Alerta nos vinhedos europeus, novamente por conta de uma enfermidade originária da América do Norte e que pode atacar e causar graves danos às videiras. Se a história da viticultura na Europa mudou por conta da filoxera e os vinhedos do Velho Continente seguem sendo afetados pelo míldio e oídio, agora é a vez dos europeus redobrarem os cuidados contra o Mal de Pierce.
Em março deste ano foi confirmada a presença desta enfermidade pela primeira vez em vinhedos da Europa continental, mais especificamente nos arredores da cidade de Fundão. Nesta área, situada no centro-leste de Portugal, próximo da fronteira com a Espanha, foi identificada uma videira de cerca de 20 anos de idade contaminada, parte de uma parcela de dois hectares. E isso acendeu o alerta para viticultores europeus, não somente em Portugal, mas também no restante do continente.
O que é o Mal de Pierce?
A doença é causada por uma bactéria, chamada Xylella fastidiosa. Ela pode levar as videiras à morte por bloquear os vasos condutores de líquidos da planta (xilema). O Mal de Pierce representa uma grave ameaça para a viticultura por ser altamente destrutiva e de difícil controle. Além da sua disseminação natural por vetores aéreos (cigarras), existem inúmeras hospedeiras alternativas nativas.
O Mal de Pierce atualmente não possui cura, o que o faz potencialmente perigoso para os vinhedos europeus, já que a Vitis vinifera não apresenta defesas naturais contra a enfermidade. Além disso, ela não ataca somente as videiras. Existem várias cepas desta bactéria, atacando e causando danos a diferentes plantas hospedeiras. Elas incluem árvores frutíferas de cítricos, frutas de caroço, amêndoas, oleandro, além de outras árvores, como carvalhos, olmos, plátanos e sicamores. Sua presença foi também detectada em plantas rasteiras, sobretudo em sua região de origem.
Origem e expansão
Esta doença foi identificada pela primeira vez em 1884, próximo a Anaheim, na California. Chamada inicialmente de doença de Anaheim, foi descrita em 1892 por Newton B. Pierce, de quem posteriormente herdou o nome e passou a chamar-se Pierce’s disease. Algumas décadas depois, a doença atingiu outras regiões vitícolas da América do Norte.
Inicialmente acreditava-se que ela fosse causada por um vírus, porém estudos posteriores identificaram que a bactéria Xylella fastidiosa é a responsável pela enfermidade. Até o início deste ano, além de presente na California, Flórida, e outras regiões vitícolas do Sudoeste dos Estados Unidos, a doença atacou plantações no México, Costa Rica, Venezuela e Chile.
Na Califórnia, a doença foi responsável pela destruição de grandes áreas de vinhedos em quatro ataques epidêmicos nos períodos de 1884 a 1900; 1914 a 1918; 1935 a 1940 e 1960 a 1962. Além disso, estimativas da Universidade da Califonia indicam que mais de 400 hectares de vinhedos foram destruídos entre 1994 e 2000, resultando em prejuízos superiores a US$ 30 milhões. Em algumas áreas onde as condições são muito favoráveis, a doença ocorre de forma endêmica, impossibilitando a vitivultura.
Impacto sobre as videiras
O Mal de Pierce é considerado bastante perigoso, pois, além de diminuir a produção e qualidade das uvas, causa também a morte das videiras. E um dos grandes riscos é sua rápida disseminação. Várias espécies de ervas daninhas desempenham papel importante como fonte de inóculo para a disseminação da bactéria nos vinhedos.
Na falta de uma cura, os esforços devem estar concentrados na prevenção, inclusive na rápida identificação de sua presença. Alguns dos sintomas mais característicos da doença são manchas nas folhas, que evoluem para a cor amarela nas uvas brancas e vermelha no caso das variedades tintas. Além disso, há amadurecimento irregular dos ramos, queda do limbo foliar, e murcha e enrugamento dos cachos.
De modo geral, todas as variedades (inclusive algumas Vitis americanas) são suscetíveis à doença, porém o grau pode variar. Um estudo realizado no México mostrou que as uvas mais suscetíveis são Chardonnay, Pinot Noir e Barbera, com Cabernet Sauvignon, Merlot, Petit Syrah e Sauvignon Blanc sendo um pouco mais resistentes. Por outro lado, as uvas mais tolerantes parecem ser Chenin Blanc, Sylvaner e Riesling.
Fontes: Vitisphere; CDFA; Mal de Pierce – doença bacteriana da videira de importância quarentenária para o Brasil, Gilmar Barcelos Kuhn, EMBRAPA
Imagens: J. Clark, University of California, Berkeley via EPPO; A.H. Purcell, University of California, Berkeley via EPPO
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