Do céu ao inferno em 18 meses. Ou vice-versa, dependendo da perspectiva. Este pode ser um resumo da variação dos preços de vinhos premium entre meados de 2022 e o final deste ano. Vamos primeiro voltar ao passado. Com o final da pandemia da COVID-19, 2021 e a primeira metade de 2022 viram uma valorização recorde no preço dos vinhos premium. Duas regiões, em especial, se destacaram: Borgonha e Champagne.
Segundo dados da plataforma de negociação britânica Liv-Ex, entre novembro de 2021 e o mesmo mês do ano passado, o principal índice de vinhos da Borgonha, o Burgundy 150, subiu 27%. Isso significa que, mesmo considerando uma segunda metade de 2022 relativamente estável, na média os ícones da mais badalada região francesa viram seu preço aumentar quase 30% em apenas 12 meses.
Um comportamento similar foi registrado em Champagne, com o Champagne 50 atingindo novo patamar recorde após uma valorização de 22% no mesmo período. Impulsionado por estas duas regiões, o Liv-ex 100, índice que mede a variação dos 100 vinhos mais negociados pela plataforma britânica, cravou valorização de 7,1% em 2022. Mas tudo isso viria a mudar drasticamente em 2023.
Forte correção
O que se viu em 2023 foi um forte ajuste, o mais significativo desde que a Liv-ex publica suas estatísticas. Revertendo completamente o quadro dos anos anteriores, foram exatamente Borgonha e Champagne os líderes desta forte correção. O Bourgogne 150 fechou novembro de 2023 em um patamar 16,2% abaixo do registrado no mesmo período do ano anterior. Para complicar ainda mais, a quantidade de oferta de compra segue bem abaixo das de venda.
Isso indica que ainda existe potencial de novas quedas em 2024. Vale lembrar que, mesmo apesar da correção em 2023, na média os vinhos da Borgonha negociam no mercado secundário em um patamar 10% acima de novembro de 2021 e 26% superior aquele registrado há cinco anos. No caso de Champagne, o desempenho foi na mesma direção: queda de 19% em 2023. Apesar disso, os preços estão ainda 53% acima daqueles do final de 2018.
Porém, Borgonha e Champagne não foram as únicas regiões vinícolas da França com forte ajuste de preços em 2023. O Liv-ex Bordeaux 500 caiu 10,3%, enquanto o Rhône 100 despencou 20,5%. Mesmo em outras regiões do mundo, 2023 também foi ano a esquecer: Italy 100 caiu 6,9% com o Rest of the World 60 fechando com queda de 12,8%. Por conta deste desempenho ruim em todas as regiões, o Liv-ex 100 registrou baixa de 13,4%.
O que esperar em 2024?
A Liv-ex traça um cenário desafiador para 2024. Em um cenário de preços em queda, a perspectiva de safras de grande volume na Borgonha, Toscana, Califórnia, Bordeaux e Champagne assusta. Há lugar para grandes volumes de vinhos caros no mercado atual? Para a plataforma britânica, o papel da safra na Borgonha e do Bordeaux En Primeur será mais crucial do que nunca – assim como o preço dos vinhos divulgados.”
“Chegamos ao impasse habitual típico dos mercados em baixa. Os compradores não comprarão vinhos ao seu preço de mercado atual, os vendedores estão reticentes em baixar seus preços e assumir perdas. Enquanto isso, os estoques estão se acumulando em armazéns e adegas, e há mais a caminho”, completa a Liv-ex. A correção de preços em curso até agora parece não ter sido suficiente para persuadir os compradores, de forma que os preços devem permanecer sob pressão no curto prazo.
Fonte: Liv-ex
Imagem: Mediamodifier via Pixabay
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