Alta gama no Chile: uma vertical com os vinhos de Stefano Gandolini

Stefano Gandolini é um dos nomes que vem ganhando destaque especial na vinicultura chilena. Enólogo experiente, com atividades em diversas vinícolas no Chile por mais de dez anos e com formação enológica na Itália e na França, plantou em 2001 as primeiras videiras de seu projeto pessoal. Surgia a Gandolini Wines, com foco em apenas um vinho: Gandolini 3 Marias.

Este vinho, da safra 2015, foi um dos principais destaques de uma degustação às cegas dos chamados ícone chilenos, como Almaviva, Chadwick, Clos Apalta, Don Melchor, Seña, Montes Taita e Vik. Dando sequência a esta experiência, surgiu a oportunidade de organizar uma degustação com sete safras: 2011, 2012, 2013, 2014, 2015, 2017 e 2018, além de uma prova à parte da safra recém engarrafada, 2019.

O vinho

O Gandolini 3 Marias é um Cabernet Sauvignon, elaborado com uvas de cultivo sustentável provenientes de cerca de 70 hectares de vinhedos plantados em solos aluviais, na região de Maipo Andes, nas proximidades de Santiago. Usando apenas vinhas de seleção massal, Stefano faz um rigoroso controle de rendimentos, resultando em uma produção por planta cerca de ¼ da média chilena.

Após colheita manual, as uvas foram 100% desengaçadas e, após criteriosa seleção passaram por maceração pré-fermentativa a frio de três semanas. A fermentação, usando leveduras indígenas com temperaturas controladas, foi também longa, podendo levar mais de dois meses. O vinho foi mantido em barricas de carvalho francês novo, por um mínimo de 30 meses. Abaixo, uma breve descrição dos vinhos degustados.

Os vinhos degustados

2011

Teor alcóolico: 14%.

Ano relativamente frio, colheita em abril, longa.

Um vinho elegante, equilibrado, profundo e com muita estrutura. Estilo bordalês, pronto para o consumo (mas com longa estrada à frente), com olfativo marcado por frutas vermelhas e negras, com notas tostadas, de menta, cedro, erva seca, café e balsâmico. No gustativo, trouxe alta acidez, taninos presentes, mas finos, corpo médio e muitas camadas. Um de meus vinhos favoritos da noite.

2012

Teor alcóolico: 14,5%.

Ano muito quente, colheita em março.

Um vinho com presença mais intensa de frutas negras maduras tanto no olfativo como gustativo. No olfativo trouxe fruta mais madura, negra, cereja negra, eucalipto, enquanto o palato mostrou menos acidez, taninos mais presentes e mais secos que o anterior. Mais encorpado e menos elegante, mas amplo e muito longo.

2013

Teor alcóolico: 14,5%.

Safra relativamente fresca, com colheita em abril.

Um vinho com um olfativo mais discreto e delicado, enquanto no gustativo se mostrou mais intenso e menos profundo. Olfativo marcado por frutas vermelhas, grafite, ervas verdes, com o palato trazendo boa acidez e textura, um vinho mais “quente” (senti um toque de álcool), com taninos mais intensos e menos profundo que o 2011.

2014

Teor alcóolico: 14,7%.

Ano mais quente, mas evento frio em fevereiro, colheita no fim de março e começo de abril.

Um vinho que chamou a atenção pela qualidade da fruta e sensação de boca, com mais acidez e tensão. No olfativo se mostrou mais primário, com fruta vermelha intensa e leve nota de cedro, com um gustativo de alta acidez, corpo médio, taninos finos. Um vinho crocante e com ótima tensão, ainda não atingiu sua janela ideal, mas mostrou ótimo potencial.

2015

Teor alcóolico: 14,8%.

Safra mais quente que 2014, porém menos que 2012.

Um vinho com amplitude, frescor e fruta madura, em parte refletindo as condições da safra. No olfativo, mostrou aromas de frutas mais maduras, acompanhadas por notas de especiarias, tostado e couro. Na boca, trouxe boa acidez, taninos presentes, amplo, maior intensidade, mas com frescor e muita textura. Apesar da safra mais quente, trouxe um palato equilibrado e risco, já muito agradável, porém com boas perspectivas de evolução

2017

Teor alcóolico: 14,9%.

Ano quente e seco.

Por conta de chuvas intensas pouco antes da colheita, Gandolini optou por não lançar vinhos na safra 2016. E, no ano seguinte, as condições climáticas também foram desfavoráveis, resultando em uma queda de cerca de 40% na produção. Mais do que isso, o calor e seca afetaram também o perfil de vinho, que se mostrou com maior presença de frutas negras maduras (amora), com um gustativo de menor acidez e taninos mais doces. Um vinho mais “gordo”, sem a tensão das outras safras, foi o que menos me agradou no painel.

2018

Teor alcóolico: 15%.

Safra mais fresca.

Se 2016 e 2017 foram safras complicadas, 2018 reverteu completamente o quadro. E isso ficou claro no vinho desta colheita, que, juntamente com o 2011, foi o meu favorito do painel. Um vinho que, embora ainda longe de seu pico e com longa estrada à frente, já agrada bastante. No olfativo, se mostrou mais primário, com aromas florais e de frutas vermelhas frescas, com discretas notas de madeira. Já no palato, um Cabernet Sauvignon de acidez elevada, taninos finos e presentes e corpo médio, já com muita tensão, amplitude e profundidade.

2019

Teor alcóolico: 15%.

Ano fresco.

Embora estivesse fora do painel, pois seu engarrafamento foi recente, Gandolini serviu também o vinho da safra 2019. Embora ainda “se encontrando” na garrafa, parece mostrar excelente potencial. A ser provado novamente.

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