Anjou e seus rosés: conheça a denominação de origem de maior produção no Loire e outras mais

A região de Anjou-Saumur abriga alguns dos melhores terroirs para vinhos brancos no Loire, com destaque para as áreas dedicadas a vinhos secos e doces. Entre elas, não há como deixar de incluir Quarts de Chaume Grand Cru, Coteaux du Layon Premier Cru Chaume e Savennières (incluindo Coulée de Serrant e Roche aux Moines). No entanto, em termos de quantidade produzida, quem domina a região são os vinhos rosés.

Quase 60% dos vinhos tranquilos produzidos na região são rosés, proporção que cai para cerca de 44% quando são incluídos também os espumantes. O grande destaque de produção entre os rosés fica com a Cabernet d’Anjou AOC. Esta é a denominação de origem de maior produção de todo o Vale do Loire, incluindo brancos, tintos e rosés.

Além desta denominação, também existe uma segunda apelação exclusiva de rosés para a região de Anjou, a Rosé d’Anjou AOC. Por fim, há também rosés elaborados na área, que fazem parte na denominação de origem Rosé de Loire AOC. Além dos vinhedos em Anjou, ela conta com áreas na vizinha região da Touraine.

As diversas denominações de origem em Anjou-Saumur

História relativamente recente

Mas esta condição é relativamente recente, sobretudo em uma área com séculos de tradição na vinicultura. Até meados do século XIX, antes da chegada da filoxera à região, as uvas brancas dominavam a grande maioria dos vinhedos. Foi somente após a devastação da década de 1880 que vinhedos de Cabernet Franc e Cabernet Sauvignon ganharam maior espaço, com prejuízo principalmente para a Chenin Blanc.

O principal boom de plantação de uvas tintas em Anjou ocorreu a partir da década de 1920, alimentado pela crescente demanda pelos vinhos rosés. Rapidamente os vinhos rosés começaram a ganhar mais espaço nas taças dos franceses, em paralelo com a criação de denominações específicas para estes vinhos.   

Rosé d’Anjou AOC

A primeira denominação de origem exclusiva para rosés no Vale do Loire foi a Rosé d’Anjou AOC, aprovada em 1957. Distribuída por 151 communes, são cerca de 1.900 hectares de vinhedos, boa parte dos quais na margem esquerda do Loire. Conta atualmente com aproximadamente 500 vinicultores e uma produção na faixa de 100 mil hectolitros por ano (algo como 15 milhões de garrafas). Isso equivale a cerca de 14% dos vinhos tranquilos de Anjou.

Sete uvas são permitidas na elaboração destes vinhos: Grolleau Noir (considerada a variedade primária), Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Côt (como a Malbec é chamada na região), Grolleau Gris, Gamay e Pineau d’Aunis. O rendimento máximo dos vinhedos é alto, na faixa de 65 hectolitros por hectare.

Seus vinhos são semi-secos, com uma concentração de açúcar residual mínima de 7 gramas por litro (na prática a média fica entre 15 e 20 g/l) e que trazem aromas e sabores florais e de frutas vermelhas. Em geral, são consumidos gelados e de forma descompromissada, ficando entre os campeões de vendas em bistrôs e supermercados na primavera e verão.

Mapa das AOCs Cabernet d’Anjou e Rosé d’Anjou

Cabernet d’Anjou AOC

Aprovada em 1964, esta denominação de origem é, de longe, a de maior produção em Anjou, com uma parcela de quase 45% de todos os vinhos da região. Em 2019, a produção superou 307 mil hectolitros, o equivalente a mais de 40 milhões de garrafas. Como o nome indica, somente há a permissão para duas variedades na elaboração destes vinhos. A Cabernet Franc é a variedade primária, com uma fatia próxima a 95%, seguida pela Cabernet Sauvignon. Com mais de 6.300 hectares plantados, sua área regulada coincide com aquela da Rosé d’Anjou AOC.

Além do blend de uvas, a Cabernet d’Anjou AOC tem mais algumas diferenças em relação à denominação Rosé d’Anjou. Os rendimentos máximos são menores (60 hl/ha) e a concentração de açúcar residual mínima é de 10 gramas por litro (na prática a maioria fica em torno de 30 g/l). Assim como no caso da Rosé d’Anjou AOC, parte significativa da produção é distribuída por négociants.

São rosés semi-secos, com aromas mais intensos de morangos e pêssegos, e acidez compensando seu maior teor de açúcar. Em sua maioria, sua elaboração é através do método de prensa direta (embora saignée seja permitida). Geralmente mostram coloração rosada, não tão distante da tradicional “casca de cebola”, que marca o visual dos rosés da Côtes de Provence. Esta, aliás, é a única denominação de origem rosé na França com produção superior à Cabernet d’Anjou AOC.

Rosé de Loire AOC

Ao contrário das demais, não é uma denominação exclusiva da região de Anjou-Saumur, pois inclui áreas também na Touraine. No total, são quase 300 vilarejos, porém com uma área plantada relativamente pequena. São aproximadamente 900 hectares, dos quais cerca de 500 hectares na região de Touraine. Em 2019, a produção superou 46 mil hectolitros, mais de 5 milhões de garrafas. A aprovação desta denominação ocorreu em 1974 e o rendimento máximo dos vinhedos é de 60 hl/ha.

As uvas permitidas são próximas daquelas usadas na Rosé d’Anjou AOC, com duas exceções. A Côt não é permitida, abrindo espaço para o uso da Pinot Noir. A principal diferença, porém, fica no estilo dos vinhos. Com uma concentração máxima de três gramas por litro, os Rosé de Loire são vinhos secos, muito refrescantes e de consumo rápido.

Mapa da Rosé de Loire AOC

Principais produtores

Uma parte substancial dos vinhos rosés da região de Anjou é elaborada de forma industrial, com colheita mecanizada, alta intervenção na adega e participação ativa de négociants. Na sua maioria, são vinhos mais simples e fáceis de beber, com forte distribuição através de supermercados e restauração, sobretudo cafés e bistrôs. No entanto, há também vinhos de produtores independentes, com foco maior na qualidade que na quantidade.

Produtores como Catherine & Pierre Breton, Domaine de Flines, Domaine des Hautes Ouches, Domaine de la Petite Roche, Domaine Ogereau, Château Pierre-Bis, Domaine de la Bergerie, Domaine Cady, Château la Varière, Domaine de Montgilet e Domaine de Deux Vallées, entre outros, produzem vinhos rosés interessantes nesta região. Alguns deles, porém, optaram por deixar as denominações de origem, preferindo engarrafar os vinhos como Vin de France.

Fontes: Loire Master Level Study Manual, Wine Scholar Guild; Vins du Val de Loire; The Wine Doctor; Cahier des Charges de L’appellation d’origine Rose de Loire; Cahier des Charges des appellation d’origine Cabernet d’Anjou et Rosé d’Anjou; Loire Valley Wine Economic Report, Interloire

Imagem: Interloire

Mapas: Vins du Val de Loire; Fédération Viticole Anjou-Saumur

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