O Vale do Loire é uma das mais diversas regiões produtoras de vinho da Europa. Por conta de sua extensão (o maior rio da França tem mais que 1.000 quilômetros entre sua origem e o Atlântico) e diferenças de terroir, é comum esperar muita variação entre aas condições de safra entre as suas várias sub-regiões. E foi o que aconteceu na safra 2023, uma colheita marcada por imensas diferenças regionais em toda a Europa.
Porém, um fator talvez tenha sido comum entre todas as áreas desta verdadeira colcha de retalhos que são os vinhedos do Loire. Ao contrário da grande maioria das safras anteriores, não se viu em 2023 a ocorrência de episódios significativos de geadas. Por conta disso, o volume produzido neste ano em praticamente todas as sub-regiões do Loire foi significativo, trazendo sorrisos aos produtores. Em uma região normalmente sujeita a tantos extremos climáticos, uma safra com bom volume de produção é sempre algo a ser comemorado.
Foco na qualidade
Por outro lado, o que dizer da qualidade? Considerando a diversidade do Vale do Loire, é praticamente impossível traçar um panorama global. Isso, porém, não impediu Jim Budd, em artigo publicado na Decanter, de chamar a safra de 2023 de complicada. Segundo ele, condições climáticas variáveis, como excesso de chuva e ondas de calor, além da luta contra doenças fúngicas como o míldio, tornaram esta safra desafiadora.
Ele mesmo, porém, admite que é um desafio resumir de forma sucinta uma safra como 2023. Ela foi, de fato, muito variável dependendo da uva e da sub-região. E mesmo dentro das sub-regiões houve muita variação. Por exemplo, houve uma boa colheita em Azay-le-Rideau, mas mais complicada na vizinha Chinon, apesar da proximidade. Mesmo dentro da mesma parcela de videiras se viu diferenças consideráveis.
De forma geral, algumas sub-regiões parecem ter sido agraciadas com uma boa combinação entre quantidade e qualidade. Ao reportar suas impressões da safra 2023 nas áreas de Muscadet e do Loire Central (Sancerre e Pouilly-Fumé) Chris Kisack, o WineDoctor, destacou o alto grau de satisfação dos produtores. Já o mesmo mesmo não ocorreu em Anjou-Saumur ou Tourraine, onde a variação de qualidade parece ter sido significativa.
Condições da safra
Jim Budd mostrou uma percepção parecida, descrevendo de forma detalhada as condições da safra 2023. Para ele, este ano trouxe uma safra potencialmente muito grande, mas provavelmente de qualidade variável. Felizmente não houve geada grave, com grande volume potencial de uvas e rápida floração em condições secas e ensolaradas no final de maio e na primeira parte de junho. Mais tarde, em junho, foi quando a forte pressão de míldio começou.
Para o colunista da Decanter, as partes mais bem sucedidas do Loire este ano estão nos dois extremos. De um lado, o Pays Nantais (que engloba as denominações Muscadet), no oeste. De outro, o Loire Central e Superior (que inclui Sancerre, Pouilly-Fumé e algumas das denominações menos conhecidas, como a Côte Roannaise) a leste.
Em suas entrevistas com produtores destas sub-regiões, o feedback foi muito similar ao obtido por Kissac, com muito otimismo. Porém, o cenário pareceu mais desafiador para as sub-regiões de Anjou-Saumur e Touraine. “2023 é como uma safra como aquelas de 20-30 anos atrás, quando uma seleção muito cuidadosa de uvas era essencial”, disse Jean-Philippe Blot, do Domaine de la Taille aux Loups em Montlouis. Antoine Daviau, do Domaine de Bablut em Anjou, descreve 2023 como “um ano de extremos” “Passamos de uma falta de água no início da temporada para um excesso de chuva”. Portanto, atenção com estas sub-regiões quando for escolher seus vinhos do Loire da safra 2023.
Fontes: The Wine Doctor; Decanter
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