A poda verde é um processo que gera controvérsia na viticultura. Mas sua definição é relativamente simples: é o processo de remoção de cachos de uvas de uma videira, ou seja, redução da quantidade de uvas que cada videira irá produzir. A justificativa? Através da poda verde o rendimento é reduzido, com o intuito de melhorar a concentração das uvas remanescentes. Em poucas palavras, o objetivo é trocar quantidade por qualidade.
Este é um processo praticamente impensável para os viticultores que buscam gerar maior quantidade de uvas, porém não é consenso mesmo entre todos aqueles que colocam a qualidade em primeiro lugar. Chamado de vendange vert (em francês) e green harvest (em inglês), tornou-se muito popular a partir da década de 1990. Atualmente, porém, sua eficácia é motivo de controvérsia.
Sim ou não?
De um lado, há quem afirme que reduzir a quantidade de cachos irá resultar em uvas de maior concentração e, portanto, gerar vinhos de melhor qualidade. Além disso, através do balanceamento entre a área de folhas (que segue inalterada ou mesmo ampliada) e o peso de frutas (que é reduzido), as uvas remanescentes podem alcançar melhor e mais rápida maturação.
Porém, de outro lado, diversos viticultores acreditam que este processo não é o ideal. Mais do que reduzir artificialmente a quantidade de cachos, o mais importante seria ter videiras em equilíbrio desde o início da safra. Isso significa que as próprias videiras devem estabelecer, de forma natural, as condições ideais. Ou seja, evitar uma safra muito grande em primeiro lugar. Para estes viticultores, não é uma boa ideia encorajar suas videiras a mostrar alta produtividade para, em seguida, remover muitos cachos a cada ano.
Timing e intensidade
Dentre aqueles que seguem praticando a poda verde, duas questões são fundamentais. O princípio básico é que, com menos cachos na videira, a taxa de acúmulo de açúcar aumenta na fruta que permanece. Como o açúcar está se acumulando constantemente ao longo do tempo, quanto mais cedo na estação a poda é feita, mais açúcar acaba no restante da fruta. Além disso, quanto mais frutas são descartadas em um dado momento, mais açúcar existe nas frutas restantes.
Deste modo, o momento da poda verde é a primeira questão importante. O ideal é reduzir a quantidade de cachos no meio do verão, ou seja, não tão cedo que a videira compense, nem tão tarde para que o benefício de ter menos cachos seja perdido. A segunda questão é qual a intensidade da poda, ou seja, qual a proporção dos cachos que serão perdidos através da poda verde. E isso pode variar de acordo com as condições de cada safra. Mantidas as outras variáveis inalteradas, realizar uma poda verde mais rigorosa pode antecipar a colheita, algo que pode ser interessante, dependendo da safra.
Poda verde na prática
Roberto Voerzio é, por muitos, considerado um dos grandes nomes da região de Barolo. E não há qualquer dúvida que ele seja um dos viticultores que adotam de forma mais agressiva a prática de poda verde. Para ele, isso é uma estratégia que reflete as condições de sua região. Voerzio acredita que a neblina de outono, o tempo frio e a chuva devem ser evitados a todo custo, pois isso resulta, em sua visão, em perda de energia e pureza das frutas.
Para antecipar a colheita (geralmente ele consegue colher um mês antes), é necessário que suas uvas amadureçam muito mais rapidamente. E isso é obtido usando duas estratégias. A primeira é a ampliação da área de folhas, para maximizar a fotossíntese. A segunda é a redução significativa dos rendimentos. Para atingir o primeiro objetivo, suas videiras têm dois metros de altura (o dobro de seus vizinhos). Mas o mais importante é reduzir a quantidade de uvas de cada planta, dos dois quilos praticados na região, para meio quilo. E a poda verde é a técnica usada.
Assim que a veraison nas uvas começa, tipicamente no início de julho, a primeira poda verde é feita. Ou seja, cerca de dois meses e meio antes da data final de colheita, a quantidade de cachos por videira é reduzida para apenas cinco. Quinze dias antes da colheita, tipicamente no final de agosto, o peso das uvas destes cachos é novamente reduzido, cortando individualmente a metade inferior de cada cacho. Voerzio acredita que a metade inferior do cacho de Nebbiolo contém mais água, menor quantidade de antocianinas e taninos mais agressivos.
Quantidade vs qualidade
O resultado? As videiras que ele controla têm o potencial para produzir cerca de 400.000 garrafas de vinho por ano. Mas na realidade, em uma boa safra e por conta da poda verde, a produção fica próxima de 70.000 garrafas. E, em safras consideradas mais complicadas, a produção raramente supera 30 mil garrafas. Mas o que dizer da qualidade? Se isso é uma questão subjetiva, talvez o melhor seja provar seus vinhos para entender se a poda verde faz sentido ou não.
Fontes: Inside Burgundy, Jasper Morris; Decanter; Guildsomm; Fine + Rare
Imagem: Igor Ovsyannykov via Pixabay
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