A Domaine de La Romanée-Conti é por muitos considerada como a mais icônica vinícola do mundo. Sediada em Vosne-Romanée, na Borgonha, adquiriu ao longo do tempo alguns dos melhores vinhedos da região, elaborando vinhos que ficam entre os mais caros e raros do planeta. Além de seu vinhedo principal, é proprietária total ou parcial de outros climats de renome, com pouco mais de 31 hectares de área total e produção na faixa de 85 mil garrafas ao ano.
Conhecida também como DRC, duas famílias atualmente dividem seu controle: de Villaine e Leroy/Roch, que compartilham sua administração. Com vinhedos de longa tradição e reconhecidos desde a Idade Média como alguns dos melhores da França, se destaca também pela sua liderança e inovação. Seus vinhos são geralmente elaborados com uso exclusivo de leveduras indígenas e cachos inteiros, enquanto seus vinhedos são cultivados de forma orgânica, com uso de princípios biodinâmicos. Em resumo: une o passado e o futuro, com o objetivo de trazer a melhor expressão possível à Pinot Noir e à Chardonnay.
História ancestral
Embora somente a partir de 1869 tenha assumido uma identidade em linha com a atual, a história de seus vinhedos e instalações é muito mais antiga. Em 1232, a Duquesa da Borgonha Alix de Vergy doou seus melhores vinhedos (na época conhecidos como Cros de Croux e Croux des Cinq Journauxs) para a Abadia de Saint-Vivant.
A partir destes vinhedos (atualmente Romanée-Conti e Romanée Saint-Vivant) a abadia elaborou vinhos, ao menos até 1631. Para tal, construíram instalações para vinificação adjacentes aos vinhedos, na atual Rue du Temps Perdu. Este é o endereço onde está atualmente sediada a DRC, que usa estes edifícios inclusive para a produção de seus vinhos.
De 1631 até 1760 tanto os vinhedos como as instalações eram de posse da família holandesa Croonembourg. Foi a época na qual os vinhedos começaram a ser conhecidos como La Romanée. Com a venda do vinhedo La Romanée para o Louis-François de Bourbon, o sexto Príncipe de Conti, em 1760, começava um novo capítulo. Mas esta parte de sua história terminou abruptamente com a Revolução Francesa de 1789. Foi quando começou o confisco das propriedades do clero e da nobreza, inclusive os vinhedos e instalações da antiga Abadia de Saint-Vivant.
Novos proprietários e duas famílias
Após a Revolução, ocorreu a divisão dos vinhedos em diversas parcelas, que passaram por vários proprietários. Foi somente em 1869 que Jacques-Marie Duvault-Blochet, na época com 79 anos, adquiriu o vinhedo de La Romanée-Conti, dando os primeiros passos para a constituição do que hoje conhecemos como a Domaine de la Romanée-Conti.
Mas este viticultor e négociant, que também foi conselheiro geral da Côte d’Or, não desfrutou de sua aquisição por muito tempo. Faleceu em 1874 e a propriedade foi dividida entre suas duas filhas, Claudine-Constance Massin e Henriette Dupuis. Viúva em 1883, Claudine-Constance cedeu sua parte para sua filha Gabrielle Chambon, que a repassou para sua tia Henriette em 1885. A partir do falecimento de Henriette, em 1887, a propriedade passou para a posse de dois descendentes: Jacques Chambon e sua irmã Marie-Dominique Gaudin de Villaine.
A família Gaudin de Villaine mantém sua participação até os dias atuais, tendo Bertrand de Villaine como gestor atual, sucedendo Aubert de Villaine, que se aposentou em 2022. Por outro lado, Jacques Chanbon vendeu sua participação para Henri Leroy em 1942. Este négociant sediado em Auxey-Duresses passou sua parte para suas filhas Pauline Roch e Marcelle (Lalou) Bize. É a filha da Madame Lalou, Perrine Fenal, que atualmente divide a administração da vinícola com Bertrand de Villaine.
A construção de um mito
Se o que conhecemos como DRC começou com a aquisição do 1,81 hectare de La Romanée-Conti em 1869, a área total de vinhedos foi construída pacientemente ao longo dos últimos 150 anos. Seu outro monopole, La Tâche, foi em grande parte adquirido em 1933. Parcelas significativas nos Grands Crus Richebourg, Romanée-St-Vivant, Grands Echézeaux e Echézeaux foram compradas em diversas transações ao longo dos séculos XIX e XX. Por conta disso, a DRC é atualmente a maior proprietária individual em todas estas denominações de origem.
Mais recentemente, as atividades cresceram também na direção da Côte de Beaune. Em 2009 foram adquiridas parcelas em alguns dos melhores vinhedos de Corton, mais especificamente em Clos du Roi, Bressandes e Renardes. Em 2019, uma parcela em Corton-Charlemagne foi arrendada junto à Domaine Bonneau du Martray.
Vinhedos
No total, a DRC controla cerca de 31,5 hectares de vinhedos. Destes, 27,7 hectares são plantados com Pinot Noir, com os demais são dedicados à Chardonnay. Além dos monopoles La Romanée-Conti (1,81 hectare) e La Tâche (6,06 ha), possuem diversas parcelas de Pinot Noir em outros climats Grand Cru. As maiores áreas ficam em Romanée-St-Vivant (5,29 ha), Echézeaux (4,67 ha), Grands Echézeaux (3,53 ha) e Richebourg (3,51 ha), seguidas por Corton Bressandes (1,19 ha), Corton Clos du Roi (0,57 ha) e Corton Renardes (0,51 ha). Possuem também cerca de 0,60 hectare em vinhedos Premier Cru em Vosne-Romanée.
Da área plantada com Chardonnay, todos os vinhedos se situam em climats Grands Crus. São 2,91 hectares em Corton-Charlemagne, 0,69 ha em Le Montrachet e 0,17 ha em Bâtard-Montrachet. Vale lembrar que a DRC possui algumas parcelas que não são utilizadas e, portanto, são vinificadas por outros produtores, como aquelas localizadas em Les Suchots, Reignots e Gaudichots.
Vinificação e vinhos
Consistência, altíssima qualidade e regularidade são as marcas dos vinhos da Domaine de la Romanée-Conti. Após quase 70 anos administrada por André Noblet e seu filho Bernard, a partir da safra de 2018 a vinificação passou para Alexandre Bernier. Entre as poucas mudanças registradas, destaque para a redução do uso de sulfitos e maior proporção de cachos inteiros (de cerca de 80% para 100%).
A produção anual varia bastante de acordo com a safra, lembrando que os vinhedos são cultivados com rendimentos muito abaixo do máximo determinado pelas regras das respectivas denominações de origem. Na média, são produzidas cerca de 85 mil garrafas/ano, com destaque para as cuvées La Tâche (+- 18 mil), Romanée-St-Vivant (14 mil), Richebourg (13 mil) e Grands Echézeaux (10 mil). Do icônico La Romanée-Conti são apenas 5 mil garrafas na média, com pouco mais de 3,5 mil para o branco Montrachet.
Fontes: Domaine de la Romanée Conti; Inside Burgundy, Jasper Morris; La Revue du Vin de France
Imagens: Arquivo pessoal
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