foco está em qualidade, são os vinhos de Grands Echézeaux que se destacam. Caros, raros e menos conhecidos que os outros dois, os vinhos deste climat ficam entre os principais destaques desta parte da Borgonha.
Longa história
Assim como em diversas áreas da Borgonha, a história de Grands Echézeaux esteve por muito tempo intimamente ligada com as ordens religiosas. Durante séculos, esta área foi propriedade da Abadia de Citeaux. Porém, ao contrário dos vinhedos de Clos de Vougeot, já estava em mãos de particulares na época da Revolução Francesa. Desta forma, não foi sujeita ao confisco. Uma das mais tradicionais famílias da Borgonha, os Marey, controlavam parte significativa deste vinhedo, conhecido na época como Les Echézaux du Bas.
Uma alteração significativa ocorreu no final do século XIX. Jacques-Marie Duvault-Blochet, após comprar os vinhedos de La Romanée Conti e La Tache em 1869, expandiu sua vinícola nos anos seguintes, adquirindo parcelas em Echézeaux, Grands Echézeaux e Richebourg. Foi a partir deste momento que a Domaine de la Romanée Conti passou a ser o principal nome em Grands Echézeaux, com quase 40% do vinhedo, em uma grande parcela que domina a totalidade da área central deste Grand Cru.
Apesar da longa tradição, boa parte dos vinhos deste climat eram engarrafada como Clos de Vougeot ao menos até a década de 1920, quando o nome Grands Echézeaux começou a ser mais usado. Esta tendência ganhou força com a criação da denominação de origem em 1937, até por conta da percepção de que os vinhos deste climat eram mais homogêneos do que os vizinhos Echézeaux e Clos de Vougeot
Localização, terroir e produção
A denominação de origem Grands Echézeaux, criada em 31 de julho de 1937, tem área regulamentada de 9,14 hectares, curiosamente bem menor que Echézeaux, com 36,3 hectares. Ela se localiza dentro da área da commune de Flagey-Echézeaux, entre Vosne-Romanée e Chambolle-Musigny. Grande parte de suas parcelas, com altitude média de 260 metros acima no nível do mar, mostram leve inclinação. O solo contém uma cobertura de argila de cerca de um metro de profundidade, acima de um subsolo predominantemente calcário, com origem no período Bajociano.
Somente a elaboração de vinhos tintos é permitida, tendo a Pinot Noir como uva principal. Porém, o regulamento da denominação permite também o uso de uvas como Chardonnay, Pinot Blanc e Pinot Gris, em até 15% do blend. Isso, porém, muito raramente acontece. A produção média entre 2014 e 2018 ficou em apenas 277 hectolitros, o que corresponde a pouco menos de 37 mil garrafas ao ano.
Vinhos
Por sua homogeneidade de terroir, os vinhos de Grands Echézeaux obtiveram uma reputação superior aos de Echézeaux e Clos de Vougeot. Costumam ter melhor textura e mais equilíbrio, com grande potencial de guarda, requerendo paciência para atingir seu ápice (geralmente entre 20 e 25 anos). Há quem os compare com os vinhos de Richebourg, pela potência e elegância.
Além de sua melhor percepção de qualidade, também sua escassez faz a diferença. Uma garrafa do Grands Echézeaux da Domaine de la Romanée Conti (DRC) mostra preço na faixa de € 4.000 na Europa, acima dos € 3.500 do Echézeaux do mesmo produtor. O mesmo ocorre com outra vinícola (Mongeard-Mugneret) que produz nas duas denominações de origem: € 510 versus € 360 por garrafa.
Principais produtores
Estes dois produtores concentram mais de 50% da área de vinhedos de Grands Echézeaux. A Domaine de la Romanée Conti possui 3,53 hectares, enquanto a Domaine Mongeard-Mugneret conta com 1,44 hectare. Curiosamente, o papel dos vinhos elaborados a partir destes vinhedos é bastante distinto entre elas.
No caso da DRC, os vinhos de Grands Echézeaux perdem em importância para cuvées como La Romanée-Conti, La Tache e Richebourg e em área para Romanée-Saint-Vivant. Já para a Mongeard-Mugneret seus Echézeaux e Grands Echézeaux são destaque, tanto em termos de prestígio como quantidade. Com parcelas menores em Grands Echézeaux, vale a pena citar também Domaine du Comte Liger-Belair, Domaine Thenard, Domaine d’Eugénie, Georges Noëlat, Coquard-Loison-Fleurot, Jean-Marc Millot, Domaine Robert Sirugue e Gros Frére, além do négociant Joseph Drouhin.
Fontes: Vins de Bourgogne; Wine Scholar Guild; Inside Burgundy, Jasper Morris; WineHog; The Climats and Lieux-dits of the Great Vineyards of Burgundy, Marie-Hélene Landrieu-Lussigny & Sylvian Pitiot
Mapas: Vins de Bourgogne, WineHog
Imagens: Arquivo pessoal
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