Aligoté da safra 2020: um passeio pela Borgonha

A safra 2020 foi quente e precoce na Borgonha, gerando, de forma geral, vinhos de alta gama. Para algumas variedades, porém, o resultado foi ainda melhor. Foi o caso da Aligoté, que, por conta do seu plantio em terrenos menos favorecidos e alto teor de acidez, acabou se destacando em uma safra “menos clássica”. Foi fascinante provar nove diferentes amostras desta variedade, compreendendo diversas expressões do terroir da Borgonha.     

Bourgogne Aligoté Maison de la Chapelle 2020, 12,5%

Elaborado a partir de vinhas de 30 a 35 anos plantadas em solo argilo-calcário com depósitos Kimmeridgianos, provenientes de duas diferentes parcelas em Chitry, na região de Yonne. Na vinificação, prensa direta, com fermentação e estágio em aço inoxidável. Um vinho mais simples e linear, que mostrou a tipicidade de sua região de origem. No visual, mostrou coloração amarelo palha e halo verdeal, com um olfativo que remeteu a Petit Chablis. Destaque para os aromas cítricos (sorbet de limão), com notas de cal e frutas brancas, com palato marcado por alta acidez e muito frescor. Um Aligoté cítrico e leve, sem grande profundidade e discreto amargor no final de boca. Chega ao Brasil pela Wines4U, R$ 259.

Bourgogne Aligoté Mongeard-Mugneret 2020, 13%

Outro Aligoté elaborado somente em inox, a partir de vinhas de 25 a 30 anos, provenientes de várias parcelas na área de Vosne-Romanée. Cultivo sustentável, com uso de leveduras selecionadas na fermentação. Mostrou um estilo mais redutivo, com coloração amarelo claro e olfativo trazendo notas cítricas, frutas brancas e pólvora. Na boca, alta acidez, corpo médio, com mais estrutura e amplitude que o anterior, com leve nota amendoada no retrogosto. Tanyno, R$ 215.

Bourgogne Aligoté Domaine Hudelot-Noëllat 2020, 13%

Vinhedo de apenas 0,26 hectare e exposição sul, com vinhas velhas de cerca de 80 anos na área de Chambolle-Musigny. Colheita manual, fermentação com leveduras selecionadas em inox, onde o vinho ficou 24 meses. Colagem com bentonita e leve filtração antes do engarrafamento. Um vinho que mostrou textura mais presente e salinidade mais destacada. Coloração amarelo claro, com nariz evidenciando aromas de lima e fruta branca. Na boca, alta acidez, corpo médio e mais matiére, com bom equilíbrio e salinidade. Clarets, R$ 269.

Bourgogne Aligoté Thierry et Pascale Matrot 2020, 12,5%

Vinhas de idade média de 20 anos, de cultivo sustentável e provenientes da área de Meursault. Prensagem com cachos inteiros, decantação de 24 horas e débourbage, com fermentação usando leveduras indígenas em inox, onde o vinho ficou oito meses com suas lias. O vinho mais em estilo redutivo do painel, com muita textura e um pouco menos de tensão. Coloração amarelo claro, com nariz marcado por aromas de limão cravo, cal e pedra molhada. Na boca, o tempo em lias trouxe textura e salinidade, com alta acidez, certa rusticidade e discreto amargor no final. Clarets, R$ 200.

Bourgogne Aligoté Mitancherie Domaine de Cassiopée 2020, 12,5%

Vinhedo de apenas 0,5 hectare, com videiras de 30 anos de idade e cultivo orgânico, localizado em área com fortes ventos, logo acima de Cheilly-lés Maranges. Fermentação natural em barris usados, seguidos por nove meses em barricas, filtração e leve adição de sulfitos antes do engarrafamento. Delicioso e complexo, um dos destaques do painel. Coloração amarelo palha, com olfativo complexo e sedutor. Ênfase nos aromas de tamarindo, graviola e pólvora, com notas de erva seca e leve lácteo. No palato, alta acidez, equilíbrio e finesse, um Aligoté fino e de muita tensão, com salinidade. Clarets, R$ 300.

Bourgogne Aligoté Paul Pillot 2020, 12,5%

Vinho de entrada da Domaine Paul Pillot, elaborado a partir de cerca de 1,5 hectare de vinhedos de cultivo orgânico não certificado, distribuído entre Chassagne-Montrachet e algumas parcelas na Côte Chalonnaise. Na vinificação, após colheita manual, uso de prensa pneumática, com leve débourbage. A fermentação, com uso exclusivo de leveduras indígenas, ocorreu em barris de carvalho francês neutros, onde o vinho passou 12 meses.  Um Aligoté de boa profundidade e equilíbrio. Coloração amarelo claro, com boa complexidade aromática: frutas brancas, cereal, manteiga, toque de turfa, cítrico e maçã verde. No palato, um vinho fino e equilibrado, com alta acidez, notas de frutas brancas e corpo médio, trazendo um final salino. Talvez tenha faltado um pouco de energia para se juntar aos outros vinhos de maior destaque do painel. Clarets, R$ 260.

Bourgogne Aligoté Domaine Ramonet 2020, 12,5%

Jean-Claude Ramonet produz dois Aligotés, o outro sendo um Bouzeron elaborado a partir de uvas adquiridas de terceiros. Este teve como origem vinhas velhas (plantadas em 1956 e 1963) de cultivo orgânico não certificado. Fermentação com leveduras indígenas em tanques, com posterior estágio de 12 meses com suas lias em barricas, das quais 10% a 15% de carvalho novo. Um dos destaques (senão o principal) do painel, um vinho preciso, elegante e profundo, sem abrir mão do frescor. Coloração amarelo palha com reflexo verdeal e olfativo em estilo redutivo, marcado por aromas cítricos (sorbet de limão), com notas de caju, pólvora e discreto toque de ervas verdes. O caráter redutivo se fez ainda mais presente no palato, com alta acidez, untuosidade, corpo médio e muito equilíbrio. Mineralidade líquida. Clarets, R$ 400.

Bourgogne Aligoté Domaine Paul Pernot 2020, 12,5%

Uvas da área de Puligny-Montrachet (próximas a Corpeau) e cultivo sustentável, com vinhas velhas de pelo menos 80 anos. Prensagem com cachos inteiros, seguida por débourbage e fermentação com leveduras indígenas em barris de carvalho. O vinho ficou em barricas por 11 meses, sendo engarrafado após leve filtração e pequena adição de sulfitos. Fechamento Diam.  Um vinho bastante linear e vertical, com discreta rusticidade. Visual amarelo palha com reflexos verdeais, com olfativo fresco, marcado por notas cítricas, de erva verde e frutas brancas (pera). Leve e com alta acidez, chega pela Uva Vinhos, R$ 250.

Bourgogne Aligoté Domaine Cottenceau 2020, 13,5%

Discípulo de Vincent Dureuil, Maxime Cottenceau lançou seus primeiros vinhos em 2018, com vinhedos de cultivo orgânico e uso de vinhas velhas (plantadas em 1945) localizadas em Buxy, na Côte Chalonnaise. Fermentação em barris, com estágio de 18 meses em barricas, das quais 30% novas. Assim como os vinhos de seu mentor, merece ser degustado em diferentes momentos. Logo após aberto, trouxe um nariz explosivo, com frutas brancas, caju, madeira aparente, em um estilo notadamente redutivo. Na boca, mostrou alta acidez, corpo médio a alto, um vinho intenso e untuoso, com mais potência que tensão. No dia seguinte, porém, um cenário distinto: o olfativo tendeu para notas de benzina e caju, com a madeira perdendo impacto também no palato. Seguiu untuoso, mas ganhou verticalidade e salinidade, um Aligoté mais carnudo e que merece mais tempo de garrafa. Clarets, R$ 240.

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