A Ribera del Duero é atualmente reconhecida com uma das principais regiões produtoras de vinhos de alta qualidade da Espanha. Mas nem sempre foi assim. Foi somente a partir da criação da denominação de origem em 1982 que diversos viticultores locais começaram a investir na elaboração de vinhos próprios. Até então, com pouquíssimas exceções, era uma região dominada pelas cooperativas.
A Viña Sastre foi um desses produtores, atualmente reconhecida como uma das histórias de sucesso da região. Rafael Sastre desempenhava uma série de atividades, inclusive a venda de vinhos a granel na região e áreas vizinhas. Mas sua grande paixão era cuidar de seus vinhedos. Membro da cooperativa local, começou a elaborar vinhos para consumo pessoal no início da década de 1980.
Um novo conceito
Contando com ajuda de seus filhos Pedro (falecido em 2002) e Jesús (que hoje dirige a vinícola), criou em 1992 a Viña Sastre. Na época com 23 hectares de vinhedos, mudou o foco para produção e comercialização de vinhos próprios. Contratou um enólogo, expandiu sua área de vinhedos e já em 1994 lançou seu primeiro vinho em escala comercial: Viña Sastre Pago de Santa Cruz, até hoje seu vinho mais conhecido.
Jesús Sastre deu sequência ao trabalho de seu pai, colocando a Viña Sastre entre os grandes nomes da Ribera del Duero. A combinação de sustentabilidade no cultivo dos vinhedos, alta proporção de vinhas velhas e uso de técnicas de baixa intervenção na adega, deu frutos. A área de vinhedos cresceu mais de quatro vezes e alguns de suas cuvées hoje fazem parte da elite de vinhos da região.
Agricultura e vinhedos
Atualmente a Viña Sastre conta com cerca de 95 hectares de vinhedos, dos quais 83 em produção. A grande maioria (quase 72 hectares) é de vinhedos próprios, com mais 15 hectares de posse de um familiar e mais 6 hectares de um amigo, este último cultivado sob orientação dos Sastre desde a criação da vinícola. O cultivo é basicamente orgânico, sem uso de pesticidas ou herbicidas sintéticos, mas também abrindo mão da utilização do cobre.
A Tempranillo, refletindo o padrão regional, domina os vinhedos, grande parte dos quais localizados em altitudes entre 800 e 850 metros acima do nível do mar. Chamada localmente de Tinta del País, responde por 95% da área plantada, complementada por pequenas parcelas de Merlot, Cabernet Sauvignon e uvas brancas locais (como a Albillo Real), boa parte das quais de vinhedos antigos.
Aliás, as vinhas velhas são uma marca registrada da Viña Sastre. Jesús considera como vinhas velhas somente aquelas plantadas antes de 1960 e atualmente cultiva mais de 30 hectares dentro deste critério. Para ele, as uvas plantadas por seu pai na década de 1980 (que compõem hoje a maioria dos vinhedos) são “jovens”, certamente uma maneira conservadora de definir vinhas velhas na comparação com muitos outros produtores locais.
Vinificação e envelhecimento
Em termos de vinificação, a Viña Sastre adota práticas convencionais, porém com cuidados para manter um alto padrão de qualidade. Contando com uvas sãs e de colheita manual, opta por realizar todas suas fermentações com uso exclusivo de leveduras indígenas. Para garantir a integridade do processo e qualidade dos vinhos, todas as fermentações são em tanques de inox, mais fáceis de serem higienizados e que apresentam menor risco de contaminações. Os vinhos passam por estabilização a frio e leve filtração antes do engarrafamento e o uso de sulfitos é limitado.
O que muda é o envelhecimento dos vinhos. Para cada cuvée diferente adota uma combinação de recipientes diversos, entre eles tanques de inox, barricas de carvalho francês e americano e maiores formatos. Também a composição de carvalho novo muda de acordo com cada vinho, adequando o envelhecimento de forma a respeitar ao máximo as diferenças de terroir entre seus vinhedos.
Vinos de Pueblo
A Vinã Sastre tem produção anual de cerca de 350 mil garrafas, dividida em oito cuvées diferentes. Quatro delas são Vinos de Pueblo, respondendo pela maioria da maior produção da vinícola. Há um vinho branco (Flavus), com uso de uvas a partir de videiras velhas (1900-1910) de Albillo Real. Com produção de apenas 2.400 garrafas, é mantido com suas lias por até 10 meses em barrica (30% novas, 30% segundo uso, 30% terceiro).
Antes dos seus dois tintos de entrada há também o Viña Sastre Rosado, chamado de Marcelina Gómez (homenagem à mãe de Jesús Sastre). Este saignée de Tempranillo, com maceração mais leve, traz coloração entre um rosé da Provence e um típico rosado espanhol. É um vinho fresco e frutado, sem passagem por madeira.
O Viña Sastre Roble é a cuvée de maior produção (150-200 mil garrafas anos). Este monovarietal de Tempranillo tem origem nas vinhas plantadas a partir da década de 1980 e passa de seis a dez meses por barricas francesas e americanas. Por fim, o Viña Sastre Crianza conta com cerca de 80% a 85% de vinhas velhas, com estágio de 14 meses em carvalho (70% madeira nova, 30% segundo uso), sendo 70% barricas francesas. Com produção na faixa de 100 mil garrafas, é um vinho mais complexo que o anterior.
Pago de Santa Cruz
Dos quatro Vinos de Parcela, dois deles têm origem no vinhedo Pago de Santa Cruz, zona de cerca de 20 hectares, múltiplas orientações e videiras acima de 80 anos de idade. O primeiro dele, um vinho que combina classicismo e modernidade, é elaborado desde 1994. Com produção de cerca de 14 mil garrafas ano, passa 18 meses em barris de carvalho americano novo, provenientes e três tonelerias diferentes.
Já o Pago Santa Cruz Gran Reserva, apesar de uvas da mesma origem, tem uma proposta completamente diferente de envelhecimento. São 30 meses em barricas, das quais 70% carvalho francês e 30% americano, sempre segundo ou terceiro uso. É um vinho mais clássico, com menos aporte de madeira e produção de apenas 5.000 garrafas ao ano
Fechando a linha de vinhos
Dois vinhos fecham a linha da Viña Sastre. O Regina Vides, elaborado desde 1998, contém uvas de três vinhedos de solos diferentes, com alta proporção de vinhas velhas. Este 100% Tempranillo faz fermentação maloláctica em carvalho, passando 18 meses em barricas francesas novas (tonelerias de Bordeaux e da Borgonha). São apenas 6.000 garrafas ao ano.
O Pesus é o vinho mais caro e de menor produção da vinícola. Produzido desde 1999, foi concebido para ser diferente dos demais. Não é 100% Tempranillo (que fica com cerca de 85% do corte), complementado por Cabernet Sauvignon, Merlot e outras uvas. Seu envelhecimento é chamado por Jesús Sastre de “200% de carvalho novo”. O vinho, após completar seis meses em barricas francesas novas, passa por trasfega para outras barricas novas da mesma origem, onde fica mais 12 meses. A produção varia entre 1.800 e 2.400 garrafas ao ano.
Nome da VinícolaBodegas Hermanos SastreEstabelecida1992 Website https://www.vinasastre.com/es EnólogosAlvaro Martínez, Jesús Sastre UvasTempranillo, Merlot, Cabernet Sauvignon, Albillo RealÁrea de Vinhedos95 hectaresSede da VinícolaLa Horra (Castilla y Leon)DenominaçãoRibera del DueroPaísEspanhaAgriculturaOrgânica sem certificaçãoVinificaçãoBaixa IntervençãoImportador no BrasilTanyno
Fonte: Entrevista com o produtor
Imagem: Viña Sastre
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