O vinho francês enfrenta um dilema. Após décadas de forte queda no consumo per capita e relativa estabilidade nos dez anos anteriores a 2021, as perspectivas parecem sombrias. Os franceses, contabilizando as pessoas acima de 15 anos, consumiam cerca de 100 litros de vinho por ano em 1960. Já em 2010, este patamar era de 45 litros, variando pouco desde então, ao menos até o final da pandemia.
As projeções para 2034 parecem indicar uma retomada do ritmo de forte queda no consumo nos próximos 10 anos. Estudos indicam que o consumo per capita de vinho na França deve ficar entre 32 e 35 litros em 2034, uma queda entre 22% e 29% em relação aos níveis atuais. Com exportações em queda (com exceção dos vinhos de maior valor), existe uma enorme pressão para reduzir a produção.
Redução na área de vinhedos
Diante deste cenário, a própria indústria vitivinícola francesa busca soluções para “preservar o futuro”. Em dezembro do ano passado, nove organizações profissionais pediram um “novo acordo” para o setor, com a divulgação de um plano estratégico para revitalização do setor. E, entre as medidas, existe a possibilidade de redução da área de vinhedos da França.
Segundo Bernard Farges, presidente da Comité National des Interprofessions des Vins à appellation d’origine et à indication géographique (CNIV), seria necessário “retirar de produção cerca de 100 mil hectares com bastante rapidez”. A França atualmente conta com cerca de 750 mil hectares de vinhedos, ou seja, o corte seria de cerca de13% da área plantada.
Este corte de vinhedos é significativo, mesmo para o país com a segunda maior área de videiras do mundo, somente atrás da Espanha. Para colocar o número em perspectiva, 100 mil hectares representam quase metade da área de vinhedos da Argentina ou do Chile e equivale a todos os vinhedos da Alemanha.
Pacote de medidas
O sector vitivinícola ainda não encontrou instrumentos para financiar esta redução drástica. A solução pode passar pelo uso de mecanismos de financiamento da União Europeia, mas ela deve enfrentar resistências. Deste modo, “essa recalibragem deve ser voluntária, não dirigida”, diz Samuel Montgermont, presidente da associação profissional Vin et Société.
Outro caminho recomendado é buscar reativar as exportações e promover o setor francês internacionalmente. Vale lembrar que vinhos e destilados representam o segundo maior setor exportador francês, somente atrás do segmento aeronáutico. Mas é um setor longe de ser homogêneo. Enquanto os vinhos de alta gama têm grande aceitação no exterior, outros vinhos estão enfrentando concorrência crescente nos mercados externos.
O setor também necessita se adaptar às mudanças no padrão de consumo e reconquistar o mercado interno. O foco é o segmento de consumidores mais jovens, que estão cada vez mais abandonando o vinho para consumir mais cerveja e destilados. Medidas mais detalhadas devem ser divulgadas em breve, possivelmente antes da Feira Agropecuária de Paris, que ocorrerá no final de fevereiro.
Fontes: Comité National des Interprofessions des Vins à appellation d’origine et à indication géographique; Ouest France; Vitisphere
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