Quando se fala da relação entre os vinhedos e os vinhos que são elaborados com as uvas provenientes destes locais, a primeira coisa que vem à mente é a qualidade do vinhedo. Não é à toa que a classificação de vinhos da Borgonha, a região vinícola mais bem mapeada do mundo, é baseada na qualidade dos vinhedos. Pela lógica, são os vinhedos Grand Cru aqueles aptos a produzir os melhores vinhos, seguidos pelos Premier Cru e etc.
Porém, existem outras condições que devem ser levadas em conta, além de composição do solo, orientação, altitude, localização, microclima e tantas outras definidas pela natureza. Há fatores que derivam da ação do homem, como, por exemplo, o tipo de agricultura adotada para o cultivo (convencional, sustentável, orgânica, biodinâmica ou outras).
Além do regime de agricultura, o viticultor pode interferir também em outras variáveis que podem impactar na qualidade dos vinhos provenientes de um vinhedo, com destaque para duas: densidade de videiras e rendimentos dos vinhedos. Não há dúvida que uvas de melhor qualidade passem também por uma combinação adequada destes dois fatores.
Densidade de videiras
De forma geral, existe a percepção de que vinhedos com maior densidade resultam em uvas melhores. Sendo a videira uma planta tremendamente adaptável e que consegue sobreviver em condições adversas, o ideal é “racionar” o quanto ela consegue absorver de água e nutrientes do solo. E uma das formas de fazer isso é plantar uma quantidade maior de videiras no vinhedo, de forma que elas compitam entre si, forçando uma ampliação de sua área de raízes e produzindo uvas mais equilibradas e saudáveis.
Na Europa, a densidade “padrão” é de 10.000 plantas por hectare, mas isso pode mudar dependendo das condições dos vinhedos. Em regiões de solos mais pobres, a densidade deve ser menor, para evitar que as videiras corram o risco de sofrer déficit hídrico ou falta de nutrientes. Assim, esta densidade acaba, em boa parte, sendo decidida pelo viticultor de acordo com as condições de seu vinhedo.
Rendimento
Outro fator acompanhado de perto é o rendimento dos vinhedos. De forma geral, acredita-se que vinhedos de menor rendimento resultem em vinhos de maior qualidade. A lógica passa pela concentração das uvas, já que reduzir a produção de cada videira pode resultar em uvas de melhor qualidade. De acordo com este raciocínio, os nutrientes obtidos pela videira ficariam mais concentrados nas uvas de plantas com menos cachos do que naquelas com mais.
Porém, falar de rendimento ideal não é uma questão simples. Ela vai depender de vários fatores, desde a fertilidade e tipo de solo, o regime hídrico, a variedade de uva e uma série de outras variáveis. Existe um ponto ótimo para cada situação e vinhedo. Por exemplo, há situações onde rendimentos muito baixos podem resultar em vinhos piores. Por conta de rendimentos excessivamente baixos, a concentração dos vinhos pode ser excessiva, com eles se mostrando menos elegantes.
Análise mais profunda
A equação correta para cada vinhedo depende de diversos fatores, como visto acima. Deste modo, não faz sentido acreditar, sem uma análise mais ampla, que um rendimento de 35 hl/ha seja necessariamente melhor do que um de 45 hl/ha. Além das especificidades de cada vinhedo, também a densidade de plantio deve ser levada em conta.
Caso ela seja de 10.000 plantas por hectare, então 45 hl/ha significa 0,45 litros por videira. Já se a densidade for de 6.000 plantas por ha, 45 hl/ha de rendimento implica em 0,75 litros por videira, mais do 50% a mais. Caso o rendimento seja 35 hl/ha, considerando uma densidade de 6.000 plantas, seriam 0,58 litros por videira. Qual é melhor?
Este exemplo deixa claro que não faz sentido analisar cada uma destas variáveis de forma independente. Além de levar em consideração as especificidades de cada região ou vinhedo, antes de apontar um rendimento ideal é preciso saber a densidade de videiras, e vice-versa. A pergunta mais correta, no fundo, é saber qual a densidade de videiras e qual a produção de uvas, em quilos, de cada uma. O mundo do vinho é realmente complicado, até pela quantidade de variáveis envolvidas. Assim, análises baseadas apenas em uma variável podem levar a conclusões equivocadas.
Fontes: Jancis Robinson; Decanter
Imagem: Montagem a partir de imagens de Gerd Altmann e Gerhard G., ambas via Pixabay
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