O vinho brasileiro vem ganhando espaço nos últimos anos, tanto em termos de quantidade como de qualidade. Atualmente o Brasil é o terceiro maior produtor de vinhos da América do Sul, com cerca de 3,6 milhões de hectolitros, somente atrás da Argentina e do Chile. Em escala mundial, o Brasil fechou 2021 como o 14º maior produtor.
Hoje em dia, apesar do crescimento da produção em outras regiões, falar em vinhos no Brasil traz uma direta associação com o Rio Grande do Sul. É na Serra Gaúcha e na Campanha que se concentra boa parte da produção brasileira, com uma inegável herança da imigração italiana. No entanto, a produção de vinho no Brasil começou muito antes disso, e não no Rio Grande do Sul. Você sabe onde é a origem da vinicultura no Brasil?
Videiras no início da colonização
Pouca gente sabe, mas o cultivo de uvas no Brasil coincide com o início da colonização portuguesa. A introdução de videiras no Brasil se deu em 1532, na Capitania de São Vicente, onde Martim Affonso de Sousa estabeleceu uma série de práticas agrícolas, inclusive a viticultura. As mudas de uvas vieram tanto de Portugal continental como e, principalmente, da Ilha da Madeira e dos Açores.
E um nome, em particular, ganhou importância como o primeiro vinicultor no Brasil. Foi Brás Cubas, que recebeu terras na década de 1540 e fundou a cidade de Santos, o primeiro a se destacar na vinicultura no Brasil. O inventário do fidalgo, preservado no Convento do Carmo, em Santos, não deixa dúvidas quanto à chegada das primeiras mudas de uva ao Brasil. Se Portugal obteve sucesso no cultivo de culturas como banana, cítricos, cana-de-açúcar e uvas em suas ilhas oceânicas (Madeira e Açores), a esperança era que isso também ocorresse no Brasil.
Vinho paulistano
Porém, não foi na região da atual Baixada Santista que a viticultura ganhou maior escala. Relatos indicam que Brás Cubas subiu a Serra do Mar e estabeleceu acampamento próximo ao um riacho, chamado Tatu-apé, não tão distante de um rio que chamaram de Rio Grande (o atual Tietê). Ali, iniciaram a criação de gado e porcos e algumas culturas, principalmente a de cana, além do plantio de videiras para fabricação de vinho.
Assim, teria sido nos Campos de Piratininga, na atual cidade de São Paulo, que a viticultura começou a dar seus primeiros passos concretos no Brasil. Favorecidas pela amplitude térmica e altitude, as vinhas de Vitis vinifera começaram a se desenvolver. Os relatos indicam que o primeiro vinho teria sido elaborado entre 1550 e 1560, onde atualmente fica o bairro paulistano do Tatuapé.
Variedades plantadas
O inventário de Brás Cubas traz também outros detalhes importantes. Segundo a documentação, Brás Cubas, originário do Porto, teria trazido videiras e consumido no Brasil vinhos produzidos aqui de diversas variedades. Teriam sido utilizadas as uvas Malvasia vindas do Douro, Verdelho da Ilha da Madeira e Galego, do Alentejo, para a elaboração de vinhos brancos. Já para a produção de vinhos tintos, a variedade escolhida teria sido a Bastardo, nome dado pelos portugueses à Trousseau.
Documentos indicam que a viticultura colonial de São Paulo era relativamente bem desenvolvida. No entanto, era uma atividade complementar e de suporte para consumo local. Isso a faz muito diferente da cana de açúcar, que se tonou nas décadas seguintes um importante item de exportação para a Metrópole.
Embora tenha começado em São Paulo, existem documentos que mostram que videiras também teriam sido introduzidas nas ocupações portuguesas na costa do Nordeste, como Pernambuco e Bahia. No entanto, parece incontestável que o berço da vinicultura brasileira tenha sido em São Paulo. Até por conta das condições climáticas, que não favorecem o cultivo de uvas para elaboração de vinhos, por vários séculos a viticultura nunca ganhou importância no Nordeste.
Fontes: Origens do vinhedo paulista, J.S. Inglês de Souza; A vitivinicultura no estado de São Paulo (1880-1950), Lia Alejandra Borcosque Romero; Demandas e Perspectivas do Cultivo de Vitis Vinifera para Produção de Vinho no Estado de São Paulo, Leonardo Sgargeta Ustulin
Imagem: Montagem a partir da obra de Benedito Calixto – Brás Cubas, 1903, acervo da Fundação Pinacoteca Benedicto Calixto, Santos, SP, Brasil.
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