Rioja e seus conflitos: pequenos produtores se rebelam contra o Conselho Regulador

Mais um “terremoto” envolvendo produtores locais e o Conselho Regulador da denominação de origem Rioja. Pouco mais de um ano após a obtenção de uma solução de consenso na disputa entre os dirigentes da mais prestigiada denominação da Espanha e os diversos produtores da Rioja Alavesa, um novo conflito irrompeu. E, desta vez, envolve a associação Bodegas Familiares de Rioja.

A disputa anterior envolvia questões tanto políticas como culturais (a Rioja Alavesa é predominantemente basca, portanto, com inúmeras diferenças em relação ao restante da Espanha). Já o novo conflito diz respeito à escala e volume de produção. Agora, de um lado da mesa estão o Conselho Regulador e os grandes produtores. De outro, estão mais de 200 pequenos vinicultores, muitos dos quais defensores intransigentes da tradição vitivinícola da região.

Saída do Conselho

Uma saída parcial. Apesar de não abandonar a denominação de origem, a associação Bodegas Familiares de Rioja (BFR) não participará mais na tomada de decisões nos órgãos de gestão da denominação Rioja. Ou seja, seus vinhos seguirão sendo engarrafados como Rioja, mas este grupo de 216 produtores não participará mais das decisões, como uma forma de protesto.

Os dirigentes da BRF e todos seus filiados decidiram agir por acreditar que não têm capacidade real para alterar o modelo atual de negócios. Este, na sua visão, ameaça o modelo de negócio da pequenas e médias vinícolas. Eduardo Hernáiz, presidente da Bodegas Familiares de Rioja, Juan Carlos Sancha, vice-presidente e porta-voz da associação no Conselho Regulador e Ana Jiménez, gestora da mesma, anunciaram que deixam as mesas de gestão da Organização Interprofissional do Vinho Rioja e do Conselho Regulador por discordarem da política estratégica da mesma.

Juan Carlos Sancha deixou o cargo de membro do Conselho Regulador após 25 anos. Porém, ressaltou que a decisão da BFR não resultou de animosidade. Nas suas palavras, porém, “foi uma decisão difícil, muito pensada e anunciada”. A associação exige um reconhecimento social da representatividade, em função do número de adegas representadas e uma revisão dos pesos econômicos que são atualmente aplicados para medir a representação económica,

Discordância

A BFR acredita que há necessidade de mudança nos critérios da Rioja DOCa.  Segundo seus representantes, as regras atuais priorizam a permanência em madeira ou na adega dos vinhos e não o seu valor real. “Para dar um exemplo, vendo vinho de viñedo singular a 45 euros classificado como genérico e, no entanto, a minha garrafa vale 2,40 euros para a Câmara nas eleições. Enquanto isso, um vinho Reserva vendido na prateleira do supermercado é atribuído 4,85 euros”, disse Juan Carlos Sancha.

“A nossa associação aposta e defende ‘outra’ Rioja, com o foco na viticultura sustentável e na produção de vinhos artesanais de qualidade. Estamos convencidos de que a situação atual da Rioja, das suas adegas e viticultores, seria muito diferente se a política seguida nos últimos anos tivesse sido mais preocupada em proteger o valor das uvas, dos vinhos e do território, ao invés de produzir mais uvas e vinho”. Para ele, estes são os fatores por trás da situação atual, que registra um dos maiores excedentes de produção de sua história, sendo necessário destinar vinhos para destilação.

Busca definitiva por maior representação

Uma das metas da BFR é obter maior representação, até por conta do grande número de vinícolas que representam. Segundo Juan Carlos Sancha, em entrevista para o jornal Cronica Vasca, o objetivo é passar para 16% no Conselho, contra os 8% atuais. Por outro lado, o Grupo Rioja, que representa os grandes produtores, tem 79% dos votos.

Segundo Sancha, “enquanto nada mudar, ficaremos de fora. Nas próximas eleições, se houver realmente vontade de mudar no Conselho e for apresentado um plano atraente para as nossas pequenas e médias vinícolas, tentaremos voltar a integrar o Conselho. Mas se a representação prevista nos estatutos não for alterada, ficaremos de fora”. Uma frase pode resumir o pensamento da BFR: Queremos una gran Denominación de Origen, no una Denominación de Origen grande.

Fontes: La Prensa de Rioja; Cronica Vasca

Imagem: Montagem usando imagem de Michael via Pixabay

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