Muita gente associa os vinhos do Etna exclusivamente aos seus tintos, que são elaborados, sobretudo, a partir da Nerello Mascalese. Porém, esta fascinante região vinícola é muito mais do que somente vinhos tintos. É uma área que produz também brancos, rosés e espumantes, em diversos estilos e partir de várias uvas, a maioria autóctones das encostas do mais alto vulcão ativo da Europa.
No total, temos uma denominação de origem no Etna, porém com seis tipologias diferentes. Além disso, muitos vinhos são engarrafados também com indicações geográficas, como Terre Siciliane IGT, ou outras DOCs, como Sicilia DOC. É uma região, porém, que preza mais pela qualidade que pela quantidade. Considerando a Etna DOC, a produção atingiu quase 5 milhões de garrafas em 2021, contra mais de 80 milhões somente na Sicilia DOC.
Desta produção, considerando somente os vinhos com denominação de origem Etna, cerca de um terço foram brancos. Assim, vale a pena conhecer melhor os vinhos das duas tipologias locais para vinhos brancos (Etna Bianco e Etna Bianco Superiore), além de falar um pouco também sobre os vinhos fora da denominação, sobretudo aqueles engarrafados como Terre Siciliane IGT.
Etna Bianco
Criada em agosto de 1968, a tipologia Etna Bianco foi uma das primeiras DOCs da Sicília e atualmente concentra a maior parcela da produção de vinhos brancos do Etna. Em 2021, foram produzidos cerca de 14,4 mil hectolitros, que corresponde a 1,9 milhão de garrafas. Isso representa quase um terço da produção total da Etna DOC.
Assim como as demais tipologias da região, registrou crescimento explosivo de produção nas últimas décadas. Somente nos últimos quinze anos, a produção mais do que quintuplicou, refletindo novos vinhedos e recuperação de áreas anteriormente abandonadas. A crescente demanda por vinhos brancos elegantes e de alta tensão e verticalidade sustentou este movimento.
Um Etna Bianco deve conter ao menos 60% da variedade Carricante. Já a Catarratto, seja através de qualquer um de seus dois principais biótipos (Comune ou Lucido), tem uma parcela que varia de 0% a 40%. Além disso, outras uvas brancas de longa presença na região, como Trebbiano, Minnella Bianca e outras não aromáticas, podem compor até 15% do corte.
Etna Bianco Superiore
Também criada em 1968, a Etna Bianco Superiore tem uma especificidade regional. Para fazer parte desta tipologia, os vinhos devem ter sido elaborados com uvas provenientes da comune di Milo, uma das mais altas da face leste do vulcão. Além disso, a proporção mínima de Carricante sobe para 80%, embora a grande maioria dos produtores elaborem in pureza, ou seja, como monovarietal. Em 2021, a produção total foi de apenas 746 hectolitros, o equivalente a cerca de 100 mil garrafas.
Esta alta proporção de Carricante traz a estes vinhos uma característica especial. Embora geralmente sejam lançados no ano seguinte à colheita, são brancos que ganham muito em termos de qualidade com mais tempo em garrafa. A Carricante é uma uva de elevada acidez e alta concentração de ácido málico, o que favorece sua longevidade. Portanto, caso encontre um Etna Bianco Superiore com vários anos, não perca a chance. São vinhos únicos.
Vinhos fora da denominação de origem
Porém, os vinhos brancos do Etna não se resumem aos vinhos com denominação de origem. De forma crescente, vem aumentando a proporção de vinhos engarrafados como Terre Siciliane IGT, o que dá muito mais flexibilidade ao produtor. São dois os principais motivos pelos quais os produtores optam por este caminho.
Em primeiro lugar, existe a questão da área abrangida pela denominação de origem. Criada muito antes da clara percepção dos impactos do aquecimento global, as regras incluíram limitações de altitude dos vinhedos. Embora isso varie ao longo das várias faces do vulcão, em geral estão excluídos vinhedos situados acima de 800 metros de altitude (ou pouco mais, em algumas áreas). Assim, vinhos com uvas de altitudes superiores acabam sendo engarrafados fora da denominação de origem. Um exemplo é o Sant’Andrea um 100% Carricante produzido pela Pietradolce, engarrafado como IGT.
O segundo motivo é a escolha de uvas. Embora Carricante e Catarratto sejam muito plantadas na área, há quem opte por outras variedades. De um lado, há quem busque valorizar outras uvas locais, com a Minella Bianca, vinificada in purezza por produtores como Calabretta. Há também múltiplos corte em proporções “não permitidas”, ou mesmo quem busque uvas “estrangeiras”. Exemplos são os 100% Chardonnay de Passopisciaro e Tascante, ou o monovarietal de Riesling da Planeta ou de Traminer Aromatico (Gewürtztraminer) da Enò-Trio.
O que esperar dos vinhos
Como em toda região, não há uma personalidade única nos vinhos do Etna. Porém, na maioria das vezes o que se pode esperar são brancos leves ou de média intensidade, com alta acidez e muita tensão. Geralmente trazem, no olfativo, aromas cítricos e de ervas verdes, com toque mineral (aquelas notas associadas a perdas molhadas são bastante comuns). São vinhos com bom potencial de guarda, sobretudo no caso dos Etna Bianco Superiore.
É sempre importante lembrar que o Etna é uma região de viticultura extrema, ou seja, algumas áreas estão nos limites do recomendado para viticultura. Além disso, as mudanças climáticas são intensas e abruptas, de forma que existe uma significativa variação entre diferentes safras. Isso, ao lado de diferenças significativas de terroir (sobretudo altitude e orientação dos vinhedos) traz uma imensa riqueza aos vinhos brancos do Etna.
Fontes: Consorzio Etna DOC; Etna: I Vini del Vulcano, Salvo Foti; The New Wines of Mount Etna: An Insider’s Guide to the History and Rebirth of a Wine Region, Benjamin Spencer; Entrevistas com diversos produtores; Focusicilia; Disciplinare di Produzione dei Vini a Denominazione di Origine Controllata Etna
Imagem: Arquivo pessoal
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