Viajando no mundo do vinho: conheça Valtellina, no coração dos Alpes italianos

Pouca gente discorda que a Itália seja um dos países mais lindos do mundo. E, quando se fala de regiões vinícolas, certamente uma das áreas de maior beleza no Bel Paese é a área de Valtellina. Além de elaborar vinhos de altíssima qualidade, esta região do norte da Lombardia, próxima da fronteira da Suíça, se destaca também pelas suas belezas naturais e pelos seus vinhedos em terraços, ao longo das colinas e montanhas da região.

Estes terraços de pedra, construídos durante centenas de anos (há indícios que precedem o Império Romano) chamam a atenção, de forma que a partir de 2018 eles foram declarados pela UNESCO como Patrimônio Mundial. E fora a beleza natural, estes vinhedos dão origem também a vinhos realmente únicos. Eles são um exemplo da chamada viticultura heroica, onde até helicópteros são usados para a colheita das uvas.  

Localização e geografia

A região vinícola da Valtellina fica localizada na margem direita do rio Adda, na parte norte da província da Lombardia, próximo ao Lago di Como. A extensão total da faixa de vinhedos é de aproximadamente 60 quilômetros, dos quais cerca de 40 quilômetros se referem a vinhedos de denominação de origem controlada (DOC e DOCG). A partir do vale formado pelo rio, os vinhedos literalmente sobem as encostas, formando um cenário encantador.

Do ponto de vista geográfico, a região tem um perfil diferenciado para a viticultura. Em direção à Suíça, é protegida dos ventos frios que vem do norte da Europa pelos Alpi Retiche, enquanto ao sul recebe proteção dos Alpi Orobie. As montanhas também garantem que a região não tenha excesso de chuvas. A média de temperatura anual é na faixa entre 11 e 13,5ºC, com grande amplitude térmica e cerca de 1.400 a 1.900 horas de sol ao ano. O solo é basicamente arenoso (cerca de 70%) em base granítica, com pouca presença de calcário.

Um pouco de história

Esta região tem uma longa história, com as primeiras referências sendo anteriores ao Império Romano, inclusive no que diz respeito à construção dos terraços usados para a agricultura. A viticultura teria sido desenvolvida inicialmente pelos romanos, mas os maiores avanços teriam vindo a partir da Idade Média, com os monges beneditinos.

Os religiosos teriam sido os responsáveis pela introdução e cultivo da Nebbiolo na região. Porém, existem teorias de que esta variedade seria autóctone da região. De lá, teria sido levada pelos beneditinos ao Piemonte, inicialmente para Ghemme e posteriormente na região do Langhe (onde ficam Barolo e Barbaresco). Antes da unificação italiana, a região teve forte influência suíça, já que fazia parte da área controlada pela Lega Grigia, uma aliança que inclua alguns dos atuais cantões suíços.

Denominações de origem e sub-regiões

Do ponto de vista de denominações de origem, a Valtellina não é uniforme, já que inclui quatro denominações diferentes. São duas DOCG, com destaque para Valtellina Superiore, que foi criada em 1998 e conta com 604 hectares de vinhedos. Destes, cerca de 90% são plantados com Chiavennasca (que é como a Nebbiolo é conhecida na área). O restante fica com varietais autóctones e menos conhecidas, como Pignola, Brugnola e Rossola.

Dentro desta denominação, os vinhos produzidos podem trazer referências a cinco subzonas: Maroggia, Sassella, Grumello, Inferno e Valgella. Destas, a mais conhecida é Sassella, a segunda maior em área plantada (117 hectares, contra 136 hectares de Valgella), porém a de maior produção. Com uma média de 610 mil garrafas ao ano, ela sozinha representa cerca de 44% do total das cinco subzonas.

As cinco subzonas

A outra DOCG é Sforzato di Valtellina, criada em 2003 e que se especializa em vinhos que contenham uma proporção de uvas apassitadas (que vagamente lembram os Amarones). Já a DOC Rosso di Valtellina conta com cerca de 130 hectares de área plantada, enquanto a IGT Alpi Retiche (anteriormente chamada de Terrazze Retiche di Sondrio) soma aproximadamente 400 hectares de vinhedos.

Vinhos e vinhedos

A Nebbiolo reina quase absoluta na região, sobretudo quando vinificada em tinto, embora existam espumantes e brancos elaborados a partir dela. Apesar da denominação Valtellina Superiore ser composta por cinco regiões, não existe uma grande diferença nos vinhos no que diz respeito a estas diferenças geográficas. O maior impacto fica por conta da altitude dos vinhedos, que, de forma simplificada, foram divididos em três grupos. O primeiro seria aquele abaixo de 400 metros acima do nível do mar, seguido pelos vinhedos entre 400 m e 500 m e aqueles acima de 500 metros.

A faixa mais disputada é entre 400 a 600 metros de altitude, onde fica a maioria dos vinhedos classificados como DOCG. São vinhos que combinam boa estrutura e elegância, que em estilo se mostram mais próximos dos Nebbiolos produzidos no norte do Piemonte do que aqueles do Langhe (entre eles Barbaresco e Barolo, que são mais encorpados e tânicos).

Produtores

Assim como no Piemonte, existe também um contraste entre os produtores ditos tradicionalistas, em oposição aos chamados modernistas. O primeiro grupo, que conta com nomes como ArPePe e Dirupi, aposta mais em macerações longas e uso de grandes recipientes de carvalho, para produzir vinhos longevos e estruturados. Na outra ponta, com foco em vinhos mais frutados e de consumo mais rápido, ficam produtores como Mamete Prevostini, Plozza, Luca Faccinelli e Aldo Rainoldi.

Embora esta distinção tenha perdido força nos últimos anos, existem vários pontos intermediários entre estes dois grupos. Neste segmento, destaque para produtores como Nino Negri, Triacca, Bettini e Nera.  

Fontes: Vini di Valtellina; World Atlas of Wine, Hugh Johnson; Valtellina DOCG and Sforzato, Mario Cagnetta e Wine Scholar Guild

Imagem: Marek Piwnicki via Unsplash

Mapas: Vini di Valtellina, Wine Scholar Guild

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