Quando se fala em guardar vinhos por períodos mais longos de tempo, seja em adegas ou em outros ambientes adequados, há praticamente um consenso. Embora existam estudos que indiquem que a posição de armazenamento pouco influi no potencial de envelhecimento em adega, a imensa maioria dos enófilos mantem suas garrafas guardadas na posição horizontal, ou seja, deitadas.
A justificativa é que o contato do vinho com a rolha evita que ela resseque. Caso isso venha a ocorrer, ela pode encolher e permitir a entrada de oxigênio na garrafa, acelerando de forma descontrolada o processo de evolução do vinho. Mas será que esta teoria funciona também para os vinhos espumantes, lembrando que, por conta da fermentação que ocorre dentro da garrafa, existe abundante presença de gás carbônico?
Mito ou realidade?
Eu já ouvi enófilos defendendo categoricamente que, por conta das diferenças em relação aos vinhos tranquilos (sobretudo a questão do gás carbônico nas garrafas), os espumantes devem ser mantidos na posição vertical. De outro lado, porém, não faltam referências, inclusive em algumas publicações de longa tradição no mundo do vinho, de que a melhor forma de conservar espumantes no longo prazo é na posição horizontal, da mesma forma que os vinhos tranquilos.
Quem tem razão neste debate? Entre tantas opiniões conflitantes, vale a pena ir diretamente à fonte e checar o que o que os produtores de espumantes têm a dizer. E, na hora de pensar em espumantes, a região de Champagne ocupa um espaço único. Além de ser a maior região produtora de espumantes do mundo em termos de faturamento, é também a principal referência mundial em termos de qualidade.
E a resposta é…
Criada em 1882, a Union des Maisons de Champagne (UMC) funciona como uma espécie de colegiado, reunindo alguns dos principais produtores de Champagne do mundo. São cerca de 370 membros, com nomes de peso como Moët & Chandon, Veuve Clicquot, Perrier e Bollinger, por exemplo. Portanto, mais do que opiniões de enófilos ou jornalistas, reúne a palavra de grande parte dos maiores especialistas em vinhos espumantes do mundo.
A resposta da UMC é clara: algo que realmente não importa no armazenamento de Champagnes é o ângulo da garrafa. Ao contrário dos vinhos tranquilos, o armazenamento de Champagnes (e outros espumantes) pode ser nas posições vertical ou horizontal. A pressão e o gás dentro da garrafa manterão a rolha úmida e o selo intacto em ambas as posições. Embora o armazenamento horizontal seja geralmente recomendado, alguns produtores discordam, argumentando que o armazenamento vertical mantém o vinho sem contato com a rolha. Isso reduz o risco de problemas com contaminação (o tal vinho bouchonée).
Mas não esqueça disso
Porém, ao falar de armazenamento, a UMC insiste em algumas recomendações. A primeira diz respeito à presença de luz. Champagnes são particularmente suscetíveis à presença de luz, sobretudo a ultravioleta. Tanto que existe uma expressão que se refere àqueles Champagnes que receberam exposição excessiva: um defeito chamado de goût de lumière.
Além disso, a recomendação é que os vinhos devem ser armazenados em um ambiente fresco, com temperaturas constantes de 10° a 12° C (máximo 15°C). A umidade é geralmente favorável em uma adega, desde que não exceda 60% a 70%. O excesso de umidade, por sua vez, pode estimular o desenvolvimento de mofo, danificando os rótulos e a rolha e, em última análise, podendo afetar o sabor do próprio vinho.
Fontes: Union des Maisons de Champagne; How to Store Champagne Properly, Wine Enthusiast; How to store Champagne at home, Decanter
Imagem: Gerd Altmann via Pixabay
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